O Rapaz se Perdeu em seu Olhar

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Na primavera de 2017, dias depois que fiz 18 anos.
Numa manhã de sábado em que o sol batia forte as nove da manhã eu me dirigi ao... Marx? Max? Qual o nome mesmo? Fugiu da cabeça. Sim, sou comunista. Ah! Eu fui até o MASP (Museu de Arte de São Paulo), na Av. Paulista, isso mesmo, é um grande prédio no primeiro andar, e no térreo é um espaço livre onde rola muita arte também, rodinhas de música, de contação de histórias, alguns são mais da pesada, e levam drogas, etc. Em especial, esse dia eu tava com um pessoal, algumas pessoas da história anterior, resolvemos formar um grupo alternativo, que no futuro poderia virar um coletivo anarcopunk, que seria necessário caso os ideais fascistas que vinham se expandindo continuassem a se espalhar, nós levamos e fazemos: poesias e rap freestyle, covers, e etc, eu não estava tão no estilo aparentemente pois tenho pais evangélicos, e eles não aceitariam a rasgação de roupa, mas eu acho que sou mais alternativo mesmo, mas esse dia eu estava me sentindo punk, e admirando os que eram, entretanto a cultura do anarcopunk vem de querer foder com a própria vida e com o sistema, se estragar, ser livre e revolucionário, se possível, e eu o fazia com o uso de drogas e ativismo antifascista, que iniciei no início desse ano, 2017's, começando por discussões entre conhecidos e amigos sobre política e consciência de classe, socialismo, anarquismo e etc. E maconha 4 a 5 vezes por dia, durante a semana, apenas fumando da maconha do pessoal, hahaha, o que daria se fosse somar a divisão, um baseado por dia após a escola nas noites, minha vivência indo em biqueiras foi apenas mais para adiante. Eu estava no terceiro ano do ensino médio, pela segunda vez, e por causa disso comecei a fumar cigarro também, o cigarro veio primeiro aliás, tudo começou para me sentir descolado, fumando dois cigarros por dia, demorou para se tornar um vício de 10 por dia em 2019 por exemplo, fique ciente que a partir daqui até os seguintes textos auto-fictícios, irei até o meu céu que foi o permanently high que alcancei e, depois, descei até o meu inferno para assim voltar ao quase normal e natural mas nunca mais ser o mesmo que antes, experiências únicas que só eu passei - outras pessoas podem ter se apaixonado e alucinado de forma semelhante, - mas só eu da maneira que vou contar.
Alguns de nós do grupo, também fazem podcasts cada um da sua casa, postados no mesmo lugar, falando de temas como: representatividade, intolerância e até paz interior, budismo e mais poesias, no estilo slam, lá, por exemplo, eu falo sobre meus sentimentos em forma de slam. Somos um coletivo sem fins lucrativos.

E de repente, Jezika, minha amiga de escola da minha sala, a outra, ex do Emer é Jessi. Já a Jezi é baixa, que tenta ser ruiva. Ela me chamou pra conversar - assim que cheguei lá. - Ela disse:
- Oi Neitam, o pessoal tá numa roda de rap freestyle hoje, tão esperando pra você mandar aquela que você deixou em segredo.
- Tô loco pra lançar, fora isso, o dia tá tranquilo?
- Não muito, o grupo quer conversar contigo, mas manda lá, se diverte primeiro!
Eu cumprimento os quatro principais do grupo, cada um com um cumprimento especial: Emer, Leovski o namorado da Jezika, naruteiro e Rafael, o punk que odeia a cultura otacu, mas todos nos davamos bem, a maioria tinha 17 anos, tinham pessoas mais velhas também, eram 12 pessoas, não no total, que deve ser 25, e sim que estavam lá, aquele dia em especial, notei um metaleiro, um de nós, que estava me encarando aquele dia. Emerson pede que eu cante a rima e diz que manda o beatbox

Enquanto isso o pessoal batia palmas como em It's Time do Imagine Dragons e Jezika cantava London Calling do The Clash. E eu cantei:

- Hm... Hm... ran!
... Me diz o seu problema
A sua gema (preciosa)
Se livra dessa ferpa (horrorosa)
E me diz qual é a treta (camarada)...

[...] Essa treta tá difícil
E te causando dor
As suas lágrimas eu seco
Com um ventilador

Ventilador
Ventila a dor...

O grupo bateu palmas e isso encerrou o freestyle do dia, pois eu havia chegado atrasado.

Jezika me chamou no canto e me disse:
- Neitam, aquele senhor alí uniu 11 de 25 pessoas do nosso grupo e montou uma startup, pra faturar a custa das nossas produções! Faz algo sobre mano, fala com ele?!
- Todos sabem que sou contra a comercialização da nossa arte e ação política. - Digo e chamo o senhor metaleiro para conversar. Ele diz:
- Sou a favor de nos tornarmos um coletivo anarcocapitalista, e faturarmos milhões! Muahahahaha.
- Como assim anarcocapitalista? Para que metade de nós seja um lixo igual a você?!
E ele mecheu os braços em pé, diante de mim, como quem quer intimidar.
- Eu vou reunir um grupo se quiser faça o mesmo! - Retruca
- Eu sou o dono do grupo, você que dividiu ele, por que não tem nada pra fazer.
- Você vai ver o que eu vou fazer!- me ameaçou, e em seguida, deu um soco no meu nariz, gotejou sangue.
Todos do grupo que estavam lá ficaram em volta formando um círculo, mas ainda não reagiram, só gritavam " Uh uh uh uh uh uh uh". Eu lutei contra ele até que ele tirou uma faca de caça da cintura, eu não me intimidei e avancei nele agarrando o braço dele que portava a arma com as duas mãos minhas, isso tudo, muito rapidamente, e após ele usou a outra mão também, a roda se desfez e alguns começaram a gritar "covarde! Abaixa a faca, desgraçado!". Começou uma luta pra ver quem ficaria com a faca, comigo fervendo de ódio com o nariz machucado até que forcei meu braço e virei a faca para ele fazendo um corte em sua barriga, pouco antes, fui mais forte que ele e e ele soltou a arma. Ele caiu no chão, logo após, se contorcendo de dor e meu grupo pisotiou ele, olhamos em volta e a Av. Paulista estava com umas 100 pessoas nos olhando e várias com celulares nas mãos
Emer exclamou:
- Porra, vamos fugir pegar o metrô logo e ir cada um pra casa antes que a polícia chegue!!
Guardei a faca e fuji para o metrô, nos separamos, mas antes eu pedi uma garrafa de água para o Emer e lavei meu nariz ficou mais limpo mas gotejava um pouco então tampei o rosto do nariz para baixo com um lenço preto de caveira e peguei o metrô depois o trem e algumas pessoas me olharam estranho, mas ignorei, quando eu estava chegando próximo de casa tomei uma decisão sábia na minha vida: eu me apresentei a polícia? fui pra casa conversar com a minha família? Não. Fui pra praça fumar maconha, lavar o Nariz, e principalmente beber muito para esquecer aquilo. Passei no mercado e comprei uma vodka que tomei no muro do estacionamento do mercado sozinho, variando entre goles pequenos, medianos e vigorosos, em duas horas já tinha tomado toda a garrafa e já eram umas 21 horas, passei na casa do meu amigo Caio e peguei o meu skate, eu não sabia andar mas carregava ele debaixo do braço, sim eu era ridículo, e poser. Eu fui em direção a praça e comprei um maço de cigarros lá eu encontrei o Tan, o Ann e mais dois amigos deles era aniversário do Tan e apertei a mão dele, mas não o abracei, não sei por quê, mais tarde tentei abraçar o Ann que tava lá, mais ou menos eu invadi o rolê dos caras e meti o louco. Ele não retribuiu o abraço mas não ficou bravo comigo, continuou doce e tranquilo me chamando de mano, o que me incomodava um pouco, mas provavelmente era apenas um jeito de falar, normal da praça, até algumas meninas falavam assim, dialeto da praça, famoso pronome neutro, mas me incomodei pois eu sinceramente estava pensando em roubar um beijo dele, mas não o fiz, estava chapado mas não o suficiente, e pensei que não merecia o beijo de um anjo. Ann e Tan, junto com o amigo deles o Lipe ajudaram o Dani meu amigo, quando ele tentou suicídio em 2016, e então, foi graças aos 3 que eu o conheci. Ann era o que mais fazia o meu tipo e era mais velho, branco, um pouco alto, magro mas vistoso uma barba rala que geralmente ele raspava, ele é árabe e tem uma face tranquila e meio com sono, eu realmente gostei dele, por um momento, perto dele, esqueci do dia horrível que tive. Esqueci aquele senhor que uniu quase metade do meu grupo para usar nossas produções. Eles estavam fumando narguilé, eu pedi um trago e assoprei a mangueira ao invés de fumar, e tudo apagou, Ann perguntou se eu tava bêbado e falei que sim, ele disse que então tudo bem, não ficou bravo comigo. O GG estava lá também, com eles, mas não falei com ele esse dia, conheci ele em outro dia em 2018, que foi um ano ruim. Perto da meia noite, o Ann me disse que ele, Tan, GG e o pessoal iam embora, e era pra eu mandar mensagem pra ele se chegasse bem em casa, sim "se" e "chegasse bem" eu falei que não tinha o número dele, já na espera de pegar o número, sim, o churras era eu, e eu não fiquei alimentando falsas esperanças, pois haviam me falado que ele era bi, ele respondeu "manda mensagem no Face" e eu mandei 3 dias depois pois eu tava sem internet, perguntei do meu skate que eu perdi naquela sexta e ele falou que quando eu zarpei tava na minha mão, pensando melhor, eu me lembrava vagamente do que aconteceu: eu desci para o terminal e estava extasiado, sentei num banco e coloquei o skate ao meu lado, era perto da 01 da manhã e provavelmente não teria mais ônibus esperei lá e quase cochilei, abri os olhos e vi muitas pessoas na estrada dos romeiros, provavelmente era a romaria e eles iriam a pé até minha cidade, daí eu levantei deixei o skate e vim a pé com eles, só cheguei em casa, tomei um banho e me joguei na cama, só senti falta do skate no dia seguinte, e só consegui contato com alguém usando a internet da escola na segunda feira mas não achei ele.
o dia que cheguei em casa no sábado minha mãe me perguntou o que houve e por que eu estava com uma faca, contei pra ela sobre o senhor que dividiu meu grupo, e queria usar nossas ideias pra fazer dinheiro, e da briga fuga e bebedeira, ela me repreendeu e disse para eu não sair mais por um tempo e foi o que eu fiz.
No sábado de manhã acordei com pessoas fazendo um som meio animalesco, como um "Uuuuuuuuuuh" prolongado e agudo abri a janela e vi uma luz, fui a cozinha e perguntei a minha mãe: "Mãe, o que está havendo?
Ela respondeu: "Convidei o seu grupo, eles estão com tochas lá fora, bem punk, né?
Jane é o nome dela.
Daí eu fui ver pra crer, eu tava de pijamas, estavam lá os 24 membros do meu grupo, pois o senhor saiu ou morreu, sei lá, e as tochas acesas simbolizavam que o grupo todo estava do meu lado, a gente ia se dividir em anarcopunks (eu e mais 12) e anarcocapitalistas (11 trouxas). Então essa foi uma das últimas vezes que reuniu todo o antigo coletivo, vai deixar saudades! Eu me senti amado de verdade, como se a nossa amizade nos trouxesse liberdade, o senhor, e a confusão, foi um marco e parte do grupo evoluiu com isso, começariamos a produzir um material mais pesado e antifascista. Eu sorri entre meus amigos, e meu sorriso se desfaz derretendo aos poucos e se condensando em fumaça, até a fumaça se espalhar entre o pessoal eles ficarem se olhando entre eles sem entender. E eu acordo.
Ando tendo esse sonho as vezes, desde que encontrei o Ann na praça e é uma realidade onde eu tenho um grupo Anarcopunk e eu viajo nesse sonho, que bom seria!

O Rapaz em 6 Carros e O Urso PardoOnde histórias criam vida. Descubra agora