2017: O Rapaz, Início de um Circo (Ciclo)

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O ano é 2017, eu tinha 17 anos, e fui a praça XIV de novembro, em Santana de Parnaíba. Eu tava no terceiro ano do ensino médio nessa época, foi o ano em que dei um "level up" na minha vida social, tentando interagir e me sentir amado a base de muita coisa como: "café", "surfar" e "churras" - o último é, o famoso churrasco. Essas gírias significam, respectivamente: "fumar alguma coisa", "beber alguma coisa" e "se apaixonar no rolê" Eu ia a praça quase que diariamente após as aulas, as pessoas que ficavam na praça geralmente eram as peças quadradas em buracos redondos, procuravam um lugar de paz, para ler, apreciar a natureza e escapar um pouco das preocupações da vida, ou procuravam um lugar de curtição para café ou surfar e por que não um churras? Flertar, fazer amizade, etc... Pessoas em sua maioria jovens, que me lembram o livro As Vantagens de Ser Invisível, do Stephen Chbosky onde Charlie fez amigos incríveis assistindo a um jogo de futebol, Sam e Patrick, que eram irmãos e, ele quase pegou os dois, mas se sentiu forçado a ficar com Patrick numa fase que o amigo estava mal, e ao quase ficar com Sam, se deteve provavelmente lembrando dos seus traumas com a Tia Helen, na vida os traumas sempre vem a tona. No começo, eu passava o tempo livre lá com o Emer. Nando e Yudi também estavam lá às vezes, mas eles namoravam. Emer também começou a namorar, mas Jessi , do primeiro ano, dizia que eu era parte da relação. Ela era indie e alternativa, Emer era do skate, rock nacional e sad, eu era alternativo tbm, talvez seja até hoje, sempre gostei de músicas estranhas e brisadas. Nesse dia teve uma cena amigável e nostálgica: Jessi encostada no ombro do Emer e eu do outro lado do banco deitado no joelho dele, e os adolescentes saindo da escola as 6 da tarde. Outros amigos pós aula eram o Keni, nosso japa moreno, O Baque que é bem "largadão"no estilo do Hip Hop anos 90, que era o mano que deu coma alcoólico em um dia que eu não estava, e fez a escola ter uma palestra dos alcoólicos anônimos, e o Bebê, com esse grupo eu saí um pouco menos em 2017, teve um dia que eu estava bêbado e sem a minha camisa, pois eu usava camisa e short xadrez, ou uma camiseta preta da Louis Vuitton falsificada e calças coladas tamanho 46, com um Nike branco também falso, enfim encontrei o Baque, o Nit, Bebê e o Biel e eles disseram que não viram minha camisa social, mais tarde eles acharam e botaram fogo nela, de modo piromaníaco mesmo, não lembro como consegui pegar o ônibus e voltar pra casa nesse dia... ah terão mais histórias com eles, principalmente com o Baque em 2018, ele tem umas idéias comunistas que eu admiro e viajo. Na nossa escola éramos liberados entre as 13:50 e às 15:30 tomávamos o café e nos encontrávamos na praça, na sextas tinha happy hour com bebidas e cigarros eu tinha começado a fumar, pra interagir com desconhecidos, e amigos de amigos, por meio do cigarro, pedindo ou oferecendo, no começo eu tossia igual uma avó, e era risível aos outros, gerando um pequeno bullying, mas logo aprendi a fumar, dois por dia, antes de perder a linha, eu conseguia dinheiro pois no tempo livre eu trabalhava em jardinagem, com meu pai, ganhava 150,00 pra varrer a grama de chácaras, um motivo para o hábito do fumo, foi eu ter reprovado na escola pela primeira vez, logo no terceiro ano, e a revolta fez eu querer me sentir descolado. Eu bebia também, desde o quinto capítulo dessa história, com 14 anos, e a ressaca nunca veio, então eu bebia cada vez mais, periodicamente falando, pois pouco de vodka, por exemplo, já me deixava chapado, voando, aéreo e em uma felicidade aérea. Algumas vezes levei bebidas para a escola em caixinhas de suco, mas isso foi maiormente no último ano, e geralmente em eventos da escola.
Aos poucos, eu comecei a me desvencilhar do Emer e o pessoal, eles iam embora da praça e eu ficava lá até mais tarde, às vezes, eles ficavam pela cidade também, outros pontos de encontro eram os bancos do cemitério, o cruzeiro e a pracinha chamada "chiqueirinho" nessa época, só esses lugares mesmo, eu ia para o cruzeiro às vezes sozinho para recarregar as energias e refletir sobre o vazio que eu sentia e poderia uma vez ou outra cair lágrimas dos meus olhos, a noite, nesse dia, conheci a Mari a Lana e o Fe e comecei a provar maconha com eles, e foi só curtição, o pessoal rindo, com fome, até que Mari pesou na minha e disse que eu parecia gay, e que quando chapado eu ficava sensualizando, eu respondi que não era, e ela falou: "se não for suave, foi brisa minha" Laninha e Fe riram e eu então afirmei: "acho que sou bi"
Lana, que tinha 14 anos na época, falou: "já mudou de ideia, ó" e todos riram mais, achei legal a ideia de amigos querendo curtir sem se importar com quem você é. Eu não encontrava eles lá diariamente então passei a interagir com outras pessoas que também via fumando lá, oferecendo cigarros ou pedindo, querendo fumar maconha também. Mesmo que em metade das vezes que eu usava ela amplificasse a minha ansiedade ou me sentia criativo e nostálgico, como da vez que escrevi um poema do meu futuro até a infância, liniar ao contrário, e fiquei zen, perdi o texto mas aquele dia tomei uma bebida de frutas vermelhas e degustei me sentindo tomando groselha, essa foi uma das Good Trips, já uma das Bads, eu fiquei com uns pensamentos e imaginações ruins, como da vez que eu visualizei dois bebês lutando num berço até a morte e pensei, "o que vencer herdará os céus, e aquilo me angustiou severamente. Talvez no fundo eu sempre fui um pouco psicótico. Mas continuei usando
Mais cedo nesse dia, lá com o Emer, o Nando e o Yudi, encontramos um amigo deles com uma calça rosa e uma camiseta preta que brilhava um pouco, nos apresentaram, ele se chamava Dani e queria entrar pro Geordie Shore, mas não sabia inglês, gostei muito dele e viramos amigos.
Comecei a sair com Daniel, ele é gay, negro, "travesti" - brincadeira, tem uma altura média, cabelos pretos com um pouco de volume mas cortados curtos, ele me apresentou muitos de seus amigos de Santana e novos "picos" e pracinhas turísticas da cidade. Em especial eu conheci a Gabi, lésbica, desenhista e sad, ela tinha os cabelos pretos lisos até abaixo do ombro, em 2020 ela raspou, mas continuou linda, foram minhas primeiras amizades no meio LGBT, sai com ela várias vezes em 2017, com ele também, ela me ajudou no meu aniversário de 18 a reunir o pessoal, foi muita doideira, no dia o meu "niver", Congrats to me, né? eu fui comemorar, eu passei na praça e o Gui, amigo nosso de quase 30 anos, me deu 10 reais, eu o chamei pra beber mas ele não apareceu, nem mais tarde. Gui conta umas histórias malucas, como da vez que encontrou o Chorão, não o reconheceu e discutiu com o ídolo. Uns dias antes, graças ao Daniel, eu conheci o Davi Matias(One Drug), rapper, hétero, gente boassa e skatista ele mostrou umas composições dele e uma música onde o rapper reclamava em inglês que a sua babá nunca quis transar com ele. Nesse dia, "no niver" - não tem gíria aqui, significa aniversário mesmo, então, eu reuni quase 20 pessoas na praça, Daniel tinha me prometido um brownie de maconha, mas não conseguiu fazer, ele e a Lu, que era uma menina branca, com os cabelos pintados de vermelho, muito bonita e dizia que eu era lindo, mas não chegamos a nos beijar antes dela brigar com a mãe do Daniel enquanto morava na casa dele, e ir embora. Eu, Dani e Lu tínhamos uma amizade forte e perto deles eu me sentia acolhido e fumavamos juntos, era muito legal, eu comprava um maço de Marlboro white, Lucky Strike Double Ice ou um L.A, comigo sozinho, um maço durava 10 dias, com eles 3 dias porque dividiamos, mas eles tinham maços também, quando um não tinha os outros dividiam, ou nossos outros amigos da praça, não importava, cigarro, álcool, drogas, era o de menos, o que cada um queria, provavelmente era companhia pra esquecer o tédio constante que se vivia e preencher horas do dia em que não se faria mais nada. Eu, Dani e Lu, ficávamos conversando sobre nossas vidas medíocres, histórias engraçadas e dávamos conselhos uns aos outros, isso e falar sobre as pessoas que gostavamos. De volta ao niver, fizemos o jogo do Bicho Bebe que consisti em cada um escolher um animal para se nomear, por exemplo eu era o urso, e se falava assim: " o urso não bebe! quem bebe é o(a) [nome de outro animal que está na roda] e eu perdi feio, pois eu era gago, e não se podia errar a frase, fiquei chapado logo, graças a vaquinha que fiz com o pessoal, consegui 42 reais, foi tudo em vodka, energético e vinho, eu estava muito chapado já, depois da brincadeira e fiquei encostando a cabeça no ombro do Daniel, pedindo carinho, mas ele me disse que o crush dele estava olhando, que era o Fabrício, branco que tinha cara de sono e era hétero, cara essa devido a sempre estar sempre chapado. Dani falava que sabia que ele tinha "cara de lesado" mais gostava dele. Após, eu encostei na Gabi passando minha cabeça em seu peito, mas ela não estava disposta, não era a sua praia,
quando deu meia noite, Gabi me pegou pelo braço e tentou levar até o terminal, eu me soltei dela e falei que iria voar e tentei subir no muro do dentista no caminho, Dani também tava junto e eles me impediram, peguei o ônibus 00:30 mas cheguei em casa as 03:30 da manhã, meus pais disseram que eu havia passado pela rua de casa em um carro gritando pelo meu pai, normal, pois minha mãe nunca foi muito amorosa e seria o esperado eu pedir ajuda ao meu pai, mas eu só me lembrava de estar em pé em uma rua e caminhar até em casa, chegando às 03 da manhã. Eu não sei o que aconteceu nessa lacuna, apenas percebi que perdi meu Motorola G3 e minha mochila, fiquei até maio de 2018 sem celular.

Eu tava no 3º ano do ensino médio, pela segunda vez, sim eu reprovei o último ano e ao invés de me formar com 17 me formei com 18. Na turma anterior eu era meio solitário mas alguns amigos me faziam rir às vezes em sala ou intervalo era o Murilu, o Denes e a Luane e a Gio, elas duas estudavam japonês e coreano, além do inglês e falavam umas peculiaridades de anime que eu não entendia, mas ria, sim eu era meio besta, o maior da turma com 1.89 entretanto meio bobo. Já os dois pareciam homossexuais e todo mundo ria das brotheragens deles, brincadeira, não era algo estupendo, mas realmente me surpreendi quando arrumaram namoradas. E essa sala, a primeira, que fiquei com eles de 2014 a 2016 me ajudava a me encaixar em grupos pra atividades e etc, sou grato a alguns como Louri, Vinny, Kelv e a Luane. Embora eu tenho parado de falar com ela, e ela com a Gio, ficou amiga da Nayara. E Nayara, numa bela manhã em que eu fiz uma pequena piada sem graça para as meninas, que foi: "acho que eu vou morrer hoje, três TCC's pra entregar amanhã" e ela disse que eu deveria me matar, e eu a xinguei, mas xinguei mesmo e por isso perdi a amizade com algumas garotas como a Luane, não me importo. Incitação ao suicídio não tem perdão.
Esses dois textos em um foram um exemplo da minha tenra idade, mas tenho muito mais pra contar, desvendei São Paulo, o Brasil, me apaixonei algumas vezes, até hoje em dia, tudo isso sem nunca sair da Grande São Paulo, tenho muito pra viver ainda e nas próximas histórias o ar vai começar a se condensar, morou? não? calma! você entenderá quando ler os próximos capítulos e pensar: "Porra, o clima pesou!" Dias em que pensei que seria o fim da minha vida, ou que poderia morrer sem ser lembrado ou pior morrer com seus ideais sendo ignorados pelo mundo, idéias de empatia e união, desejava ao povo: ver os pontos cinzas entre o preto e o branco, e saber que cada um é um mundo; Porém a polarização em 2018 da ascensão do fascismo ia contra isso, condenando as diferenças como coisas longínquas de Deus, se esse é o seu Pai, eu escolho ser órfão, mas imagino que a força que rege o universo seja justa, ou o Jesus que eu acreditava ser um verdadeiro defensor dos direitos humanos, que os direitistas cristãos não entenderam, lutarei contra toda e qualquer forma de intolerância e invalidação dos diferentes, que são muitas vezes no senso comum endemonizados, já eu, acredito que somos bons, ou não, calma, é que o conceito de bem é sempre reivindicado por algum grupo que busca o "bem maior" em nome de manter um antigo status quo que era bom apenas para alguns, então sejamos "maus" para os reaças e façamos uma revolução mesmo que sejamos taxados de anti-heróis. Vá as ruas usando vermelho e preto. Pois essas são as cores comunista e anárquica, respectivamente, mas para mim significam "mal" até "morrer" que significa lutar pelo ideal que você sente na sua veia. Uni-vos. Um belo dia pensando sobre o propósito real da vida, escrevi a seguinte frase autoral: " Nós nascemos para sentir que sentimos que sentimos"*¹, e essa agonia e devaneio positivo - mas não positivista, pois Marx era contrário ao positivismo, como por exemplo, o que está estampado em nossa bandeira na frase "ordem e progresso" e acreditava que: "há existência de conflito na mudança social"*² então junte-se a nós e traga o seu fuzil que é o seu ideal, e ideias são a prova das balas que virão do outro lado, as pessoas devem valorizar mais os sentimentos e o valor implícito em cada ser humano, que é único e especial, aprenda no seu dia a dia com as pessoas que são as peças quadradas que não se encaixam nos buracos redondos, porque "as pessoas loucas o suficiente para achar que podem mudar o mundo são as que o fazem"*³

¹* frase autoral minha
²* Marx
³* texto da Apple

O Rapaz em 6 Carros e O Urso PardoOnde histórias criam vida. Descubra agora