"O Senhor te guiará continuamente, e te fartará até em lugares áridos, e fortificará os teus ossos; serás como um jardim regado, e como um manancial, cujas águas nunca falham. E os que de ti procederem edificarão as ruínas antigas; e tu levantarás os fundamentos de muitas gerações; e serás chamado reparador da brecha, e restaurador de veredas para morar." (Isaías 58:11-12)
Anastasia se abaixou para varrer por baixo do último banco do lado esquerdo. O culto das sete havia acabado há pouco mais de uma hora naquele domingo. O pastor Anthony estava falando com duas ou três pessoas que ficaram para conversar, desabafar e pedir aconselhamento. Ela sacudiu a mão direita, encarando-a: a vassoura de palha fizera — de novo — alguns calos próximos aos dedos. Respirou fundo, quase finalizando o trabalho, quando uma das três pessoas passou por ela, se despedindo. Ela acenou de volta e sorriu. Olhou para a outra direção, vendo seu pai entrar no gabinete com o casal que ficara: os Greech, reconhecidamente passando por uma crise.
Pela mais pura curiosidade, voltou-se novamente para a porta, a fim de ver o outro membro ir embora, quando algo lhe fez parar: ela viu uma moça, praticamente de sua idade, parada na porta da igreja. Ela tinha longos cabelos negros, olhos repuxados — mas ainda assim arredondados — e uma rala franjinha que ia até os olhos. Estava de uniforme branco de enfermeira e com uma expressão consternada.
Anastasia se endireitou, encostando a vassoura no banco e chegando mais perto. A moça tinha juntado ambas as mãos na frente da barriga, apertando as mãos uma na outra com força. Olhava apreensiva para dentro da igreja vazia, como se procurasse algo.
— Boa noite — Anastasia falou da forma mais calma e doce que pôde, para não a assustar.
— Boa noite — ela respondeu, finalmente percebendo a presença da outra. — Eu me atrasei?
— Um pouco — Anastasia respondeu.
A japonesa abaixou a cabeça, cerrando os punhos. Permaneceu inerte por alguns segundos, até finalmente trazer ambas as mãos ao rosto, escondendo-o. Curvou-se e abaixou-se cada vez mais, até finalmente se agachar. Permaneceu ali, de cócoras, e começou a tremer: estava chorando.
Anastasia arregalou os olhos e os piscou algumas vezes, estupefata e sem entender o que estava acontecendo. Então, finalmente, fechou os olhos por alguns segundos, fazendo uma oração rápida: "Pai, por favor, me ajude a falar coisas boas, frutíferas, de acordo com o seu coração. Em nome de Jesus, amém".
Caminhou até o lado da outra e se agachou ao lado dela, quase encostando sua perna direita na perna direita dela.
— Eu sinto muito — ouviu-a dizer baixo. — Eu sinto muito...
— Eu sei que sente — estendeu os braços em volta dela e abraçou-a de lado, encostando sua cabeça na dela e fazendo carinho em suas costas com a mão direita. Ficou ali um ou dois minutos, então finalmente voltou a falar: — Por que não entramos?
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Kintsugi
SpiritualSe eu dissesse que todos ainda podemos ser felizes, você acreditaria? Acreditaria que apesar das decepções, desilusões, pecados e abusos inimagináveis, todos ainda podemos ser completos? Pois eu posso lhe contar uma história em que isso aconteceu: u...