Capítulo 05

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Os doze dias seguintes no escritório foram surpreendentemente... Normais. Encontrar com Frank não era a coisa mais agradável que eu fazia no meu dia, mas ainda assim eu não reclamava nem um pouco por fazê-lo. Frank era uma imagem muito boa de se olhar -- quem era eu para negar isso? Nesses dias, ele apareceu com roupas mais informais, vestindo camisetas, jeans, agasalhos de moletom e jaquetas. Conforme estabelecemos no restaurante, reiniciamos nossa relação profissional e nos tratávamos como colegas de trabalho, com educação e cordialidade, mas sem nenhuma intimidade.

Não tivemos pausas para o cigarro, ou almoços compartilhados, ou sequer conversas sobre qualquer coisa na copa enquanto o café passava. Ele tentou, ainda no dia seguinte, me chamar para almoçarmos juntos em outro lugar (sabia que o escritório não era o espaço certo); apesar da sua insistência, continuei firme em ignorá-lo. Talvez eu estava sendo emocionado, exagerado... Até dramático, em outras palavras? Para falar a verdade, sim. Mas decidi comigo mesmo que não queria outro tipo de relação ali que não fosse de trabalho. Todo o mundo sabe que misturar as duas coisas tem tudo para dar errado, e eu estive prestes a fazer isso logo no primeiro dia.

Difíceis eram os momentos em que Frank "sem querer" passava a sua perna pela minha, da maneira mais devagar possível, por debaixo da mesa. E meu corpo (ridículo!) se arrepiava. Era involuntário. Também haviam os momentos em que Frank, já no final do expediente, ficava de pé e arrumava suas coisas para ir embora, e se aproveitava desse momento para me olhar sem parar por cima dos óculos. Ele sempre se inclinava em direção à mesa para pegar alguma coisa e passava as mãos discretamente pelo corpo para ajeitar a roupa - parecia casual para quem estava ao redor, mas notei que ele só fazia isso se eu estivesse olhando.

Era como se voltássemos para o primeiro dia no Madame, de volta para o flerte, para os toques sem palavras trocadas. Só que, agora, isso funcionava de uma maneira muito, muito lenta. Entender Frank no meio disso também era um desafio à parte, já que ele estava ali se mostrando e se passando em mim sempre que tinha oportunidade, mas ao meu mínimo sinal de resposta, ele fingia não se atingir. Fingimento. Eu tinha certeza que era isso. Era como um estranho jogo de poder que só ele podia agir.

Eu já estava naquele limbo da sexta-feira depois de tanto olhar para a tela do computador. Três horas da tarde e a leseira depois do almoço me dava sono, as imagens e cores se misturavam na tela enquanto meus olhos não paravam de piscar. Eu precisava jogar uma água no rosto e depois pegar um pouco de café; só assim para aguentar as horas que eu ainda tinha pela frente. Daria tudo para poder tirar uma mísera soneca de meia hora... Parecia uma tortura existir um conjunto de sofás num canto da redação para receber os convidados.

Fui ao banheiro mais distante da minha mesa justamente para poder esticar as pernas, mesmo que por poucos metros. Deixei a água gelada correr pelos meus pulsos e minhas mãos, depois as enchi e as levei até meu rosto. Levantei a cabeça sem abrir meus olhos, sentindo cada gota escorrer até meu pescoço e sendo absorvida pela gola da camisa preta escolhida para o dia. Com a mão direita afrouxei o nó da gravata, puxando-o com dois dedos, balançando de um lado e para o outro, até o meio do peito. Abri os primeiros três botões da camisa com a mesma mão, abaixei a cabeça e abri a torneira novamente, molhando a mão, passando-a na nuca e, jogando a cabeça para trás, arrastei minha mão pelo pescoço e por dentro da camisa até onde conseguia alcançar.

Ao voltar a me olhar no espelho, vi Frank por trás do meu reflexo, parado junto à porta de uma das cabinas reservadas. Os olhos contemplativos não piscavam, e a boca estava levemente aberta, segurando firme a barra da camiseta enrolada entre os dedos. Ele provavelmente tinha visto toda a minha movimentação (que não era uma cena planejada para ele), mas fiquei feliz que assim tivesse parecido. Sorri de canto, sem mostrar os dentes, primeiro o observando pelo reflexo, e em seguida me virando em sua direção, sem sair do meu lugar. Arrumei minha roupa, fechei a camisa e subi a gravata, voltando a me assear.

Beleza do Caos [FRERARD]Onde histórias criam vida. Descubra agora