Amigos Tentando Ajudar - Eu era um Urso Pardo

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Eu entrei no ônibus e me sentei discretamente na frente esperando para dar uma multa e descer no terminal de Parnaíba, perguntei para uma moça que estava em pé, onde seria a manifestação pois lembrei que o Baque e o Bebê me convidaram para uma no Facebook e aparentemente seria no dia da votação, segundo turno, ela disse que não sabia mas provavelmente seria na rodoviária, eu assenti porém lembrei que eu estava mentalmente cansado, não é sempre que você pensa que sua família te traiu e está contra os seus ideais, então eu pensei em evitar a manifestação de início pois a elite podia me encontrar lá eu estava pronto para um combate pois eu não tinha nada a perder, mas o embate seria em uma localização de minha escolha, e eu sabia que lugar era esse e iria até lá, e eu sei que você também vai nele...
Desde sempre o lugar era aquele.
Eu desci do ônibus um ponto antes do terminal e atravessei o Paulistão correndo eu iria na casa do Baque pedir abrigo, chego lá vermelho de estresse e a mãe dele me recebe, eu pedi para ela ligar para ele e falei que sou "amigo", e apenas isso, ele atende pelo celular da Selene que está radiante em uma foto com maquiagem gótica na foto de perfil:
- Alô?
- Baque é o Neitam eu não tô bem é... Muito estressante... Eu devo ter algum problema psicológico... Minha família quer me internar e eu tô te procurando aqui... Só... Por quê... eu... sou gay...
- Calma!? Você não tem nenhum amigo que possa buscar? Em casa você não pode ficar...
- Mas você não é comunista???
- Olha suas ideias?!
A mãe de Baque parece incomodada e comenta que me internaria também pois pelo meu tamanho eu não poderia ser gay, Baque pede para eu passar o celular para ela, e eles falam alguma coisa enquanto eu entrei em uma crise de ansiedade, no final a mãe dele pede para eu dar uma volta e voltar depois, e diz que Baque vai chamar o Bebê para me encontrar na praça no cloreto, eu falo algo aleatório como dizendo que não votei ainda e não tô pronto para morrer, todos ficam confusos e ela me insiste para ir a praça, pois o Bebê estava indo para lá, e eu vou meio tonto sentindo que ia desmaiar ou pirar, numa crise severa de ansiedade.
Cheguei na praça e vi uma sequência de carros pretos passando e eu os interpretei "você" "vai" "morrer..." e por causa disso eu não entro no cloreto, que tem uma escadinha, e sentei em um dos bancos embaixo, em volta meio abaixado e escondido o fato de eu usar branco e verde fez eu me sentir mal também, mas eu tento não pensar nisso e vi em seguida uma sequência de carros brancos passando, aquilo significava que eu iria enlouquecer, e então eu estremeci, vi o Bebê chegando e continuo sentado no banco meio abaixado, achando que ele não me via e chegaria discretamente para conversarmos, ele vem em direção ao centro da praça, olhou o cloreto e não me viu avançou um pouco e me encontrou ele parecia preocupadíssimo:
- Por que você não esperou no cloreto?! - Bebê pergunta
- O caminho para a revolução é a minha loucura ou a minha morte , e não estou preparado pra levar um tiro na cabeça! - Eu respondi
- Você quer ir ao médico?
- Eu posso ir... Liga pro Baque aí antes?! Você não tá me entendendo...
- Tá bem...
Ele ligou e Baque atendeu, ele fala que vai para o hospital me esperar lá, e que iria tentar me ajudar...
Eu respondi
- Vocês vão me dar um tiro na cabeça enquanto eu estiver no cloreto?! Para eu ser o símbolo da revolução??!
- Não mano... Só vem até o médico! Por favor?!
- Tá bem...
Eu e o Bebê vamos andando e eu contei no caminho que estava sem dormir e tinha tomado a água com pontinhos pretos que era um veneno e que depois quase fui pego com um traficante...
- Você tem problemas em casa né?
- É relativo... - Eu respondi e ele continuou:
- Não... É só que tipo... Você fica mal as vezes e vê coisas ruins, e se senti melhor com amigos como quanto está com a gente, certo?
- Atualmente sim, mas tem o contexto histórico de agora...
Peço um cigarro para um pedestre perto do hospital e pareço relaxar um pouco ao fumar mas ainda estou aflito, quando Bebê me pediu para apagar o cigarro e entrar para ser atendido, apaguei de má vontade e fui para a sala da enfermeira sozinho, ela me ouviu com minha voz cansada eu narrar que bebi a água com pontinhos pretos e que provavelmente era veneno ela ouviu impressionada ou era o que pareceu e escreveu na ficha algo que começava com "alucinações" e eu estremeci novamente pensando que estavam tentando me passar por louco, mas eu iria até o fim para provar que eu era o maior revolucionário do Brasil e que muitos estavam contra mim, depois uma moça de outra especialidade me atendeu e me passou Risperidona para tomar e um soro, depois ela foi até a sala do soro e comentou:
- Seus pais estão lá fora. E seus amigos que te deram drogas estão sentados na área verde, se despeça deles e vá embora com seus pais, okay?
Eu estremeci, eles não me deram droga nenhuma... Notei o que estava escrito no soro: "ácido de cloreto de sódio" eu falei para a moça que havia bebido mas tinha sido muito pouco, mas naquele momento o que pensei mesmo foi que me deram mais veneno, mas já estava quase acabando era tarde de mais, esperei o soro acabar e tirei a entrada venosa para guardar e descobrir mais sobre o veneno depois e fui para a área verde, Baque estava lá e eles perguntaram se eu estava melhor eu assenti, depois eles me deram um pão com mortadela para eu comer depois. Falei que teria que ir embora com meus pais mas não queria, eles pareceram ficar cabisbaixos e um pouco tristes.
Eu voltei para a sala da médica dessa vez com a minha mãe e o amigo dela que veio dirigindo e iria tentar me levar de volta com ela, fica na sala de espera, eu confronto a médica com a minha fala:
- O soro que vocês me deram... Ácido de cloreto de sódio... Eu vou morrer!
E a médica responde:
- Você vai morrer apenas se usar drogas.
E minha mãe assentiu:
-Isso. Vamos pra casa Neitam?
- Passe esse domingo em casa com a sua família, você não precisa nem votar.
- Mas eu quero votar!
- Vem filho vamos para o carro...
Eu a sigo fingindo consentimento, e entrei no carro depois dela que se sentou atrás eu sentei na frente ao lado do amigo dela, que era o motorista.
- Seu pai está no hospital de Pirapora... - Comenta minha mãe
- Pegaram ele?! - Eu fico preocupado.
- Não, ele está tomando um soro para dor de cabeça.
- O soro letal! O mesmo que me deram! Escuta mãe precisamos achar o antídoto para mim e para o pai!!! - exclamei e tirei o cinto. Nessa hora eu já estava higienizado, pois meus pais me levaram uma calça preta e uma camiseta preta com desenhos amarelos que significava "morte" à "força celestial" e no próximo instante eu vi 3 carros pretos de um lado e 3 outros carros pretos do nosso outro lado, estávamos no gol quadrado da minha mãe, que era cinza, isso significa que não era para mim ir para casa, se fosse para morrer eu precisaria morrer lutando, pela revolução...
minha mãe grita:
- Não faça nada!!! Põe o sinto Neitam!!?
E eu abro a porta com o carro em movimento, pulando para fora caindo em pé e correndo em seguida para a rua que dá na Adega, o motorista, experiente, manobra o carro que após perder meu peso quase dá um drift mas não bate em nenhum carro preto, eu estava no meu limite, selvagem e insano, eu era como como um urso pardo, fugindo de 6 carros pretos numa selva de pedra, e então um carro me segue até o início da subida e faz a curva em drift também, e o rapaz que dirigia aquele carro preto parou, todos olhavam para mim naquela rua e o motorista que parou ao meu lado, pelo qual passei correndo, ele, bateu palmas e bem alto gritou:
- Você é lindo!!!
E eu pensei, "Obrigado..." E continuei a fuga, mas agora eu não sabia para onde ir, só sabia que eu vestia preto e amarelo, "morte" à "força celestial", eu tinha um pão com mortadela amanhecido no bolso e um tubo intravenoso de uma substância para analisar e descobrir o antídoto, quando pulei do carro em movimento também, Mamãe tentou me segurar e minha camiseta preta e amarela rasgou-se totalmente atrás, eu não conseguiria dar multa e fugir de ônibus para locais longínquos daquele modo, eu precisava pensar rápido, parei um momento, já longe da confusão que se dissipou, e tirei o pão do bolso, que estava numa sacola, amarrei ele em minha camiseta rasgada, e ele ficou em frente a minha barriga, e eu estava indo em direção ao terminal, por ruas menos usuais, eu precisa ir a um médico, mostrar o tubo intravenoso com um restinho do veneno letal, antes que fizesse efeito em mim ou em meu pai... Pouco tempo restava...
Mas eu sabia que o veneno era composto principalmente por sal, pois era, "ácido de cloreto de sódio", então era corrosivo também, eu já soube o que fazer...
Eu chegaria no terminal e tomaria muita água! Aquilo adiaria o efeito do veneno, pelo menos um pouco... Cada segundo da minha existência revolucionária era precioso, pensamentos grandiosos, eu e todos os margis, estariamos em breve, sós nos céus [...]

O Rapaz em 6 Carros e O Urso PardoOnde histórias criam vida. Descubra agora