“Eu podia contar minhas aventuras... a começar desta manhã”, disse Alice, um pouco envergonhada. “Não adiantaria falar sobre ontem, porque até então eu era uma pessoa diferente.”- Alice no País das Maravilhas.
— Quem é você?- a garota praticamente gritou depois de 2 minutos de silêncio. -Foi enviada aqui pelo rei Elysian, é? Estava só esperando eu baixar a guarda para me atacar, imagino. Pois fique sabendo...- interrompi ela antes que aquela espada se aproximasse mais do meu pescoço.
- S-sinto muito se eu parecia uma espiã ou seja lá o que você acha que eu sou, mas eu sequer sei o seu nome, e não tenho motivos para te atacar.- ela me olhou atentamente, parece ter acreditado na minha explicação mas não baixou a espada.
- Por que está escondida, então?
Porque uma voz que eu escuto desde os 6 anos me mandou correr pro meio do mato para longe dos seus servos com barulho de gafanhoto. Mas apenas respondi:
- Estava fugindo das criaturas que criaturas que correram atrás de você. Eu pensei que elas estavessem me procurando, falando sobre cheiro e essas coisas.- fui 50% sincera. Ela ergueu uma sombrancelha.
- Você ouve os Fanidrios? Mas como? Você não parece ser do Reino das Neves... Não, com certeza você não é, eu já teria te reconhecido se fosse.- ia responder quando ela me interrompeu.- Isso leva a pergunta principal: quem é você?
- Eu me chamo Selene, e não sei muito bem quem eu sou.- não estava mentindo daquela vez. Ela baixou a espada e me olhou com uma careta.
- Como assim?- me estendeu a mão, lembrei que estava sentada no chão e prontamente aceitei. Quando coloquei o pé no chão meu tornozelo começou a doer desgraçadamente. Eu devo ter feito uma careta extremamente horrível, já que ela arregalou os olhos e me olhou como se eu tivesse duas cabeças e um chifre.
- Meu tornozelo, acho que eu quebrei.- minha voz soou extremamente fina, mas aquela dor era insuportável e o som da minha voz era o menos importante no momento.
- Ah, tem uma cabana a alguns metros daqui. Eu posse te levar até lá ou posso te deixar aqui e trazer um kit de primeiro socorros, você escolhe.- ela se agachou pra falar comigo.
Reparei mais nos traços da princesa, sua pele era quase transparente e seus cílios e sombrancelhas quase sumiam de tão brancos, fazendo um belo contraste com os olhos dela. Seus cabelos platinados batiam no meio das costas e ela tinha uma franja que quase sempre caia nos seus olhos. Se eu não tivesse ouvido ela lutar contra os Fanidrios provavelmente pensaria que ela era uma garotinha indefesa mas talvez essa seja uma grande vantagem contra os inimigos.
Decidi que preferia estar ao lado dela do que exposta ao perigo daquela floresta.
- Se você não se importar, eu quero ir com você. Sou nova pelas redondezas, então não conheço muito bem os perigos daqui.- ela assentiu, aparentando concordar com minha decisão.
Com "não conhece muito bem" você quer dizer que é totalmente leiga no assunto, né?- depois de anos a voz misteriosa passou a se pronunciar. Humph, pra alguém que se manteve calado por tanto tempo, essa voz é bem abusada pro meu gosto.
Ela me ajudou a levantar e a dividir o peso da minha perna esquerda com ela, facilitando minha "caminhada" até o bendito chalé. Era um lugar confortável e silencioso, era simples, mas acolhedor e quentinho. Eu sentei em um sofá forrado com aparente pele de urso, a princesa saiu pela porta, de onde eu julguei ser a cozinha por ter visto uma pia, voltando uns 3 minutos depois com uma caixa de madeira. Ela se ajoelhou e pôs a caixa no chão, olhando com curiosidade para meu tênis.
- Nunca viu um antes?- perguntei. Ela negou, ainda observando.- É um All Star, muito bom para caminhadas ou para simplesmente ficar a vontade em casa.
- Você não é de Maribian, estou certa?- ela me encarou fixamente. Suspirei, olhando para o lampião em cima de uma mesinha ao meu lado.
- Eu... Não sei exatamente. Talvez sim, talvez não. É muito complicada essa história, principalmente pra mim.- ela me lançou um olhar que talvez signifique que eu deva continuar, enquanto ela dava um jeito de tirar o tênis.- É só desfazer o laço, puxar pela pont...- ela já havia puxado, deixando os cadarços livres. Ela parecia bem satisfeita com seu trabalho, decidi apenas prosseguir.- A mulher que eu achava que era minha mãe na verdade é minha madrasta, e meu pai é filho de um cara com poderes que aparentemente fez alguma besteira enorme para minha vó ficar irada e dizer que ele é um monstro e que eu herdei os poderes dele, por isso preciso morrer. Eu não faço ideia de onde minha mãe verdadeira possa estar e eu fugi pra cá só porque um livro prata no escritório do meu pai me mandou e...
- Okay, mais devagar. Vamos com calma, okay?- assenti.-Tá, que livro é esse que você encontrou?
Tirei do bolso interno da minha jaqueta o livro prateado, que estava com as folhas quase encharcadas de água tanto da cachoeira quanto a do mar de Maribian. Coloquei o livro no colo, pensando em um jeito de retirar a água dele.
- Podemos colocar ele em frente a lareira, assim ele seca mais rápido.- deu de ombros, enquanto enfaixava meu pé.
- Achei que estivesse quebrado.- disse me referindo ao tornozelo. A platinada estalou os dedos e se levantou, pegou um banquinho e colocou meu livro nele que ficava em frente a fogueira.
- Você só torceu ele, era uma leve luxação. Bem, creio que você tem uma longa jornada pela frente, em busca de...- balançou a mão.
- Respostas.
- Isso. Eu acho muito digno da sua parte, conheço poucas pessoas que criariam coragem para buscar as respostas para sua vida. Eu, por exemplo, há alguns meses faria parte das pessoas que não se importaria em continuar no escuro, isso nem mesmo me incomodaria.- ela olhou para um ponto fixo por alguns segundos.- Bem, não agora.
- Escuta, ehhh...- esperei que ela entendesse como uma deixa para se apresentar.
- Lux, sem alteza nem nada, só... Lux.- ela deu um mini sorriso.
- Sabe, Lux, eu gosto de pensar que não faz sentido deixarmos algum canto vazio e sem respostas da nossa vida se nós temos condições de preencher esse espaço com o que precisamos. Eu sei que acabei de te conhecer, mas também acredito que se não temos condições de preencher o espaço com o que precisamos sozinhos, deveríamos ao menos ter um amigo para nos apoiar. E, sinto muito se isso soar um pouco inxerido da minha parte, apesar de eu não ligar mas, eu sinto que você não tem nenhum amigo. Seja lá qual seja seu motivo para procurar suas respostas eu tenho a sensação que não vai acha-las sozinha então eu quero te ajudar, Lux. Me deixe ser sua amiga e te ajudar.- ela me observou e por alguns segundos eu achei que ela fosse me lançar a mercê da floresta lá fora com o tornozelo torcido só pela minha audácia. Mas ela me surpreendeu quando soltou uma risada, e com as bochechas vermelhas, sorriu para mim e disse.
- É, você realmente é bem inxerida.
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O Chamado do Luar
FantasySelene tinha uma vida que aos olhos alheios era quase considerada perfeita. Tinha pais presentes que a amavam, amigos legais que estavam sempre por perto, um irmão dócil atencioso que sempre a apoiava, e vivia em uma casa em uma cidade próspera. O q...