A Base

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     “- Quando eu uso uma palavra - disse Humpty Dumpty num tom escarninho - ela significa exatamente aquilo que eu quero que signifique ... nem mais nem menos.
- A questão - ponderou Alice – é saber se o senhor pode fazer as palavras dizerem coisas diferentes.
- A questão - replicou Humpty Dumpty – é saber quem é que manda. É só isso.”- Alice no País das Maravilhas.

Acordei 1 hora mais cedo que o comum, muito antes da hora de Ayana me acordar, como ela geralmente faz todo o dia. Escrevi um bilhete simples, explicando que acordei mais cedo e que ela teria o dia inteiro sem se preocupar comigo. Quando o bilhete me agradou, sorri e coloquei em cima do travesseiro fofo feito de penas de pavão arco-íris.

  Uma das coisas que eu acho bem desnecessário é a quantidade de extravagância que esse quarto tem. Não sei se é apenas o meu, ou se o restante dos outros aposentos do palácio são assim, mas é meio desconcertante. O quarto era enorme, tinha as paredes pintadas de bege e pinturas feéricas estavam por toda parte em retratos esquisitos e meio confusos. O quarto possuia cortinas feitas de seda fina na cor salmão e um carpete que era tão aconchegante quanto a cama. Minha cama era de maciez inquestionável, e com o Edredom feito de algodão tudo parecia me acolher e me implorar pra tirar uma soneca de 4 horas. Não é uma reclamação ao quarto, já que Fallon foi tão gentil ao me proporcionar esse lugar. Eu apenas não estou acostumada com tanta nobreza.

  Visto uma camisola branca simples com detalhes em dourado na manga e no busto, e calço chinelos verdes confortáveis de verão. Me arrependo no segundo depois de sair do quarto, sentindo o ar gelado de início da manhã bater nas minhas pernas. Ah, mas não vai ser agora que eu vou me trocar nem a pau, essa roupa está muito bonitinha pra eu simplesmente trocar por causa de frio.

  Então eu fui correndo até a biblioteca no terceiro andar, na esperança dos livros antigos me aquecerem com sua sabedoria anciã. O caminho até lá foi silencioso e aconchegante, já que tinha pequenos raios solares despontando do horizonte e colorindo o céu em cores vibrantes de rosa e violeta. Engraçado, no mundo normal eu sempre acordava lá pras 4 da manhã por causa dos treinos de esgrima com meu pai (era o único horário onde ele tinha tempo), mas nunca me dei o trabalho de admirar o amanhecer. Na verdade, acho que eu estava tão preocupada com minha própria frustração que não conseguia me sentir bem com coisas simples do dia a dia.

  Mas apesar de tudo, eu não consigo me arrepender de ter ido embora daquele jeito. Okay, talvez eu me arrependa de não ter pelo menos me despedido do meu irmão, e de não ter comido pelo menos o bolo. Será que Stephan está preocupado com meu sumiço? Ou será que não? Será que ele sabia de tudo isso sobre mim? Eu nunca vi ele tomar chá de hibisco, e ele é claramente filho do meu pai (os olhos castanhos e a pele negra não escondem), então ele é neto do Eir também, certo?

  Afastei esses pensamentos, se eu começar com essas perguntas eu vou acabar entrando em um looping infinito e duvido muito de que encontraria as respostas.

  Melhor eu atualmente me concentrar nos meus objetivos.

×|×
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  Quando entrei na biblioteca, senti o ar mais frio e quis voltar, mas me surpreendi o ver Lux sentada em uma poltrona enquanto olhava para o amanhecer pela janela, então fiquei. Ela vinha sempre aqui a essa hora? Depois de vir para Floresta Gritante eu passei a acordar tarde, por causa da cama, então não faço ideia. Quando ela me vê, abre um sorriso grande e indica para eu sentar ao seu lado. Sorrio em resposta e me junto a minha amiga.

  Me sentei na poltrona amarela confortável, e sinto o cheiro delicado e açucarado dos bolinhos sobre a mesa. Havia um bule de chá fumegando e duas xícaras, uma cheia e outra vazia. Lux estava com seus cabelos platinados soltos naquela manhã, usava uma túnica azul de algodão e parecia definir a própria beleza. Como sempre.

O Chamado do LuarOnde histórias criam vida. Descubra agora