Capítulo 11

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A campainha soou, com o efeito de um balde de água fria na chama que a consumia. O ruído estridente acordou seus sentidos, e não soube se ficara aliviada ou decepcionada pela intrusão.

Afastou-se e seguiu para a sala de estar, com Alfonso atrás de si. Ao abrir a porta, recuou um passo, surpresa.

— Abel?

Esperou que o homem parado no batente não ouvisse Alfonso praguejar. Podia imaginar como franzia com as sobrancelhas, quando estava irritado. Seria difícil explicar que não havia plane­jado um encontro, e sua voz estava trêmula quando cumprimentou Abel Winn.

— Que surpresa! — exclamou, convencida de que Alfonso jamais acreditaria nela.

A poucos passos dali, escondido sob o vão da escada, ele con­seguia ouvir apenas o eco das vozes, sem entender o que diziam. Seus músculos estavam rígidos, e evitava respirar para não perder uma só palavra.

— Você já estava dormindo?

— Não, não estava dormindo... Gostaria de convidá-lo para entrar, mas está muito tarde... Claro que estou pensando nisso, mas ainda não cheguei a uma decisão... Sim, vou cumprir o que pro­meti, e lhe darei uma resposta pela manhã. Havíamos concordado com o prazo, não é?... Sim, eu sei, mas, por favor, dê-me mais tempo. Prometo que ligarei bem cedo. Boa-noite.

Ela fechou a porta com cautela, como se receasse acordar uma fera adormecida.

Porém, não sabia que a fera já havia acordado. Foi o que des­cobriu ao fechar a porta e se voltar, deparando-se com Alfonso atrás de si.

— Não sabia que Abel Winn tem o hábito de dar em cima de você depois da meia-noite.

— Ele não estava fazendo isso.

— Então, como chama o que acabou de acontecer?

— Não aconteceu nada.

— Com que frequência tem acontecido "nada" desde que nos separamos?

— Hoje foi a primeira vez que Abel veio à minha casa a essa hora.

— Espera que eu acredite nisso?

— Não me importo se acredita ou não, Alfonso, mas é verdade.

— Por que esta noite?

— Ele queria me agradecer mais uma vez pela festa.

Alfonso resmungou alguma coisa incompreensível, e ela ficou aliviada por não poder ouvi-lo. As poucas palavras que conseguira compreender foram grosseiras o bastante.

— Ele queria saber se eu já havia me decidido sobre o trabalho.

Seguiu para a cozinha, consciente de que Alfonso estava atrás de si como um predador pronto para abater a presa.

— Se você se comprometeu a dar a resposta amanhã, por que Abel veio aqui esta noite? — insistiu tomado pelo ciúme — Não sei onde ele quer chegar! O fato de ser rico e poderoso não lhe dá o direito de dar em cima da minha esposa!

Furioso, Alfonso esmurrou o tampo da mesa, sem notar que havia um copo ao lado do prato com o sanduíche intocado. Ouviu o vidro se estilhaçar no chão, ao mesmo tempo em que Anahi cobria a boca para abafar um grito assustado.

— Droga! — ele reclamou, ao ver sangue cobrir-lhe a mão. Anahi levou alguns segundos para entrar em ação. Correu para a pia e voltou com um guardanapo umedecido.

— Alfonso! Oh, meu Deus! Está doendo? Segure a toalha sobre o ferimento. Está sangrando. — Apertou os olhos ao ver a mancha vermelha tingindo o guardanapo branco. — Você precisa de um curativo! Talvez tenha de levar alguns pontos. Pode me acompa­nhar ao pronto-socorro?

Antes do AmanhecerOnde histórias criam vida. Descubra agora