Querido diário...
"Que ódio! Tudo dá errado! Aff! Queria que ela passasse por metade do que eu passo:
*provas de física
*encontrar todo dia a Ju (invejosa e chata)
*suportar ser ignorada pelo Zeca... (Isso é o pior).
E vejo aquilo todos os dias! Ele estava aqui agorinha. Ficou me olhando por horas e depois sumiu como sempre."
...
― Ai! Que merda Carol! O que você ainda está fazendo em casa? Já não falei que você não pode mais faltar às aulas? O que pensa da vida? Vai acabar como dona de casa e tendo que trabalhar na rodoviária como guarda de banheiro!
― Você quer dizer que vou acabar como você? — a menina olhou com uma cara de cinismo que ela detestava. Era idêntica ao do pai na maioria das vezes.
― Não sei se você sabe, mas sou fotógrafa profissional, estudei muito pra isso!
― Grande coisa! Tirar foto? Qualquer um consegue isso. É só pegar a câmera e apertar um botãozinho. Até minha gata dá conta de fazer... ― disse revirando os olhos e dando as costas para a mãe.
A mãe olhou para a sandália da filha que estava largada em um canto do quarto que mais parecia Nova Orleans depois do Katrina.
A vontade era de dar uma surra naquela menina teimosa, birrenta, atrevida e desaforada. Porém, limitou a respirar fundo enquanto a observava.
Carolina se vestia de preto desde que o pai se foi, a maquiagem sempre pesada, piercings... Fez duas tatuagens escondidas da mãe, e depois que foi descoberta não parou mais, já tinha umas oito espalhadas pelo corpo.
Enquanto a olhava, Joana lembrou-se de quando esta mesma menina era o seu bebê. Um anjinho ruivo de bochechas rosadas e grandes olhos verdes. Lembrava o pai em muitos aspectos da sua personalidade. Desde nova era geniosa, arteira, e muito curiosa. Tudo a encantava quando criança. Era atenta e muito inteligente. Lembrou-se uma vez em que o pai a levou até o laboratório para ver a mãe trabalhar e a pequena destruiu várias fotos que estavam todas em um DVD jogando-o pela janela. Claro que desceram as escadas iguais dois loucos até chegarem à rua. Claro que quando chegaram já era tarde o DVD tinha se amalgamado com o asfalto graças aos carros.
― Não quero ser você, que nem mesmo conseguiu segurar o homem que tinha. E agora fica aí... Namorando um Zé ninguém. Meu pai ao menos era um Juiz!
― Olhe aqui mocinha! Eu não lhe dou o direito de falar assim comigo! Em primeiro lugar o Roberto não é um "Zé ninguém", ele é Jornalista e uma ótima pessoa!...
― Jornalista? — sorriu debochada. ― Sério? Mãe! Ele não passa de um "colunistazinho" de um jornaleco de cidade do interior. Já reparou que ele nunca tem dinheiro para nada? Eu nunca vi nada do que ele faz dar certo.
― É, se você lesse mais e estudasse mais, ao invés de ficar aí deitada ouvindo música ou no celular com suas amigas conversando merda o dia inteiro iria perceber que existe um mundo lá fora muito vasto e interessante muito além de tudo que pensa saber. Um mundo cheio de coisas novas, todas prontas para você descobri-las.
― Você não sabe de nada! Não entende! Meu pai saberia. Ele entenderia...
Viu as lágrimas brotarem dos grandes olhos verdes: "Será que esta menina ainda não compreendeu que ela e o pai não eram mais felizes? Já fazia tanto tempo! Bom, não fazia tanto tempo assim, três anos apenas."
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Sobre Assassinos e Medos
TerrorEste é um livro que reúne alguns contos. Os quais narram sobre o íntimo, o medo e assassinos imperdoáveis... ou não! "Não separe com tanta precisão os heróis dos vilões, cada qual de um lado, tudo muito bonitinho como nas experiências de química. Nã...