"Os filhos dos teus servos habitarão seguros, e a sua descendência ficará firmada diante de ti." (Salmos 102:28)
Nas semanas seguintes, Anastasia passou todo o tempo livre em idas à biblioteca. Na sessão de livros de cultura estrangeira, pegou tudo que se referia ao Japão. Encomendou livros específicos sobre cultura japonesa e, até mesmo na floricultura, podia ser encontrada com um livro sobre o Japão em mãos.
Leu sobre imperadores, sobre literatura, arte, história geral, guerras, problemas com a Coreia e China, samurais, cultura da honra, tradição, religião, casamentos, funerais, geografia, lendas, personalidades históricas.
Descobriu que viviam o período Taisho na monarquia naquele ano. Descobriu que davam muitíssimo valor à honra e eram muitíssimo nacionalistas. Descobriu uma coisa chamada sushi — o que lhe pareceu ruim — e leu muito sobre cerejeiras. Descobriu como cuidar melhor daquela árvore e os cuidados específicos que ela exigia, e tudo estudou para garantir a sobrevivência da árvore sakura longe de casa.
Em uma de suas leituras, descobriu algo chamado kintsugi. De acordo com suas leituras, kintsugi era a arte de consertar coisas quebradas com, veja só, ouro! Uma teoria sugeria que, centenas de anos antes, uma tigela de chá de um general havia se quebrado, então ele a enviou à China para ser consertada. Insatisfeito com os grampos feios que usaram para reunir os pedaços, ele recorreu aos artesãos japoneses, que usaram o método de unir os pedaços novamente com fios de ouro, deixando-a utilizável e bela novamente — logo, tornando-se tradição.
A filosofia advinda desembocava na aceitação da imperfeição: em reconhecer que aconteceram eventos danosos na vida daquele objeto, mas que nem por isso deveria esse ser descartado ou menosprezado. Pelo contrário, deveria ser consertado, tornando-se ainda mais valioso, belo e cheio de significado.
Assim como nós. Nossas marcas, falhas e cicatrizes são espaços a serem curados e preenchidos pelos fios de ouro de Cristo. Nossas marcas, falhas e cicatrizes não nos tornam menos valiosos. Contudo, sim, podem nos desviar ou nos deixar inúteis a nosso propósito.
Mas podemos ser consertados. Todos nós: dos ladrões aos adúlteros, dos mentirosos aos fofoqueiros, dos egoístas aos incrédulos, dos covardes aos sádicos — e a lista de defeitos é infinita. Como cartas vivas que mostram o poder e o amor de Deus, podemos ser consertados em nossas pequenos corpos e personalidades com graça que vem do alto, algo muito mais valioso do que nós — pois quão mais valioso que a porcelana é o ouro?
As feridas e defeitos cicatrizados de alguém com ouro que vem do alto agregam ainda mais testemunho e história àquele indivíduo — não terá valor maior, pois todos já nascemos com valor inestimável (se não fosse assim, o único Deus não teria morrido por nós pecadores), mas terá alcance maior. Alcançará mais pessoas, terá autoridade em mais assuntos, ajudará mais. Aqui, o "valor" da peça pode ser substituído por alcance da pessoa.
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Kintsugi
SpiritualSe eu dissesse que todos ainda podemos ser felizes, você acreditaria? Acreditaria que apesar das decepções, desilusões, pecados e abusos inimagináveis, todos ainda podemos ser completos? Pois eu posso lhe contar uma história em que isso aconteceu: u...