O elefante e a corda pt 2

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"Certo ou errado, o caminho que escolheu é seu. Aparentemente pensarás que tomou a decisão errada, mas não, pode ter certeza que tirará valiosas lições para seguir o caminho."- Alice no País das Maravilhas.

Já fazia uma hora que cantamos os parabéns e meus convidados já se empanturravam de salgadinhos e alguns doces. O bolo só seria servido a 00:15 que foi o horário que eu nasci.

Bebi um pouco do refrigerante enquanto eu observo a pequena aglomeração no meu quintal. Meu irmão ainda mandava ver com as músicas e chamava a atenção de algumas garotas da faculdade local. De repente, sinto algo molhado cair no meu vestido, olho para frente e vejo uma Tori de olhos arregalados e um copo na mão.

- Ai meu deus, me desculpa Lene! Foi um acidente desastroso!- ela começou a gaguejar. Balanço minha mão em um claro sinal de quem não se importa, e eu não me importava mesmo.

- Sem problema, eu nunca gostei desse vestido mesmo.- dei risada e ela me acompanhou.- Agora eu tenho uma desculpa para usar jeans e coturno hoje. Deveria te agradecer, isso sim. Na verdade, se você puder derramar nos meus saltos eu me sentiria aliviada, porque isso aqui é extremamente desconfortável!

- Bem, não é mais desconfortável que ver todas essas universitárias devorando seu namorado com os olhos...- bufou e eu finalmente percebi que ela estava fugindo.

- Tori, você sabe que meu irmão te ama, ele jamais te trocaria por essas siliconadas atiradas. Ele teve um maior trabalho pra te conquistar, tadinho.- coloquei a mão no ombro dela. Tori olhou para Stephan no palco improvisado, e deu um suspiro.

- Você acha mesmo? Eu sou tão... Eu. E ele é tão maravilhosamente ele, daquele jeitinho que é só dele, e eu o amo tanto. Mas tenho medo de um dia ele acordar e ver que tem garotas bem mais bonitas e mais interessantes que eu. Isso é patético, eu sei...

- Não é patético, Tori. São seus sentimentos, você se sente assim. Que tal vocês dois falarem sobre suas inseguranças? Isso pode aliviar esse sentimento.- ela assentiu e eu dei um sorriso fraco. Ajeitei a postura e abri um sorriso brincalhão.- Bem, mas agora eu tenho que trocar de roupa. Acho que cor de Coca-Cola não combina comigo.

- Você quer que eu avise ao seus pais?

- Não é necessário, depois eu falo com eles. Só curte a festa e rouba uns docinho pra mim.

×|×
×|×|×

Troquei de roupa e fui avisar meus pais. Eu estava usando uma jaqueta de couro preta, uma blusa azul listrada com branco e um shorts jeans de cintura alta, além de um All Star vermelho.

Fazia 10 minutos que eu procurava meus pais e não achava, então resolvi ir até os fundos da casa já que era o único lugar que eu não procurei. A lua brilhava do alto dos céus, iluminado a piscina e os brinquedos nela. Fui me sentar em uma cadeira quando ouvi algumas vozes.

- Você deveria ter matado aquela garota quando aquela mulher entregou ela a vocês.- era voz da minha avó.

Matar? Mas matar quem? Que coisa horrível! Me escondi atrás de um arbusto e eles estavam na cadeira de praia logo depois dele. Não curto fofocar, mas é preciso nesse momento em que consideram o homicídio de alguém.

- Mãe, como você pode dizer isso? Ela é minha filha, nunca faria um mal a ela!- meu pai protestou. Espera, ela queria me matar? Mas que...

- Mas ela é neta daquele monstro e herdou os poderes dele! E vocês sabem muito bem que ela é a garota da profecia.- a mulher continuou.

- Talvez ela não tenha herdado os poderes dele...- minha mãe começou.

-Ah, pare com essa palhaçada Alícia! A lua praticamente se curva a ela, e eu vi quando aqueles lobos se tornaram mansos como cachorros quando viram ela quando a Selene era criança. Você acha mesmo que ela não tem poderes? Vocês dois tem escondido a verdade dela por toda a vida dela, você principalmente Alícia.

- Ela é minha filha, Miranda!- minha mãe berrou. Estava chorando. Minha vó riu com escárnio.

- Ela não é sua filha, Alícia. Não importa o quando você minta para si, você sabe que ela é filha de Arcane, o seu mal foi ter se apegado a esse ser destrutivo.- meu pai bateu na mesa com força, assustando minha vó e minha... Alícia.

- Basta! A senhora bem sabe que eu sou filho daquele monstro! E você nunca tentou me matar por causa disso.

- A diferença, Tyrell, é que você não herdou nem uma gota dos poderes do Eir. Ao contrário da sua filha.- meu pai ia reclamar mas a mulher levantou a mão ossuda.- Vocês não querem admitir, mas sabem muito bem que sua filha é um perigo para a humanidade. Vocês passaram 19 anos prendendo um elefante com uma corda pelo pé, acham que ela nunca reparou que é diferente do Stephan? Está na hora de tomar as devidas providências antes que esse monstro que habita em Selene acorde.

- Mas, isso é muito extremo, mãe.- meu pai interviu.

- Para situações extremas, são necessárias medidas extremas.

Arregalei os olhos e tentei controlar a respiração. Meus pais vão tentar me matar... Minha mãe não é minha mãe, meu pai é filho de um cara com poderes, Stephan não é totalmente meu irmão e eu estou correndo risco de ser morta a qualquer momento.

Maribian.

De repente, o nome surgiu em minha mente, e ele nunca foi tão real como agora.

O Chamado do LuarOnde histórias criam vida. Descubra agora