Capítulo 9

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O profundo silêncio na cozinha fazia com que as gotas de água que caíam da torneira parecessem as cataratas do Niágara.

Afastando as lembranças, Anahi mergulhou a esponja na água e se pôs a lavar os copos freneticamente.

— Nosso primeiro beijo me deixou enlouquecido. — Alfonso sus­surrou, consciente de que ela também compartilhava as lembran­ças, mesmo que não admitisse.

— Alfonso, por favor! Eu não estava pensando nisso. — Odiou-se por não controlar o tremor das mãos, e por se deixar sucumbir aos encantos daquele homem. Ele sabia exatamente o que dizer para seduzi-la. Não era para menos que se tornara o rei das manhãs, cativando milhares de telespectadores.

No entanto, tinha de se lembrar de que o homem ao seu lado, na cozinha de sua casa, não era uma imagem na tela do televisor, tampouco ela era uma das telespectadoras fascinadas por seu charme.

O homem à sua frente era tão real quanto o perigo que sua presença representava...

— Falar a respeito do passado não faz bem a nenhum de nós dois. — disse com hostilidade, concentrando-se em lavar os copos.

— Covarde!

— Não sou covarde! — quase gritou, abrindo a torneira de água quente com força maior do que planejava. — Veja o que você fez! Minha camiseta está toda molhada!

Irritada, ela apanhou o pano de prato e se pôs a secar a blusa encharcada pelo jato de água, evitando encará-lo.

— Não sou covarde, Alfonso. Sou sensata!

— O almirante Portilla tem razão por ter tanto orgulho de você. — ele ironizou, deixando-a ainda mais irritada.

— Não tenho medo de você, Alfonso.

— Sei que não tem medo de mim, mas tem medo de si mesma e do que aconteceu aqui... — Pousou a mão sobre o peito para demonstrar. —Na primeira vez em que a beijei, você saiu correndo como se estivesse sendo perseguida por um bicho feroz!

— Não é verdade, e você sabe disso. Lembre-se de que alguém bateu à porta do meu escritório para me chamar. Eu tinha uma reunião com o gerente financeiro.

— Sim, eu me lembro. Whit nos interrompeu. Nunca me es­quecerei disso.

— Sim, e agradeço aos céus por ela ter chegado naquele mo­mento. Não sei o que teria acontecido se não fôssemos interrom­pidos.

— Mas eu sei... — ele disse com um sorriso provocante.

— Não podíamos ter nos beijado no ambiente de trabalho. — Riley apanhou o pano de prato das mãos dela e passou a secar a louça, mantendo-se em silêncio por alguns minutos.

— Anahi, querida, você ainda é muito inocente. Se Whit não tivesse batido à porta naquele preciso momento, nós teríamos feito amor. Quando toquei em você, eu perdi a cabeça. — Virou-se para ela, consumindo-a com a chama do olhar profundo. — Estava furioso porque você não tinha nos acompanhado ao restaurante. Tinha de beijá-la! Naquele momento, não teria me importado se o céu tivesse se aberto e um raio caísse sobre mim.

Ela mergulhou as mãos na água quente da pia, esperando acal­mar o turbilhão de emoções que as lembranças provocaram.

Quando falou, as palavras saíram de seus lábios macias como veludo.

— Sabia que estava apaixonada por você antes daquele beijo, Alfonso.

Notou que ele recuou um passo, impactado pela revelação. No entanto, recusava-se a acreditar na emoção evidente nos olhos dele. Alfonso sempre brincara com suas emoções e havia jurado para si mesma que nunca mais permitiria que a manipulasse.

Antes do AmanhecerOnde histórias criam vida. Descubra agora