Leve

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Era tão cedo quando ele levantou, que o sol mal conseguia iluminar ao menos uma fração da parte de dentro daquele cômodo. Do lado de fora com o seu faro aguçado, InuYasha podia sentir o cheiro forte de orvalho e da densa neblina que os rodeava. O dia seria bem quente e provavelmente, nuvens não pintariam o céu com a cor branca.

InuYasha resolveu colher algumas frutas para que Kagome comesse ao acordar. Fariam o desjejum e depois voltariam ao vilarejo juntos. Ele tinha que avisar a anciã do vilarejo e ao monge sobre a decisão que tivera na noite anterior.

Não que isso fosse uma surpresa para eles.

Muitas vezes ele suspirava e revelava para estes o quanto daria por um dia somente ao lado de Kagome. Mesmo que ele não o dissesse com palavras literalmente, os dois sábios o compreendiam somente por suas expressões, suspiros e o silêncio que tanto o enredou durante estes três anos.

Com cuidado, InuYasha se vestiu, tentando fazer o mínimo de ruído no quarto conforme fosse possível. Observou a forma como Kagome ainda dormia pesado e se agachou a sua frente, olhando-a ressonar.

Tê-la ao seu lado era o que ele mais queria na sua vida.

Os três anos que passou longe dela deixaram isso ainda mais claro, mesmo depois de tudo o que passaram antes da derrota definitiva de Naraku.

Enquanto divagava e à admirava, o hanyou perdeu-se facilmente no tempo. Alguns minutos se passaram e então Kagome acordou. Ela virou-se e piscou preguiçosa os seus belos orbes castanhos, coçando-os e erguendo um pouco seu rosto para fitar o seu noivo.

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InuYasha POV

Maldição. Eu não queria acordá-la! Mas, também, demorei demais para ir pegar nosso desjejum. Acho que tive medo de me afastar dela e de repente... Notar que ela havia sumido outra vez.

Ela buscou a minha mão, completamente sonolenta e bocejou. Fiquei segurando os seus dedos em silêncio. Só a sensação de observá-la e tocar sua mão era tão reconfortante!

Kagome não imaginava o que eu passei por aqui deste lado do poço. Mas, eu fico pensando... O que ela deve ter passado? Quantas vezes sentiu tristeza e impotência? Sua feição era de uma jovem mulher que aprendera com a vida muito mais do que qualquer outra pudera aprender. Isso desde a idade em que ela atravessou o poço a primeira vez.

Ao pensar na travessia do poço, um gosto levemente amargo me acometeu. Acho que assim como eu, por várias vezes ela tentou na marra atravessar o Poço Come Ossos. Eu cavei tantas vezes aquela terra velha e suja. No entanto aquele esforço de nada valia. A cada palmo que eu cavava, só era capaz de achar mais e mais dor.

O gosto ruim da dor saiu dos meus lábios ao captar com minha audição o som da voz melodiosa dela.

- Bom dia! – Kagome murmurou – Inu... - E lutou para deixar seus olhos abertos, no entanto, ela pregou os olhos novamente.

- "Durma mais um pouco..." – Pensei.

Abaixei meu rosto e beijei sua testa, levantando-me depois e caminhando a passos calmos até a porta da nossa casa. Virei-me e conferi novamente se a sua estadia ali era pura imaginação, porém, o cheiro de sua pele estava quase enraizado à minha. Podia sentir o gosto de seus lábios ainda sob os meus. Ela realmente estava ali. Minha Kagome.

Sorri e continuei meu caminho.

Perto do nosso lar, havia uma árvore de frutas pequenas e doces. Eram ameixas. Mais a frente, alguns pessegueiros estavam quase enfileirados, um ao lado do outro. Estava ansioso para o dia que todas as suas flores desabrochassem novamente e embelezassem o caminho até a nossa casa.

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