2020: O Rapaz em Tratamento, Primeira Pessoa, Devaneios Tomando Forma

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Olá me chamo Neitam, logo você saberá mais sobre mim, mas hoje eu quero te contar uma história atual um tanto peculiar. Eu me dirigi ao local onde faço tratamento, um CAPS, isso mesmo, é uma grande casa num terreno repleto de natureza onde atuam: psicólogas, psiquiatras, enfermeiras, a terapeuta ocupacional e etc. E de repente, Mariane, a enfermeira chefe, uma mulher baixa dos cabelos lisos grisalhos, me chamou para conversar - assim que cheguei lá. - Ela disse:
- Neitam, alguns grupos aqui dos quais você participa estão aderindo ao sistema de tutoria.
- Como assim tutoria?
- Os pacientes mais velhos devem acompanhar a melhora dos mais novos e podem até receber dinheiro por isso. - Contou a enfermeira, como quem é contra.
- Não concordo! - Concluo e acrescento: - Se há renda no tratamento deve ser dividida igualmente, pois todos temos maior idade.
- Eu compreendo. - Diz ela e faz um pedido: - Por favor reúna os pacientes para reclamar com os profissionais dos grupos, tais como, a psiquiatra.
Acenei com a cabeça e me dirigi aos bancos onde estavam sentados os mais jovens:
- Pessoal?! Ficaram sabendo da tutoria?
- Sim. - Disse um rapaz.
- Achei uma vergonha! - Disse outro.
- Eu vim pedir para nos unirmos, pra conversar com os profissionais e rever isso, e que toda a arrecadação seja dividida igualmente!? - Pedi e sentei junto com eles.
De repente um dos pacientes mais velhos, que eu não conhecia, veio em minha direção e exclamou:
- Eu sou a favor da tutoria sim! E você por que não fica na sua?! - mexeu os braços em pé, diante de mim, como quem quer intimidar.
- Eu vou reunir um grupo se quiser faça o mesmo! - Retruco.
- Você vai ver o que eu vou fazer!- me ameaçou, e em seguida eu levantei, ele me empurrou e agarrou no chão.
Todos os pacientes ficaram em volta formando um círculo, mas ainda não reagiram. Eu lutei contra ele até que ele sacou uma pistola, segurei a mão dele e tapei o buraco da arma com meu dedão. "Vou perder a mão!", pensei, e enfim ele direcionou a arma para o meu peito e eu a empurrei, a mira foi parar na minha cabeça, eu pensei: " É o fim", até que uma moça, pálida como uma manhã de inverno, dos cabelos lisos volumosos, como que lavados pela água da chuva, e olhos castanhos claros, com uma camiseta do Tame Impala deu um chute na cabeça dele e eu consegui tirar a arma da sua mão e pegar pra mim. O senhor tentou correr e fugir mas eu mirei nele e puxei o gatilho. Errei todos os tiros, a munição acabou, uns aplaudiram outros ficaram quietos, guardei a arma e fuji para minha casa, chamei por minha mãe e ela apareceu depois de parar de regar as plantas, eu contei vagamente:
- Mãe eu quase levei um tiro! Estou com a arma do crime vou levar a polícia!
Minha mãe ficou pasmada e disse para eu ir mesmo e depois esperar por ela pois iria buscar ajuda.
Chego na delegacia e algo me pareceu suspeito, entrei na ponta dos pés e escutei a voz do senhor com quem briguei, ele disse:

- Vim denunciar um caso de terrorismo e agressão física vindo de um esquizofrênico.
Escutei isso, e sai vagarosamente da delegacia e depois fuji correndo para casa. Têm dois amigos me esperando lá o Emer e o Léo.
-

Estávamos te esperando. - Conta Léo.
- Sim. Você demorou! - Afirma Emer.
- Entrem! Vocês não vão acreditar no que aconteceu!
Abri a porta e entramos, tranquei a porta e contei a história para eles:
- [...] e então uma menina com uma camiseta do Tame Impala deu um chute na cabeça dele e eu consegui pegar a arma, atirei nele quatro vezes mas errei todos os tiros e a munição acabou, aqui está a arma! - Mostro a eles. - E depois contei a minha mãe e ela foi buscar ajuda, depois eu fui a delegacia e acreditem! Ele estava lá dando queixa de terrorismo e agressão física vindo de um esquizofrênico, eu não sou isso e se eu fosse...
- Seria um álibi! - Interrompe Léo e conclui. - Mas ele está mentindo.
- E essa menina alternativa, mano? - pergunta Emer com um sorriso maroto.
- Eu sei... Gostei dela. Vou ouvir muito Tame Impala depois disso tudo para ter sobre o que conversar com ela...
- São o meu fraco também essas meninas alternativas! - Desabafa Léo.
Chega outro amigo, é o João, ele pergunta:
- Posso entrar?
- Melhor não! - Eu digo. - Estamos cheios de problemas hoje e...
- Deixa ele entrar? - Pede Léo. - Você vai ter mais um álibi
- Quer dizer, pode entrar!
Abri a porta com a chave, ele entrou, e tranquei novamente.
- Por que a porta está trancada? - Pergunta João. - E você falou em álibi?
-Não! - minto.
- Churrasco árabe, ele falou! - Afirma Emer.
- Nunca comeu Quibe? - Pergunta Léo.
De repente todos escutaram um barulho vindo do banheiro, - será que alguém entrou pela janela? - E eu sussurrei:
- Vamos fugir! Me escutem! - E abri a porta.
De repente escutei a voz da minha mãe chamando pelo meu pai:
- Ô Oswaldo?! Oswaldo?!
E eu acordei.
Foi tudo um pesadelo, mas realmente me apaixonei pela menina com a camiseta do Tame Impala e vou ouvir mais da banda.
Tirar algo de bom e tal, do caos atual que foi esse sonho. Suponho que você tenha se afogado, no que foi aqui contado.

O Rapaz em 6 Carros e O Urso PardoOnde histórias criam vida. Descubra agora