Capítulo 23

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"O Senhor proclamou aos confins da terra: Digam à cidade de Sião: Veja! O seu Salvador vem! Veja! Ele traz a sua recompensa e o seu galardão o acompanha." (Isaías 62:11)

Minha querida Nasia,

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Minha querida Nasia,

Não consigo sequer expressar o que sua última carta me fez sentir. Seu pai sabe... e já faz meses! Mas não se preocupe com qualquer coisa. Quanto a isso, saiba que já faz uns dias que falei com minha mãe sobre você, expressei meus desejos e anseios. Ela sorriu de forma sincera e concordou com tudo que eu disse, dizendo que confiava nos meus julgamentos e nos de Narumi. Está mais do que ansiosa para lhe conhecer e às vezes fala sobre você mesmo que nenhum de nós dois estejamos falando, pergunta "quando é que vou conhecê-la, hm? Temos que nos apressar, tem que ser logo ao chegarmos!". Em seguida costuma pedir opiniões de roupas para a ocasião. Assim que chegarmos, conversarei com seu pai.

Aqui é outono, mas suas cartas sobre toda a flora japonesa me fazem praticamente ver à minha frente todas as plantas das quais você fala. Sim, suas assunções estão corretíssimas aos olhos de quem as viu por uma vida inteira... você é uma ótima profissional da área.

Quanto aos apartamentos, não será necessário, pois Narumi já havia conversado com uma pessoa antes mesmo de vir para cá; nesse aspecto, tudo resta praticamente pronto. Quanto a mim, tenho sondado uma propriedade específica para comprar com minha parte da herança a fim de continuar minha vida na Ilha de Malta.

Essa minha carta é bem mais curta do que as outras duas, mas há motivos para isso: estamos, finalmente, de partida. Muitas coisas já estão encaixotadas e em malas. Falta pouco mais de uma semana para partirmos! Isso significa que eu chegarei a você pouco mais de uma semana depois dessa carta e quero contar-lhe pessoalmente tudo. Tudo.

Quero falar até não ter mais voz e observar cada reação sua. Quero guardar todos os pormenores para falar com você de cada assunto vinte vezes. Falarei do céu, do chão, das casas, das pessoas, do ar. Com isso em mente, finalizo minha última carta para você escrita daqui do Japão. Não quero ter que trocar mais cartas com você, se é que me entende. Até daqui a alguns dias.

Hansuke Hirai.

Ela havia recebido aquela carta pouco mais de uma semana atrás. Naquele dia, estava segurando-a no meio do porto. Ela estampava um sorriso ansioso no rosto.

Era inverno de novo, exatamente da forma quando ele fora embora, um ano atrás. Ela usava um casaco lavanda com botões e detalhes brancos na gola e mangas, justo na cintura e que descia-lhe até os joelhos. Dali, um vestido branco cobria-lhe até os tornozelos. Junto, usava uma bota também branca.

Ela segurava a carta firmemente, resistindo aos ventos frios de inverno que sopravam impetuosamente. Atrás dela, o pastor Anthony, com um casaco preto; Laura, com um trench coat bege e Linda, com um casaco reto branco, se alinhavam.

Ela perdeu o ar quando um navio a vapor pôde ser avistado ao longe. Eram eles! Sabia! Tinha certeza! Ela se virou para trás sorrindo, com expectativa, recebendo sorrisos um pouco mais fracos em resposta.

Quando o navio Himari finalmente atracou e a ponte foi estendida até a madeira do porto, o mundo pareceu girar um pouco mais devagar. Hansuke... Hansuke! Ele usava um casaco preto e vasculhava todo o local com os olhos, carregando uma mala na mão direita. Quando a viu vindo em sua direção, guardando a carta no bolso do casaco, apertou o passo para descer pela ponte. Assim que se encontraram, já no porto, ele colocou a mala no chão.

Abriu os braços e sentiu o impacto de Nasia contra seu corpo. Ele havia sentido tanta, tanta falta dela. Havia sentido falta daquele cheiro doce emanando dos cabelos castanhos, daquela altura perfeita para abraçá-la e apoiar o queixo no topo de sua cabeça. Era tão, tão bom poder envolvê-la novamente em seus braços!

Nasia abraçou-o de volta, agarrando seu casaco. Respirou fundo. Haviam conseguido, haviam passado por aquela prova. Ela se permitiu sentir a quente temperatura dele, deixou-se permanecer em paz, sendo protegida dos ventos de inverno pelos braços dele. Recostou sua cabeça nele, quase sentindo-se derreter. Sentiu seu coração bater tão forte quanto uma marreta no peito: o suficiente para fazer os cabelos sobre o casaco tremerem com as batidas.

Nasia — ele sussurrou e fechou os olhos, abaixando a cabeça. — Senti tanto a sua falta.

Eu também senti a sua falta, Han — ela respondeu com aquela tão amada voz doce.

Anastasia!!! — ouviram uma voz feminina estridente e animada ressoar.

— ... e lá vem a minha irmã — ele afrouxou o abraço, permitindo que Nasia se esticasse para ver, detrás de Hansuke, uma japonesa correndo ponte abaixo, animadíssima e carregando várias bolsas.

Narumi!!! — ela gritou de volta, partindo ao seu encontro.

Hansuke travou no lugar ao encontrar os olhos do pastor Anthony cravados nele com uma expressão indecifrável. Até a saliva que ia engolir paralisou em sua boca. O pastor parecia observar cada movimento dele com máxima atenção. Talvez pudesse ouvir seus pensamentos, também.

"Pai nosso, que está nos céus..."

Ali do lado, Anastasia e Narumi colidiram e se abraçaram com todo o afeto possível, separando-se para dar animados pulinhos uma segurando a mão da outra, como duas crianças animadíssimas. Enquanto elas diziam como sentiram falta uma da outra, uma mulher que aparentava ter o dobro de suas idades achegou-se.

Ela era mais alta do que ambas, mas não tanto quanto Hansuke. Era uma mulher japonesa com cabelos negros presos num coque. Ela usava um casaco marrom claro que descia-lhe livre pelo corpo, com uma chamativa gola de longos pelos um pouco mais escuros na gola. Ela andava ereta e seu porte era elegante, acentuado pelo batom vermelho que usava.

— Então você é Anastasia... — ela sorriu. Suas palavras eram cândidas e calmas, proferidas baixo e com um sorriso esperançoso e tímido na face. — Estive muito ansiosa para lhe conhecer — ela falava conforme o sorriso crescia. Seu sotaque era puxado, mas nada que dificultasse a comunicação. — Eu sou Eiko Hirai, mãe de Hansuke e Narumi.

— É um prazer, senhora — Nasia deu seu melhor sorriso para a senhora Hirai.

Sem que Nasia visse, Han foi até o pastor Anthony. Os grupos de conversa se dividiram em dois enquanto esperavam que a bagagem fosse descarregada: Narumi, Eiko e Anastasia; Hansuke, Anthony, Laura e Linda. Após os primeiros dez minutos, naturalmente se fundiram em um só, acertando que já no dia seguinte os Hirai seriam recebidos para um almoço na casa dos Livingstone.

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