Capítulo 1

824 44 1
                                    


— Any? Posso entrar? — Anahi Portilla prendeu a respiração para fechar o zíper do vestido, avaliando-se no espelho para descobrir a causa por estar tão apertado.

Soltou o ar dos pulmões e fez uma careta desolada. Aquele modelo caía como uma luva, duas semanas atrás!

— Vou deixá-lo entrar, Stuart, se prometer que não vai falar sobre nenhum problema! — respondeu, sem esconder a irritação.

— Sinto muito, querida, mas sua mesa não é grande o bastante. — Com um suspiro exasperado, o jovem alto e esguio entrou na suíte e parou diante da porta do banheiro. — As travessas estão empilhadas umas sobre as outras, e não posso permitir que pratos tão elaborados sejam servidos como se estivéssemos no exército!

Uma pequena mecha de cabelos saltou com rebeldia dos fios que emolduravam o rosto de traços delicados, e Anahi e conteve a vontade de chorar.

— Faça o que puder, Stuart. O bartender chegou?

— Já fiz tudo que era possível! Você precisa de uma mesa maior. — foi à resposta petulante. —E não, o bartender ainda não chegou.

Anahi deixou que os braços pendessem ao longo do corpo. Olhando para sua imagem no espelho, percebeu que se esquecera de aplicar maquiagem em um dos olhos, e recriminou-se pela cen­tésima vez, pelo momento de insanidade ao oferecer-se para ser anfitriã daquele jantar. Não precisava acrescentar mais nada em sua agenda apertada, como um vestido que não fechava e um for­necedor exigente e intolerante.

Abriu a porta do banheiro e confrontou Stuart que, além de ser seu amigo, era o mais famoso e sofisticado fornecedor para ban­quetes e recepções.

Ele a fitava, com as mãos nos quadris e expressão tão aborrecida quanto a dela.

— Não tenho mesa maior! Vamos ver o que podemos fazer. A que horas o bartender disse que viria?

Atravessou o quarto e desceu a escada sem esperar pela respos­ta, seguindo para a sala de jantar. As finas alças de cetim escorre­garam pelos ombros, mas, ao ver a mesa atulhada de travessas, concluiu que o vestido era o menor de seus problemas.

Dois assistentes permaneciam imóveis ao lado do sofisticado bufê, com os braços cruzados, como se esperassem por um mila­gre. Enviou-lhes olhar crítico, exasperada ao perceber que não teve o menor efeito sobre eles.

— Jacques disse que estava a caminho. Não sei a razão por ainda não ter chegado.

— Por que sua afirmação não me faz sentir melhor? — mur­murou a pergunta para si.

Avaliou a disposição das travessas com finas iguarias, ocupan­do toda a superfície disponível. Stuart era difícil e exigente, mas era especialista em recepções, e não havia como argumentar com ele.

— Você tem razão. — admitiu, desolada. — Temos de dar um jeito nisso.

— O arranjo do centro ficou muito grande. Você deveria ter deixado que eu selecionasse as flores. Lembre-se de que eu lhe disse que...

— Sim, eu me lembro. — interrompeu-o, impaciente.

— Acon­tece que eu queria escolher meu próprio florista, e achei que copos de leite seriam uma boa opção.

— Não podemos remover essa coisa? — o rapaz reclamou com um gesto dramático.

— Não!

— Ao menos, deixe-me arrumá-la. Está tão... tão... — Stuart fez uma careta significativa.

— Está proibido de tocar nesse arranjo! Paguei centenas de dólares por essa coisa. — imitou o tom de voz afetado.

— E você teve pelo que pagou! Agora, não reclame por não ter espaço à mesa!

Anahi o encarou, tirando outra mecha de cabelos que caiu sobre o rosto.

— Não tem nada a ver com dinheiro, Stuart. O florista é meu amigo, e está no ramo há mais tempo do que você.

"Por que estou aqui, discutindo com Stuart, quando ainda não acabei de me vestir e meus quarenta convidados podem chegar a qualquer momento?", recriminou-se, voltando a atenção para a mesa.

— Coloque algumas travessas na cozinha, e seus assistentes poderão substituir as que ficarem vazias.

Stuart colocou as duas mãos no rosto e sua boca se abriu em horror.

— Absolutamente, não! Minha querida, esses pratos foram cui­dadosamente planejados para excitar o paladar. Devem ser servi­dos alternadamente para que...

— Pelo amor de Deus, quem vai saber em que ordem se deve comer? As pessoas vêm aqui simplesmente para jantar, e não para um concurso de gastronomia!

— Recuso-me a retirar as travessas! Se você insistir, trate de se virar sozinha, porque não vou me sujeitar a...

— Está bem, está bem... — erguendo as mãos. — Vejamos... Vamos fazer como você quer. Coloque a travessa de camarões na mesa de centro da sala de estar. E vocês — disse, apontando para os assistentes. —, removam aquela bandeja de frios para perto do bar. Creio que há espaço para o salmão defu­mado no aparador do hall de entrada.

Os três jovens se entreolharam.

— Você é a mulher mais inteligente e sofisticada que conheço, mas, em matéria de gastronomia... — Stuart meneou a cabeça com vigor. — Meu bem, você é péssima!

— Façam o que eu disse. E onde está o bartender que você prometeu que chegaria a tempo?

— Ele virá, não se preocupe.

— É melhor que chegue logo, ou vou começar a descontar do seu pagamento.

—Está vendo? — o rapaz sorriu vitorioso ao ouvir a campainha. — Não é preciso entrar em pânico. Aí está ele!

E correu para a porta da frente, abrindo-a antes que Anahi tivesse chance de se mover.

— Quem é você?

O timbre exigente do recém-chegado era profundo e viril, e ela reconheceu-o imediatamente, sentindo o chão sumir sob os pés.

— Ah, meu Deus! Eu não vou sobreviver a esta noite! — Stuart gritou com afetação. — Não acredito! Ela não me disse que você seria um dos convidados.

— Do que está falando? Onde está Anahi?

Ela forçou-se a se mover e caminhou para a porta de forma automática, entrando no campo de visão do homem parado ao batente.

— Obrigada, Stuart. Creio que você tem muito trabalho a fazer. — Surpresa com a própria calma, Anahi tentou sorrir mesmo que em seu interior reinasse o mais absoluto caos. Seus órgãos vitais se paralisaram e receou que os joelhos não pudessem sustentá-la, enquanto sentia que o sangue era drenado de seu corpo.

Apesar de tudo, manteve a fachada de indiferença digna de um Oscar.

Esperou que Stuart voltasse para o interior da casa e encarou o recém-chegado.

— O que está fazendo aqui, Alfonso?

Antes do AmanhecerOnde histórias criam vida. Descubra agora