Capítulo 7 - Estanque

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A leveza do canto dos pássaros adentrava as janelas e apaziguava o conflito interno de Louis, trazia o fluxo dos ventos para dentro de seus pensamentos e apagava o peso que sua consciência impôs sobre seu corpo durante toda a noite. Ele se debruçava sobre a janela em total entrega, sua cabeça recostava em seus braços e seu semblante era contemplativo. Leves raios de sol aqueciam o que tocavam, seu coração parecia ser a única parte fria de seu corpo.

As árvores se movem levemente como se acenassem para os pássaros alçando voo. O céu semi-nublado estava carregado de diversas nuvens escuras mesmo que raios solares as rasgassem em clara esperança utópica. Todo resquício de natureza que emoldurava o apartamento parecia se comunicar com Louis hoje, talvez fosse o tão esperado hasteamento da bandeira branca de paz que ele tanto esperava que o universo desse a ele.

A imagem mental da bandeira branca logo ganhou uma mancha vívida de vermelho sangue ao que Liam adentra seu campo de visão. O homem adentrava o condomínio como uma tropa avança sobre o território inimigo, passos longos e abruptos como quem foi preparado para encarar a morte. O corpo de Louis retoma a tensão que antes o controlava, sua posição alarmada só evidência o quão longe seus pensamentos foram, criando mil e uma realidades paralelas do que poderia ter acontecido no hospital.

Zayn morto era a única imagem que preenchia sua mente.

Sua respiração ganha ritmo mais violento e seu impulso é ir falar com ele, perguntar como seu amigo estava. Para isso, ele teria que ir de novo à porta ao lado e encontrar Harry, de novo. Um peso se instala sobre seu peito - olhar nos olhos do outro sem sentir uma intensa catarse que o arrastava direto para suas próprias questões era praticamente impossível.

Barulho de chaves preenchem o hall segundos depois, encobrindo Louis com uma urgência sufocante: se perguntasse a Liam antes que ele entrasse no apartamento, deteria ele ali por alguns minutos e tudo seria mais simples. Seu ímpeto foi de correr até a porta e abri-la rapidamente.

Liam o encara com as sobrancelhas levemente franzidas, quase interrogando-o com o olhar. Louis não havia pensado em como chegar ao assunto, só seguiu o primeiro estímulo que o preenchera e estava ali, estático.

— Como está Zayn? - em claro desconforto ele encaminha o encontro da forma mais direta o possível, num tom seco e quase impessoal, sem pensar muito.

Liam volta-se à fechadura, tentando encaixar a chave no buraco da mesma forma como tentava alinhar sua paciência à sua essência. Nenhum dos encaixes foram possíveis.

- Boa tarde. - o corte rápido situou o de olhos azuis sobre o quão interesseira sua atitude tinha soado - Porquê você não vai até lá e vê por si mesmo? - Com um sorriso de canto sarcástico estampado em seu rosto em uma expressão de completo desprezo ao outro, sua atenção se volta à porta novamente.

A pedância das palavras perfuraram o orgulho de Louis. Novamente em um rápido ímpeto, ele se aproxima do bombeiro com o corpo já tensionado em raiva, projetado para frente.

- Não entendi a sua. Você concordou em ficar por la com ele essa noite, tá falando nesse tom porquê?

Liam arqueia as sobrancelhas e ri levemente do comentário.

- Isso foi antes de eu saber em que merda eu estava me metendo.

Antes que Louis se aproximasse mais ou até mesmo tocasse no outro em exaspero, o bombeiro encara o menor com intensidade de perfura-lo.

- Seu amigo usou cocaína no hospital com menos de 24h de uma overdose.

Seu tom era enfático, procurando nos olhos de Louis uma reação perplexa, até mesmo triste ou raivosa, mas sua íris não mudou minimamente de aspecto. Ele apenas se afasta e respira profundamente, desviando o olhar. Liam não acreditava no que via.

- Você acha natural? Você ainda vai tentar encobrir algo imensamente preocupante como seu amigo ameaçando a própria vida? Já não basta o incidente no Cable?

Silêncio.

Louis encarava o chão em carranca completamente impenetrável, fitando as lajotas como se pudesse queimar o piso.

— Irmão, vocês são dois loucos. - ele direciona-se à porta novamente, totalmente estarrecido com a indiferença que aquela informação tinha causado no outro. Ele não conseguia se conformar com a negligência em relação à saúde mental e física que aqueles dois tinham. Era dolorido estar por perto deles.

Antes que o maior pudesse virar a chave na fechadura, sente um grande impacto na lateral direita de sua mandíbula, fazendo queimar toda a lateral de seu rosto e seu dentes se baterem dolorosamente. O soco atingira seu rosto em velocidade impressionante, com um peso que ele definitivamente não esperava que o de olhos azuis tivesse. A raiva veio alguns segundos depois, quando a dor realmente preencheu todo seu crânio e o fez espremer os olhos em uma careta. Sua mão vai até o próprio rosto em reflexo nervoso e ao abrir os olhos, pela intensão, seu olhar poderia ter matado Louis.

Seu ímpeto foi de avançar contra o corpo do outro e esfacelar sua cara em diversos socos, mas ele foi impedido bruscamente. Harry, em expressão desesperada, segurava Liam com o corpo pendendo para dentro do apartamento em tentativa de impedir a força do outro de voar para cima do menor.

Louis olha de relance para Harry involuntariamente em susto e se depara com os olhos verdes que ele odiava encarar. Seu corpo se move sozinho até o próprio apartamento com avidez de estar fora de seu campo de visão. Sua respiração ganha maior peso novamente e sua mente explode em pensamentos reclusivos.

Ele tinha transformado seus vizinhos em inimigos.

Parecia essa ser sua especialidade nas relações interpessoais.

Harry termina de puxar Liam para dentro antes que ele pudesse ir chutar e arrombar a porta do lado e fecha a própria porta rapidamente.

- Você tá maluco? - seu semblante era complementarmente estarrecido.

Liam tira as coisas do bolso nervosamente, extremamente alterado com a dor e a raiva que ainda o preenchiam.

- É a segunda vez que você me faz a exata mesma pergunta dentro de uma semana. - ele respira fundo já imaginando a água quente de um banho muito longo relaxando seus músculos e levando com ela seus maus pensamentos - Talvez essa seja uma possibilidade.

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