Capítulo 6

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Meus inimigos, a quem nunca fiz mal,
caçaram-me como se eu fosse um pássaro.
Num poço me jogaram
e atiraram pedras sobre mim.
A água subiu acima de minha cabeça
e clamei: "É o fim!".

Mas, lá do fundo do poço,
invoquei teu nome, Senhor.
Tu me ouviste quando clamei: "Ouve minha súplica!
Escuta meu clamor por socorro!".
Sim, tu vieste quando clamei
e disseste: "Não tenha medo".
(Lamentações 3:52-57)

Depois daquele dia, Anastasia e Narumi se viram bem mais

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Depois daquele dia, Anastasia e Narumi se viram bem mais. Especificamente, (quase) todos os domingos e todos os dias da semana, quando a primeira levava as flores encomendadas. Por consequência, Hansuke também era avistado às vezes. Quase nunca durante a semana — mais durante os domingos, quando conseguia ir aos cultos. Semanas depois, aquele era um dos dias em que Hansuke pôde ser visto: o batismo de Narumi.

Apesar de estarem em meio a uma guerra, naquela semana haviam tido um pouco mais de paz na ilha. Haviam chegado poucos navios de soldados feridos da Europa continental, então Hansuke e Narumi tiveram aquele dia de sábado livre. A igreja organizara um batismo coletivo, então havia várias pessoas reunidas no Weid iċ-Ċawsli — ou Leito das Frutas. A saber, a Ilha de Malta não possui nenhum rio ou lago, em vez disso, há leitos de rios quase sempre secos que apenas se enchem quando há chuvas fortes. Naquele sábado, aquele leito havia se transformado em rio, então todos estavam ali para iniciar o batismo antes que secasse.

Anastasia estava especialmente exausta naquele dia. Havia virado a noite com outros voluntários preparando comidas e decorações — era tudo em grande quantidade, menos os voluntários.

O pastor Anthony parecia estar em todos os lugares para que alguém olhasse, caminhando o tempo todo e recebendo as pessoas. Sua filha, por outro lado, estava sentada, encostada em uma árvore estupidamente espessa, com olheiras e quase dormindo. Facilmente, era a pior pessoa em disfarçar cansaço naquele lugar. O cabelo estava preso num coque para disfarçar um pouco o desgrenhado, o vestido lilás tinha pequenas manchas de muito tempo de trabalho.

Uma figura surgiu pela visão periférica dela. Anastasia ergueu os olhos para encontrar uma Narumi sorrindo, quase quicando de felicidade e Hansuke com um sorriso leve atrás dela, carregando um copo de algo. Narumi estava com vestido branco e Hansuke usava um colete e calças cinza sobre uma camisa branca de botões, além de sapatos pretos.

Narumi cumprimentou Anastasia em poucos segundos e partiu para o local onde o grupo de pessoas que iriam se batizar estava reunido ouvindo alguma coisa do pastor Anthony. Hansuke contornou Anastasia e se sentou ao lado dela, encostando-se na árvore também.

— Você virou a noite? — ele pulou cumprimentos.

— Sim... não sei como vocês fazem isso direto lá no hospital.

— Você se acostuma logo nas primeiras semanas.

— Espero que eu não precise mais virar noites, sinceramente — ela sorriu de olhos fechados.

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