Capítulo 16

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"Assim, descobri que o melhor e o que vale a pena é comer, beber, e desfrutar o resultado de todo o esforço que se faz debaixo do sol durante os poucos dias de vida que Deus dá ao homem, pois essa é a sua recompensa.
E, quando Deus concede riquezas e bens a alguém, e o capacita a desfrutá-los, a aceitar a sua sorte e a ser feliz em seu trabalho, isso é um presente de Deus.
Raramente essa pessoa reflete no fato de que a sua vida é curta, porque Deus o mantém ocupado com a alegria do coração."
(Eclesiastes 5:18-20)

Finalmente passaram da terra para a vegetação do dito penhasco

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Finalmente passaram da terra para a vegetação do dito penhasco. Era um local grande o suficiente para construir algumas casas, mas a única "habitante" era aquela árvore magra, escura e seca da altura de uma pessoa que estava sempre exageradamente curvada pelo vento, dando um aspecto sombrio ao local. A charneca que cobria o solo estava especialmente escura e seca, pois o inverno já começara a castigar a vegetação há semanas. As poucas urzes lutavam para sobreviver, adicionando um pouco de cor ao local.

O céu cinza quase preto e o mar tão escuro quanto o céu, somados ao vento cortante gelado, faziam daquele lugar um perfeito cenário de um romance gótico. Por alguns segundos, Nasia se sentiu dentro de O Morro Dos Ventos Uivantes.

Eles caminharam até a beirada, suspirando com a vista do mar e ouvindo as ondas arrebentando nas pedras lá embaixo, na encosta do penhasco altíssimo. O vento ergueu seus casacos e cabelos, fazendo com que o casaco de Hansuke se abrisse em torno dele e para trás, quase como asas.

O cabelo de Nasia rodopiou em torno de si mesmo para cima como um redemoinho com uma lufada de vento, o que fez com ela abaixasse o rosto para dentro do casaco e se encolhesse.

Estava tudo no mais perfeito silêncio — fora as ondas. Não havia gaivotas ou qualquer tipo de passarinho cantando: todos já haviam se recolhido antes da hora favorita de Nasia. Eles pareciam ser os únicos seres dispostos a ficar naquele frio e naquele vento ao cair da noite.

— O Japão fica naquela direção — ele apontou com a cabeça para o horizonte, dando um sorriso calmo.

— Aquela? — ela apontou diretamente para frente.

— Não — ele caminhou levemente para trás dela e segurou seu punho, mudando sua mão de exatamente de onde o sol nascia para um pouco mais à esquerda.

— Um pouco ao norte do nascer do sol — ele falou baixo. — É de lá que eu venho.

Um pouco ao norte do nascer do sol — ela repetiu baixo. Era para lá que ele certamente voltaria, também, mas ela não sabia quando e nem quando isso iria acontecer. Mas sabia que viagens desse tipo levam meses: o Japão não era nem um pouco perto. Ela suspirou e amoleceu o braço, deixando que descesse ainda com Han segurando seu punho. Por fim, ele a soltou e ela buscou nos próprios bolsos as sementes.

Virou-se para ele erguendo os pacotinhos de papel e voltando a sorrir. Contornou-o e foi para algum local mais ou menos próximo de onde havia plantado flores antes.

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