Filho de um erro

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   “Já decifrou o enigma?' indagou o Chapeleiro
'Não, desisto', Alice respondeu. 'Qual é a resposta?'
'Não tenho a menor ideia', disse o Chapeleiro.
'Nem eu', disse a Lebre de Março”- Alice no País das Maravilhas.

Uma semana se passou e eu quis matar a princesa do Reino das Neves. Lux me convenceu de que seria melhor esperar alguns dias até que pudéssemos seguir viagem até o Reino das Quedas Brilhantes, onde ela me garantiu que o bibliotecário real conseguiria dar algumas respostas a maioria das minhas perguntas. Tivemos que esperar todo esse tempo já que com o tornozelo torcido eu não tinha como ir muito longe e eu - infelizmente - tinha que admitir que ela estava certa.

  Eu queria matar ela pelo simples motivo que ela não me pertimitia sequer ajudar ela a caçar (não que eu tenha habilidade nesse ramo, na verdade eu quase atirei em meu irmão com um arco iniciante quando tentei dar uma de Katniss Everdeen nas Mini Olimpíadas no colegial.) alguma coisa.

  Então passei os dias que se seguiam testando receitas novas e lendo o livro sobre Maribian. Aprendi muita coisa sobre diversos seres e entendi como funciona o governo de Maribian, formado por 8 reinos: Reino das Flores, Reino das Quedas Brilhantes, Reino das Sombras, Reino das Neves, Reino dos Ecos, Reino da Floresta Gritante, Reino dos de Baixo e Reino Lunar. Eles são como estados mas sem nenhum rei de Maribian para governa-los.

  Na verdade, eu li que há centenas de anos atrás existiu um rei, mas ele incitou a guerra entre maribianos e humanos então foi destronado por colocar seu povo em perigo. Não sei como um povo com poderes além da compreensão possa sequer pensar que eles que tiveram algum risco na guerra. De repente, leio um nome que chama minha atenção, logo no instante que Lux chega no chalé, segurando uma cesta enquanto sorria. Recebo ela com um cumprimento breve.

— Ainda com o nariz afundado nesse livro?- ela coloca a cesta em cima da mesinha de centro, e tira o capuz cinza escuro que escondia seus cabelos brancos e seu rosto.

— Quem é Eir?

  A pergunta parece paralisar a princesa. Ela me olha de forma incomum, sem seu brilho implicante e levemente ameaçador. Sua reação dura por milésimos de segundos e ela forja uma atitude normal, se voltando para a cesta novamente.

— Não tinha muitos animais na floresta, então fui a uma pequena feira nos limites da floresta e do Reino das Neves. Comprei algumas coisas por lá...- ela começou.

— Lux, quem é Eir?- perguntei pela segunda vez. Ela começou a tirar varias coisas da cesta, sem nunca olhar para mim.

—  Eu trouxe alguns legumes para fazermos uma sopa, não sei qual é sua favorita então trouxe a maioria dos legumes da feira. Eu posso fazer sopa de ervilha, de batata, sopa de espinafre, sopa de...

— LUX!

  Ela suspirou e finalmente olhou para mim. Percebi que ela fechava as mãos com tanta força que os nós dos dedos ficavam brancos. Ela começou a guardar as compras e por um segundo eu pensei que ela não fosse contar, até que ela começou a falar.

— Há muito tempo atrás Maribian era governado apenas por um rei, um único líder. O nome dele era Angus, ele era conhecido pela sua grande força, pela justiça e pelas ações irrepreensíveis. Ele era casado com a rainha Hemera, filha do general, que seu pai escolheu para ele. Mas o que Angus tinha de bom rei, aparentemente tinha de lerdo, porque por mais que vários conselheiros avisarem sobre a rainha e seu melhor amigo, rei Caius do reino humano, o rei não conseguia ver a verdade de baixo do seus olhos. Até que um dia ele acordou e não viu a rainha em nenhum lugar do castelo, muito menos Caius.

  Engoli em seco, prevendo até onde a bendita rainha tinha se enfiado.

— Não demorou muito para Angus descobrir que sua amada esposa estava de tre lê lê com seu melhor amigo. Então ele esperou, aguardou o melhor momento para se vingar. 1 ano se passou nessa espera toda, e quando ele e seus soldados viram Hemera tomando banho no Lago de Cristais, o rei não pensou duas vezes antes de cravar sua espada reluzente bem no peito de sua amada enquanto ela olhava de olhos arregalados para seu marido que havia traído sem sequer sentir culpa. O corpo da rainha foi encontrado dentro de uma caverna dentro da cachoeira, juntamente com uma pedra ônix, símbolo de Maribian. O que Angus não esperava era que Caius e Hemera tivessem tido um filho, que depois da morte de sua mãe, foi criado odiando os maribianos pelo pai.

— Eir.- concluí. Ela assentiu.

— Anos se passaram e o jovem Eir descobriu ter poderes além da compreensão humana e maribiana.- espera, maribianos não tinham poderes?— Invés de usar suas habilidades para ajudar outros, Eir aproveitou para servir como ajudante pessoal de Angus e dar informações ao seu pai para que pudessem se voltar contra o rei e Maribian. Funcionou, mas Caius e Eir não imaginavam que o ataque viria de Maribian, então no início da guerra Caius foi morto por um general maribiano, o pai de Hemera. Eir se revoltou, o que era apenas raiva virou o mais profundo e puro ódio.

  Por um segundo me senti mal por Eir. Perder seus pais de forma tão brutal, deve realmente acabar com você.

— Você provavelmente já deve ter se perguntado o que é essa rachadura na nossa Lua. Bem, quando Eir encontrou o corpo de seu pai, ele soltou um rugido tão forte que um pedaço da Lua se soltou, caindo no Lago da luz lunar, onde dizem ficar no Reino Lunar.- dizem? Quis perguntar, mas preferi deixar esse assunto pra outra hora.— A partir daquele dia, Eir liderou exércitos humanos, matando todo maribiano que surgisse em sua frente, homens, mulheres, jovens, adultos e crianças. Foi uma era tenebrosa onde muitos maribianos dizem ter sido dias de pavor e preocupação por sua família, a guerra durou por 100 anos. 100 anos de medo e desesperança. Nesse meio tempo, Eir criou um ódio tão profundo e uma sede de sangue tão gigantesca por habitantes maribianos que até o próprio exército humano ficou com medo, pois quem fosse contra as idéias de Eir era morto brutalmente. Então 3 generais humanos e 4 generais maribianos se reuniram e resolveram fazer uma emboscada para capturar Eir e retirar seus poderes, para assim não machucar ninguém.

— Por que não matar logo ele?- perguntei.

— Mestiços não podem ser mortos, Selene. Apenas com uma espada especial e pela pessoa certa. Espera, onde é que eu tava mesmo?- me olhou franzindo os olhos.— Me esqueci o que eu ia falar.

— Fizeram uma emboscada para Eir.- tentei faze-la se lembrar. Ela ficou uns 5 segundos me olhando com a mesma expressão até se dar conta que era isso mesmo.

— Ah tá, enfim, descobriram que Eir vinha tentando chamar a atenção de uma jovem humana filha de fazendeiro, mas ela tinha muito medo dele. Então eles chamaram a garota e entregaram uma bebida que suga todos os poderes e causa fraqueza para ela dar pro Eir beber depois de seduzir ele. Assim aconteceu, no dia seguinte Eir nem sequer conseguia se levantar e foi preso no Reino dos de Baixo. Angus ordenou que engarrafasem os poderes de Eir em 7 frascos e deu para o generais beberem, os transformando em governadores de Maribian. Ao mesmo tempo que o próprio rei era destronizado por expor os habitantes, os próprios governadores escolheran lugares específicos para morar e se auto intitularam reis da área. E Maribian tem sido assim desde sempre.

— Por que você não quis me contar essa história, Lux?- ela suspirou e se apoiou no balcão.

— Porque se Eir for realmente seu parente, você ia ficar triste por ele ter feito coisas tão cruéis. Eu, pelo menos, ficaria muito triste.- sorri, me sentindo grata por ter encontrado uma amiga.

  Depois disso, mudamos de assunto e conversamos sobre nossa ida até o Reino das Quedas Brilhantes. E quando eu finalmente dormi naquela noite eu sonhei com um jovem de pele negra, olhos brilhantes mas todo manchado de sangue enquanto olhava para o campo de guerra coberto por corpos maribianos. Ele me apontava sua espada, não, ele me oferecia como se me convidasse a participar daquele derramamento de sangue. E eu aceitava.

O Chamado do LuarOnde histórias criam vida. Descubra agora