Já passara uma semana desde o sonho com sua mãe. E para infelicidade de Harry, esse sonho se repetiu mais algumas vezes ao longo da semana, todos de uma forma parecida, o carinho singelo nos cabelos bagunçados e sorrisos amorosos. Parte de sí queria ficar preso nos sonhos. A outra parte só queria que eles acabassem para poder voltar a dormir normalmente e não precisar acordar as cinco da matina para então chorar como um maldito bebê. Claro que ele tentava ser o mais silencioso possível, não queria ter que explicar algo tão íntimo á seus amigos, não por hora. Mas já devia imaginar quem reparara nisso tudo. Hermione observava o amigo com o olhar cansado, o verde de seus olhos, antes vivos, se tornara escuros e entristecidos. Havia olheiras arroxeadas embaixo de seus olhos e Harry continuava a comer pouco, andava se arrastando pelos corredores e a amiga jurava que vira o amigo quase cochilar em algumas aulas, com o queixo apoiado nas mãos.
Mas, se perguntassem, Hermione não era observadora.
Harry suspirou pela vigésima vez naquela aula, amassando o desenho ridículo que Malfoy havia feito de sí, rabiscando em preto as olheiras abaixo de seus olhos, para zombar de sua aparência cansada. Não tinha sequer paciência e vontade de discutir com o loiro, apenas jogou o bilhete no lixo e não fez contato visual com nenhum dos sonserinos daquele grupinho tedioso. Dessa vez foi Ron que estranhou a atitude do amigo. Geralmente ele fazia contato visual para então revirar os olhos ou mandava um "Vão se lascar" baixinho para o loiro e seu colegas. Mas nem isso? Nem sequer uma discussãozinha aconteceria no corredor após as aulas? Harry estava passando por algo, e ninguém, nem mesmo ele, sabia do que se tratava. Estava exausto e já se perguntava se não poderia ser obra de Você-Sabe-Quem para lhe atormentar. Um exagero, uma paranoia, ele diria. Por que saberia se fosse o mesmo lhe pregando peças para enlouquecer, e naquele momento, não se tratava disso.
Faltavam cerca de vinte minutos para o fim daquela aula. Harry passava distraidamente os dedos em seus lábios, com tédio e não reparando o quanto a atitude singela lhe acalmava. Quase como um hábito de uma pessoa ansiosa, como roer unhas ou balançar frenéticamente as pernas. Aquilo lhe deu mais sono. Mas ignorou e puxou a mão para baixo da classe, se repreendendo, mas sequer sabia por que havia parado. Sentia que era...errado? O sinal foi acionado e eles saíam da sala quando, um Harry distraído foi puxado pelo pulso por Hermione. Ao seu lado, um Ron preocupado que desviava o olhar para o chão, evitando contato visual. Hermione estava vermelha, soltara o pulso do amigo e cruzara os braços. Sua expressão era de indignação e seus cabelos pareciam mais armados que o normal. Hermione parecia uma mãe furiosa após descobrir alguma traquinagem dos filhos.
-Já chega, Harry, o que está acontecendo com você?
-Comigo?
-Sim. Você parece cansado, não come, se arrasta para as aulas e quase dorme nelas, parece simplesmente esgotado!
-Não é nada. Só ando cansado, você acertou.
A amiga suspirou, ainda o observando com aquele olhar de pena que Harry tanto odiava que o lançassem. Suspirou logo depois da mesma. Travando uma briga interna se deveria ou não contar para os amigos. Por hora, pensou que não fosse tao grave, ignorando os pensamentos intrusos que o diziam para contar por que Hermione saberia ajudar.
-Vamos comer?
Disse Ron, quebrando o silêncio. E assim o trio se dirigiu ao salão.
O dia havia sido como sempre, cansativo e extremamente longo, pelo menos para Harry, que tinha sono e mal comera seu jantar. Não tinha apetite para isso. O garoto rapidamente trocou suas vestes e se jogou na cama quente, adormecendo rápido e rezando para que não houvesse mais pesadelos, ou sonhos, não saberia como chamar aquilo. Era gostoso, mas também o torturavam e o deixavam fragilizado.
Mas, nem tudo o que se deseja, pode se ter. Harry acordou duas horas depois de pegar no sono, abrindo os olhos lentamente, não tão assustado dessa vez, mas sim, tinha sonhado com ela novamente. Antes que pudesse levantar e chorar baixinho como fazia á dias, reparou que estava com o dedo próximo á boca, o mesmo contato singelo que havia tido na aula se repetia durante o sono. Harry estranhou, torcendo o nariz para sua atitude. Segurou o choro e tentou dormir novamente, não reparando seus dedos se aproximado de seus lábios inconscientemente e voltando ao carinho calmo naquele lugar, relaxando cada parte de seu corpo, e agora, o fazendo ter um sono tranquilo.
Duas semanas depois e Harry ainda acordava pelo menos três vezes na semana com os sonhos. Agora, seu pai também estava neles, o que tornava tudo mais difícil, era dor e angústia em dobro para o garoto lidar. Quem disse que Harry Potter era forte 100% do tempo? E que era corajoso, valente e destemido todos os dias? Não era uma verdade. Harry tinha medos, tinha saudade de um abraço e carência de algum tipo de contato mais...parental? Ainda não entendia o que estava acontecendo consigo, mas as coisas pioravam gradativamente. O hábito de levar os dedos aos lábios para um toque sútil agora acontecia direto. Esse gesto não o acalmava 100%, mas em parte, diminuia sua ansiedade após os sonhos e conseguia ter um sono mais relaxado. Acordava mais de uma vez durante a noite e chorava por quase uma hora antes de voltar a dormir, isso se conseguisse voltar ao sono. Não comia direito e já sentia tonturas e seu corpo fraco. Sua aparência estava realmente terrível. Sua cabeça dóia e seus pensamentos não o deixavam em paz nem sequer por um segundo.
Após muita relutância, percebeu que nunca conseguiria passar por isso sozinho. E bom, para que servem os amigos? Talvez fosse uma ótima hora para desabafar. Amava Ron mais que a sí mesmo, mas por hora, preferia conversar apenas e em particular com Hermione. Além de que, morria de vergonha de comentar aquilo com seu amigo, imaginou que por Hermione ser uma menina, talvez fosse mais sensível ao assunto. Sabia que a garota era inteligente e provavelmente lhe daria a solução daquilo. Ponderou mais de cinco vezes antes de falar com Hermione. Esperou Ron estar distraído para lhe puxar.
-Ahn...Hermione? Posso falar com você em particular? Mais tarde, se estiver livre.
As bochechas de Harry adotavam um tom escarlate e o garoto coçava a nuca, um hábito comum de quando estava envergonhado ou nervoso. Olhava para qualquer ponto que não fosse a amiga. De primeiro, a garota ficou confusa, mas logo assentiu.
-Claro. Me encontre na biblioteca as 18:30. Rony terá uma ajuda para reforço em herbologia com Neville e ficaremos sozinhos. Francamente, não sei como alguém consegue se sair mal em herbologia.
-É...
-Não se atrase.
A garota virou as costas e foi embora, os cabelos armados balançando enquanto ela andava. Hermione era pontual e perfeccionista quando se tratava de horários. Logo Ron voltava e Harry tentou despistar o assunto com conversas aleatórias. Não queria seu amigo magoado por lhe excluir daquilo. Sua cabeça ainda latejava e se perguntava o que diria á Hermione quando chegasse a biblioteca.
O resto do dia foi uma tortura para Harry. Pensava em um script completo de como contar á sua melhor amiga que anda tendo sonhos incríveis mas que o machucavam e não conseguia comer ou dormir por conta disso. Parecia patético e extremamente imaturo. Mas agora ele não poderia dar para atrás, mesmo que conseguisse, Hernione bateria o pé e o faria falar á força. A garota sempre conseguia o que queria dos dois garotos, mandona e superprotetora que só ela.
Já eram por volta de 18:25 quando Harry se dirigiu á biblioteca. Sua mochila parecia ter dez kilos de tão pesada que a mesma se encontrava. Sabia muito bem que aquilo era efeito do nervosismo pois dentro do objeto havia poucos livros, pena, tinteiros e pergaminhos. Com o rosto vermelho, ele ainda imaginava como contaria tudo para a amiga, conhecia a mesma, sabia que faria de tudo para lhe ajudar e nunca riria de seus problemas, mas ainda sim, tinha medo dela lhe achar louco. Até por que...como explicar que esta sofrendo com sonhos/pesadelos como uma criança chorona?
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The little boy with a scar
RomanceHarry Potter, o grande garoto corajoso e valente que não sente medo. Mesmo? E se o "grande" garoto não for tão grande assim e esconder segredos que poderiam atordoar qualquer um que tenha a visão deturpada do "garoto que sobreviveu" sendo forte 100%...