Pergaminhos do saber pt 1

24 6 42
                                    

   “Veja bem, havia acontecido tanta coisa esquisita que Alice tinha começado a pensar que raríssimas coisas eram impossíveis”- Alice no País das Maravilhas.

Faço uma careta quando sinto a criada (cujo nome descobri se chamar Ayana) apertar os nós de uma peça esquisita da roupa. Por algum motivo desconhecido, eu ainda conseguia respirar mesmo que Ayana se esforçasse em tirar meu ar.

  Quando a tortura finalmente acabou pude me olhar no espelho apenas para nem me reconhecer. Eu usava um vestido de manga curta vermelho estilo godê que ia até as canelas, deixando apenas minhas sandálias baixas feitas de veludo dourado amostra. O vestido era adornado com suaves traços que imitavam o vento em preto e o laço na cintura era da mesma cor, com hieróglifos em dourado. O decote era em U e decorado com uma renda negra. Meus cabelos escuros estavam presos em uma especie de rabo de cavalo onde só uma parte ficava pendurada e a outra solta, elas fizeram tranças nos meus cachos e colocaram uns penduricalhos dourados como enfeite.

  Caracaaa, mas eu tô uma gata mesmo! Rodopiei na frente do espelho, me sentindo a tal!

— Claro que eu adoraria dançar com o senhor esta noite. Oh, me desculpe! Estou muito ocupada neste momento, volte outra hora, sim?- atuei no espelho, dando uma gargalhada no final.

  Você pretende se juntar ao teatro itinerante?- a voz fez piadinha.

  Ha ha ha, muito engraçado você.

  Sua felicidade é a minha, cara amiga.

  Sabe, você deveria me dizer o seu nome para eu pelo menos ter alguma dignidade de te xingar corretamente.

  Ele ficou em silêncio por uns segundos. Achei que não me responderia até que se manifestou novamente:

  Vou pensar nesse seu caso.

  Sorri.

×|×
×|×|×

— Então, qual é o motivo da visita das duas? Tenho certeza que não vieram aqui pelo nosso vinho.- Fallon sorriu. Seus cabelos ruivos estavam presos em um penteado ladino, mas deixando sua franja que parecia ter sido lambida por um boi. Prendi a risada.

— Creio que não, Majestade. Apesar de ter sido um bom investimento de tempo, seu vinho é adorável.- sorri depois de bebericar um pouco.

  Puxa saco.- a voz intrometida falou.

  Quieto.

— Ora, querida, então qual é o motivo da honra de sua visita?- comi um pouco da caçarola de cordeiro e depois falei para a rainha, mas olhando Ryker diretamente nos seus olhos assustados:

— Vim aqui por causa de algo que seu filho fez.- Fallon lançou um olhar afiado para Ryker, que abaixou o olhar.

— E... O que Ryker lhe causou, querida?- sua voz soou tensa.

  Vi Ryker tremer um pouco do seu lado da mesa, me lembrando do jeito que ele saiu do escritório de Fallon antes do jantar. Lembro de ouvi-la desdenhar dele e de vê-lo apertar as mãos em um tique nervoso, e depois de sair da sala tremendo feito um daqueles cãozinhos e limpando as lágrimas. Quando ele me viu plantada no corredor observando a situação toda, me lançou um sorriso sarcástico e disse:

"— Para alguém que vai me atirar aos leões nesta noite, você está muito bonita hoje, Selene."- se curvou e depois foi embora, me deixando com o coração na mão.

   Foram suas palavras que me fizeram dizer:

— Seu filho foi um herói! Ele me salvou de ter sido morta por um ladrão. Eu só vim até aqui para elogiar a boa conduta do príncipe e agradecer por ter salvado minha vida. Vossa Majestade deve sentir muito orgulho de seu filho.- a rainha piscou duas vezes e depois me lançou um sorriso preguiçoso.

O Chamado do LuarOnde histórias criam vida. Descubra agora