— Gê, não é seu namorado nessa foto aqui? — Bert estava sentado na poltrona da varanda virada para a sala com o celular em mãos. Suas pernas estavam cruzadas e ele balançava um dos pés sobre o joelho.
— Ele não é meu namorado, Bert.
— Qual é, Gerard... Vocês estão há quatro ou cinco meses juntos, você nunca mais ficou com outro! O cara te chamou para um jogo de futebol e você foi! Cadelando demais.
— Vai se foder, Bert. Cadela... — A poltrona balançou um pouco para o lado quando Bert mexeu o corpo para desviar da almofada que atirei na direção dele como forma de repreensão; obviamente isso gerou apenas risadas. — E qual o problema? Você e aquele seu boy estão há dois anos transando e não assumem o namoro.
— Exatamente. Nós transamos, não namoramos. Eu não quero namorar e também não sou monogâmico, diferentemente de você.
— E quem disse que eu quero namorar?
— Ai, Gê, tenha paciência. Você não é o tipo de cara que fica com alguém sem querer algo sério. Eu te conheço. Você gosta de compromisso, da exclusividade, de estar num relacionamento. Não sei como você ainda não pediu o cara em casamento.
Eu odiava o quanto Bert me conhecia e sabia ler perfeitamente todos os meus sinais. Era como se de alguma maneira ele pudesse acessar a minha mente. Sempre fui o cara do "tudo ou nada": ou era uma noite só ou, se me interessasse, já planejava uma vida e filhos com a pessoa. Sempre precisei de segurança, de constância, de poder encher a boca para apresentar alguém que tanto me importo como "meu namorado". Eu jamais seria como Bert; eu não conseguiria manter uma relação estritamente sexual com alguém sem esperar algo em troca. Não conseguiria contar apenas com um P.A. fixo (sim, era assim que Bert chamava essa relação, de "Pau Amigo") ao mesmo tempo que busco por outros aleatoriamente.
— Aliás, essa é uma boa pergunta. Por que você não pediu Frank em namoro ainda? — Bert inclinou o corpo para frente, fazendo com que a poltrona presa no teto balançasse um pouco com o seu peso. A sobrancelha direita se levantou até quase metade da sua testa, anunciando que viria uma provocação logo em seguida. — Ou a mocinha está esperando o cara tomar iniciativa?
— Você é um puta de um babaca quando quer, Bert. Eu só... eu só não quero. — Disse, o mais sério possível; mas sabia que minha voz tinha vacilado, o que sempre acontecia quando diversos pensamentos atravessavam a minha mente. Eu tentava escolher o mais conveniente, não necessariamente o mais real. — Vou tentar uma coisa diferente agora: o desapego.
— Tá bom, Gê. Vamos falar sério agora. Por que vocês não estão namorando? Onde está aquele Gerard conquistador, cheio de charme e tradição, importado do velho mundo?
Soltei um suspiro pesado enquanto desviava minha expressão da de Bert, torcendo para não ser notado no meu caminho através da sala - falhando antes mesmo de tentar. Tudo que vinha em minha cabeça parecia como uma piada ruim que você tenta não lembrar, quem dirá compartilhar e ter que explicar o que ela significava, o que gerava o tão delicioso clima de vergonha alheia. Não que existisse vergonha no que eu sentia ou nas ações que tomava; mas às vezes repetir em voz alta fazia com que minhas preocupações e suas derivações soassem bobas e fora de lugar.
A paixão no início dos relacionamentos sempre é capaz de desbloquear sensações púberes. Não por serem todas iguais (longe disso!), mas sim por trazerem o incentivo e a segurança da eterna descoberta, o ímpeto de explorar e conquistar, um grau de autoconhecimento e um certo anulamento. E mesmo quando sentimos que estamos com alguém diferente, alguém capaz de produzir efeitos únicos e exclusivos como agora, tudo parecia se repetir. Igualzinho a um adolescente, meu desejo era de ir com toda sede ao pote; a maturidade adulta e o trauma, no entanto, obrigavam-me a manter dois passos para trás.
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Beleza do Caos [FRERARD]
Fiksi PenggemarSair para uma noite de boemia na cidade é sempre um infinito de possibilidades. E São Paulo, cidade do caos, pode ser o cenário perfeito para relações que pulsam na mesma vibração. Gerard Way e Frank Iero, dois paulistanos, se cruzam numa típica no...