Curious

3K 346 62
                                    

Na ala mais escura do castelo, as masmorras, Draco estava sentado em sua cama, sem conseguir dormir. Sua cabeça girava, lembrava das férias terríveis que tivera em casa, com as centenas de reuniões com comensais da morte, que falavam por horas com seus pais. Ele ainda não tinha a idade certa para entrar naquilo, então apenas era educado ao sentar na mesa após as conversas. Os assuntos e o clima eram tão pesados, ele odiava tudo aquilo. As intimações feitas por seu pai, para manter sigilo entre os encontros o faziam tremer pela madrugada e ter diversos pesadelos, acordar suando e sem ar. As ameaças eram terríveis e muitas vezes ele sentia certa falta de quando as coisas eram mais leves. Hogwarts era um dos poucos lugares que ele podia ficar sem seus pais, e ainda sim, era vigiado o tempo todo, ouvia comentários ruins ao seu respeito e era sempre visto como alguém ruim.

Ele repetia para sí mesmo, várias vezes e todos os dias: eu não sou meu pai. Mas a frase não parecia surgir efeito. Draco não era ruim, ele foi ensinado a ser frio, não mostrar seus sentimentos. Mas não funcionava assim, sua mente ficava confusa com a perspectiva de ser comensal. Ele não queria! Nunca quis isso para sí, nem sua mãe, apesar de atuar muito bem em frente á Lúcius.

Mas não era especificamente isso que lhe tirava o sono naquela noite, e sim, a dúvida sobre o comportamento de Potter, o garoto um pouco menor que ele, cabelos castanhos escuros sempre bagunçados e a cicatriz tão conhecida na testa, com aquela miopía forte que o fazia usar óculos redondos o tempo inteiro. Nem ele mesmo entendia por que estava tão curioso e intrigado com quem deveria ser seu inimigo, mas a verdade era que o loiro se sentia extremamente culpado por grande parte do sofrimento do garoto, era muito tarde para se redimir? Seu pai o mataria com uns cem crucius se imaginasse ele sendo bonzinho e se desculpando com Potter.

Ouvir os abusos saindo da boca do castanho lhe deixou com o peito apertado, cada um deles conseguindo se superar em ser pior e traumatizante. Os piores e que deixavam Draco com um forte instinto de justiça eram quando Harry ficava sem comer, por castigo. Ou apanhar dos tios por coisas bobas como ter pesadelos e acabar gritando ou fazer xixi na cama quando era apenas uma criança inocente. Sem dúvidas tudo isso, junto com a responsabilidade de lidar com o maior bruxo das trevas atual e proteger as pessoas deixaram o garoto muito doente, não só psicologicamente. O loiro nunca admitiria que reparava o quanto Harry havia emagrecido, não comia direito e tinha o rosto cansado na maior parte das vezes. Era tão errado assim ele querer proteger o garoto?

Provavelmente era, desde que soube a mania dele de chupar o dedo, não conseguiu parar de pensar sobre. Ele já havia percebido a mania incessante de Harry chupar a pontinha do dedo, mas nunca realmente colocar o polegar inteiro na boca e sugar como uma criança. Ele imaginava que aquilo, nas aulas ou quando estava nervoso, era roer as unhas ou algo assim, sem dar muita atenção aos hábitos esquisitos do inimigo. Nem tão estranhos assim, na realidade. Draco tinha a mania de dormir agarrado ao travesseiro, e não era tão diferente assim, era? Apenas um hábito que o acalmava, assim como Harry.

Mas por que ele defendia o garoto em sua cabeça? Ele podia ser visto como esquisito, Draco não ligava! Então, por que tão atraído em ajudar? Em se desculpar e proteger o menor? Ele não entendia por que seus pensamentos estavam funcionando dessa forma. Provavelmente ele estava dormindo tranquilo enquanto ele se martirizava com bobagens.

Virou para o lado na cama, abraçando o travesseiro como de costume e fechado os olhos, tentando não imaginar nada sobre o garoto ou seus pais. Logo caindo em um sono pesado, apesar de que em geral, o loiro tinha um sono leve como pena, sempre muito atento á qualquer mínimo barulho no quarto. Assim como Harry, que do outro lado do castelo, dormia tranquilo enquanto chupava o polegar em meio suas cobertas quentinhas. Talvez eles não fossem tão diferentes assim, como pensavam.

The little boy with a scarOnde histórias criam vida. Descubra agora