Faísca da fúria

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   “Se cada um cuidasse da própria vida”, disse a Duquesa num resmungo rouco, “o mundo giraria bem mais depressa.”- Alice no País das Maravilhas.

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O desconforto naquela sala de jantar era tanto que era quase palpável.

  Fallon e Ryker não estavam no reino, logo, nós (eu, Lux e Eariel) pensamos que não precisávamos nos vestir formalmente para o jantar. Nunca realmente precisamos, mas como eu não conhecia Fallon eu achei que seria melhor me vestir da melhor forma, então naquela noite usei apenas jeans e uma blusa branca de alças finas feita de algodão.

  Mas o que eu não havia pensado, era que Fallon jamais deixaria o reino sem alguém supervisionando em sua ausência, ela apenas se esqueceu de nos avisar ou não contou porque não quis. Então eu conheci Vesper, Primeiro Ministro da Corte do Norte, da pior forma possível.

  Ele estava na ponta da mesa gigantesca da Sala de Jantar. A sala era espaçosa, o suficiente para caber uma mesa enorme com capacidade de 30 cadeiras. E ela possuía 3 réplicas idênticas em cada canto. Fadas aprisionadas pendiam no teto, fazendo meu coração doer. Samambaias, vinhas e trepadeiras se faziam presentes em diversos pontos da sala, deixando cômodo com o ar confortável, ou pelo menos tentando com a presença crítica de Vesper.

  O homem era quase da minha altura, cabelos castanhos claros, olhos negros, e um corpo tão magro que, se não fosse o banquete a nossa frente, parecia que passava fome. Sua aparência mostrava uma pessoa de 30 e poucos anos, mas as orelhas pontudas me deixava com um pé atrás. Se não se pode confiar na idade aparentada dos maribianos, imagina dos feéricos. Sua aparência era inocente e convidativa, mas a personalidade não fazia muito jus a ela.

  Ele nos obrigou a subir e colocar roupas formais apenas para comer. Por isso eu me encontrava usando um vestido feito de seda dourada de mangas até o pulso, um decote em formato de quadrado de renda branca e saltos prateados. Meus cabelos estavam soltos, já que não havia tempo para arruma-los nem nada, o que gerou o descontentamento do feérico e que o fez entrar na minha lista negra.

— Conte-me mais sobre sua família, Selena. A rainha não ofereceu muitos detalhes sobre você na reunião dessa semana.- cortou a carne de cervo e comeu. Olhei para Lux que não prestava atenção já que bebia seu vinho.

  Suspirei.— Meu pai é... Enfim, ele trabalha em um dojo de karatê e treina esgrima nas horas vagas.- parei, esperando algum comentário dele. Como não veio nada eu apenas continuei.— Minha mã- soltei um pigarro. Vesper arqueou as sombrancelhas, ignorei.— Digo, minha madrasta trabalha como advogada em um escritório de advocacia no centro do condado de Largh. Meu irmão é esgrimista profissional e - fui interrompida.

— Espera, Largh?- deu uma risada que me deixou desconfortável.- Faz tempo que não ouço esse nome. Tudo isso é atravessando o Lago das sereias, não é? Então sua família é toda humana? Você é humana?- ele falou com um deboche tão grande que eu queria saber usar meu poder de fogo só pra queimar a bunda desse miserável. Abri a boca para responder, mas Eariel se meteu.

— Sim, ela é. Algum problema, Vesper?- Eariel perguntou. Quis lembra-lo de que sou mestiça, mas fiquei quieta por achar que essa informação seria pior ainda.

— Hm? Nenhum! Apenas que essa informação esclarece muita coisa a respeito dela. Quer dizer, a aparência incomum e os evidentes maus modos sobre a mesa só podem ser de origem humana. Não é culpa dela que a espécie dela seja tão repulsiva assim. Cheia de traidores nojentos, pessoas repulsivas, e soldados facilmente cortados ao meio.

Então ele se inclinou para apertar minha bochecha, de um jeito doloroso que parecia que sairia do rosto. Vi Lux arregalar os olhos e Eariel deixar os talheres caírem no prato. E no segundo depois, Vesper me dá um tapa fraco, mas forte o suficiente para eu sentir a bochecha arder.

O Chamado do LuarOnde histórias criam vida. Descubra agora