"Puta que me pariu, Bert! Tô cansado de você furando rolê".
Mandei a mensagem sem esperança nenhuma de resposta rápida. Eu não sei por que ainda acreditava quando Bert dizia para eu me arrumar primeiro, que ele só daria uma "passadinha" em algum lugar para depois me encontrar. No fim eu sempre ficava de pé sozinho em algum bar, tendo que me virar enquanto esperava; isso quando ele pelo menos aparecia. Na próxima, ou viríamos juntos, ou era melhor nem sair de casa. Nota mental para o futuro. A vantagem disso é que aprendi a ser uma pessoa autônoma quando saía. Eu encarnava minha persona festeira, tomava algumas boas doses de álcool e rapidamente me infiltrava em algum grupo de pessoas que nunca mais veria na vida, mas que me divertiam por algumas horas.
Eu sei que já passou da hora de eu ter meu próprio grupo e não depender apenas do Bert e suas companhias, meu irmão Mikey, ou Ray - ótimo amigo, mas que eu não podia contar para a vida noturna - para me divertir. Nunca tive dificuldade para falar com as pessoas, fazer amigos, ou algo assim, somente uma enorme preguiça de aprofundar novas relações. É mais fácil nunca levá-las adiante, mantendo apenas conhecidos e colegas. Bert era meu amigo mais recente, e ainda assim, já fazia cinco anos. Cinco anos levando bolo, diga-se de passagem.
"Eu não tô furando nada. Tô no Sucesso's bar. Só vou me atrasar umas duas horas".
Duas horas meu pau de óculos! Atraso de duas horas para mim tem é outro nome. Mas vamos lá: fazendo as contas, Bert ficaria pelo menos mais uma hora no Sucesso's, dez minutos até nosso apartamento, quarenta minutos para se arrumar e mais vinte minutos para me encontrar. Pela programação talvez ele estivesse realmente planejando vir, mas não adiantava me iludir com ele aparecendo num intervalo de tempo menor que isso. Bufei ainda com raiva, mas já conformado para enfim responder aquele desaforo.
"Em duas horas sozinho aqui eu pretendo estar dançando com o capeta em pessoa de bêbado. Não acredito que você tá me trocando pelo Sucesso's bar, vacilão...".
"Eu logo tô aí e te acho dançando no colo do sete pele. Você precisa aprender a apreciar o Sucesso's".
"Duas palavras: puta vacilo".
Eu odiava ser amigo de gente bem relacionada. Gente bem relacionada tem vários lugares para ir e várias pessoas com quem estar. Eu, por outro lado, como um grande preguiçoso, só tinha um lugar para ir e uma pessoa com quem estar, e a pessoa em questão me largou sozinho. Até pensei em pegar um Uber e ir até o Sucesso's, mas eu me arrumei para uma festa no Madame, e não para ficar numa mesa de plástico da Skol, tomando litrão e comendo quibe. Nada contra o boteco (apesar de eu não ter nada a favor além da cerveja barata), mas se fosse para passar a noite lá eu teria colocado um jeans e uma blusa qualquer.
Fazia um tempo que eu não dava a cara no Madame, e resolvi me produzir para a ocasião. Coloquei uma calça preta justa, coturno de cano alto com várias fivelas, uma camiseta de manga longa de látex preto e gola um pouco alta, fechada, e um harness que começava em volta do meu pescoço com um detalhe branco na frente - para dar aquele ar de batina na gola -, descendo em uma faixa no centro do meu peito até a cintura da calça, seguindo pelas minhas coxas formando linhas horizontais, numa mistura de tiras de elástico preto e argolas de metal prateado que tanto me agradava. De maquiagem, apenas uma sombra vinho bem esfumada para destacar meus olhos verdes. Eu queria chamar a quantidade certa de atenção para mim. Antes de saber que iria ficar sem Bert, eu estava até tendo um ótimo pressentimento. Entretanto, no momento eu já não sabia mais. Eu poderia dar sorte, achar um grupinho legal e me acabar com eles até o final da noite, ou poderia dar azar, ficar rodando a pista só com gente mais ou menos e ir mais cedo que o planejado para casa. Mas eu realmente acredito que estou gostoso demais para ficar sozinho.
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Beleza do Caos [FRERARD]
FanfictionSair para uma noite de boemia na cidade é sempre um infinito de possibilidades. E São Paulo, cidade do caos, pode ser o cenário perfeito para relações que pulsam na mesma vibração. Gerard Way e Frank Iero, dois paulistanos, se cruzam numa típica no...