Capítulo 06

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— Caralho, Gerard, eu vou...

Antes de terminar a frase senti o corpo todo de Frank se contrair abaixo de mim e relaxar completamente em seguida, escapando um som baixo e gutural. Após alguns segundos deitado em seu peito, imersos em um silêncio em que podíamos ouvir apenas as respirações ofegantes tomando o ambiente, rolei meu corpo com cuidado até cair de costas na cama, deitando ao seu lado. O preservativo já estava amarrado de volta na embalagem para mais tarde ser descartado na lixeira do banheiro. Olhei o peito de Frank ir de cima para baixo; seu braço estava dobrado acima dos olhos; a boca, descerrada e seca.

— Quer um pouco de água, Frank?

Ele apenas acenou com a cabeça, e logo em seguida descobriu o rosto e se virou para mim com um sorriso quase inexistente, ainda tentando se recuperar de todas as outras sensações que provavelmente entraram - ou saíram - de seu corpo. Levantei e caminhei até a minha escrivaninha onde havia uma moringa de cerâmica pintada de vermelho e dourado, numa combinação quase natalina que me irritava um pouco. Enchi o copo pequeno de água fresca e entreguei-o para ele, que bebeu com pressa. Frank aproveitava a umidade para passar a língua pelos lábios a fim de reidratá-los. O copo foi colocado na mesa de cabeceira ao mesmo tempo em que eu colocava o cinzeiro pesado de vidro grosso do meu lado, naquela tradição de fumar um pouco depois do sexo. Frank ainda estava apenas suspirando, sem movimentos que exigissem força de seus músculos.

La petite mort. Eu sempre achei a expressão francesa extremamente precisa para aqueles instantes após um orgasmo, especialmente depois de repetir um bom sexo, mesmo não ocorrendo um período de perda de consciência como exigia a definição à risca. Para mim, isso sempre se referia mais àquela sensação quase transcendental, algo quase ligado à minha força vital. E ver Frank da maneira que estava, quieto em uma introspecção física e mental, eu poderia falar o mesmo sobre ele.

Nossas peles estavam suadas e grudentas, e usamos uma toalha qualquer para limparmos localmente nossos corpos até decidirmos a hora de parar, tomar banho e, enfim, dormir. Dormir não só o famoso sono dos justos de toda sexta-feira, mas também um sono relaxante sem nenhum nó de tensão em nossos músculos. Isso era bom... Ou melhor, isso era excelente.

Frank enfim se levantou da cama e se espreguiçou, de costas para mim e esticou os dois braços unidos acima da cabeça, inclinando-a para um lado e para o outro. A sua silhueta era bem definida contra a luz amarelada; é claro que a pouca intensidade da luz que eu cuidadosamente regulei para que tornasse meu quarto o mais aconchegante o possível, quase criando uma penumbra, iluminava o suficiente. Eu conseguia enxergar como suas tatuagens de dois revólveres no final das costas se moviam junto ao corpo em cada passada que ele dava em direção à sua calça, abaixando para pegar o maço de cigarros em um dos bolsos.

Ele parou na minha frente, aos pés da cama, e sem pressa deixou o cigarro escolhido pendurado nos lábios enquanto o acendia com as duas mãos envolvendo o isqueiro. Os primeiros tragos foram curtos, apenas para garantir que a chama não se perdesse, e em seguida esticou a mão para mim, oferecendo-me fogo. Me arrastei pelos lençóis apenas o suficiente para alcançá-lo, e repeti os mesmos movimentos, olhando-o agora a soltar a fumaça entre seus lábios de maneira longa e vagarosa. Preso em uma fração de segundos, observei satisfeito cada micro movimento e cada detalhe que ele realizava e continha. Era uma enorme satisfação observá-lo. Frank sabia disso - ele fazia o mesmo comigo ao passar seus olhos por cada centímetro da minha pele desnuda. Assim como eu, ele não gostava apenas do que via, mas gostava de também ser admirado.

— Esse sem dúvidas não foi exatamente o motivo que me fez vir até aqui. — Ele voltou a segurar o cigarro entre os lábios, e de joelhos se moveu pela cama até estar deitado de volta ao meu lado, aproveitando para passar a ponta dos dedos na minha canela e no meu abdômen para em seguida encerrar o percurso nos meus ombros. Ele reparava em cada parte que podia. Os dedos da mão que quase sempre eram frios fizeram minha pele quente se ouriçar. — Mas não tenho como negar que é um motivo esplêndido.

Beleza do Caos [FRERARD]Onde histórias criam vida. Descubra agora