Capítulo 62 - POV da Alice

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Oi pessoal!

Desculpem o atraso, este capítulo tinha que sair ontem. Mas sabem como é a vida, sempre cheia de imprevistos.

Aproveitem o capítulo :D

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Assim que Samanta viu as partículas de mana negro, ela me levou para encontrar Ana, a Senhora do castelo. Ela é uma pessoa que admiro muito. Comanda os soldados, organiza a cidade e dá alimentos aos mais necessitados. Desde que ela chegou, as coisas melhoraram muito.

O antigo Senhor do Castelo Negro não se importava pelo povo e só levou aqueles que ele gostava mais, as prostitutas, trabalhadores fortes, serviçais e soldados. As pessoas que ficaram eram os que não tiveram opção.

Quem gostaria de viver num lugar que mal tem o que comer?

Todos os dias, eu saia para buscar presas para mim e o vovô. Ele já estava velhinho e precisava de energia para continuar. Mesmo assim, ele sempre dava a maior parte do que eu conseguia para os nossos vizinhos. Isso me deixava furiosa. Foi um trabalhão pegar essa comida na Floresta Negra.

Às vezes, senti que ele fazia isso porque se sentia culpado. Eu sempre furtava coisas das pessoas próximas. Às vezes sem perceber. Um dia ele descobriu onde eu guardava os meus tesouros. Quer dizer, as coisas que peguei. O vovô dizia que um dia isso me traria grandes problemas. Ele trabalhou a vida toda para conseguir encontrar uma cura para minha doença.

Ele estava certo! Isso me trouxe grandes problemas.

Não aguentava mais as roupas que Samanta me obrigava a vestir. Pomposas demais. Perambulei pelo castelo e meus pés me levaram para uma porta. Minha mão abriu a porta sozinha, depois me deparei com um doce aroma de rosas vermelhas. Quando me dei conta, estava na frente de um armário cheio de detalhes de ouro talhados na madeira.

Oh! Minhas mãos estão abrindo as portas...

"Ei! Porque você está no meu quarto Alice?"

Senti um nó na garganta. Esqueci de respirar.

Era para puxar o ar ou soltar?

Dei meia volta e lá estava ela. Abaixei a cabeça e tratei de conter minhas lágrimas. Lá se vai a pessoa que me tratou tão bem estes dias. Ela me deu de comer, me deu um teto e disse que deveria me sentir em casa.

"Ah, Senhora Ana!!! Eu, eu..."

O que faço? Fugir, lutar, suplicar pela minha vida?

"É que, é que..."

Cai de joelhos de frente para ela. O que fazer agora. Uma pequena poça d'água se formava no chão enquanto eu tentava me explicar. A Senhora Ana se aproximou, meus instintos me diziam para correr, mas resisti sabendo que este era o fim. Ela colocou uma mão sobre o meu ombro.

"Alice, você pode me contar. Sei que você terá uma boa explicação do porquê você estava olhando o meu armário."

Juntei minha coragem e a olhei nos olhos. Para minha surpresa, estavam cheios de compaixão e não a raiva que imaginava.

Talvez a Senhora Ana tenha um fraco por mulheres. Samanta conseguiu sua confiança com tanta facilidade. Ou talvez seja só muito bondosa. Não sei.

Ela me levou a uma mesa redonda e nos sentamos para conversar. Depois do meu pequeno surto de coragem, não me atrevi a levantar o olhar novamente. Expliquei tudo a ela, inclusive sobre a minha cleptomania e que isso me levou até o armário dela. Também falei de como Samanta me obrigava a usar roupas que eu não gostava. Bom, guardei os segredos que o vovô disse que nunca devia revelar a ninguém, é claro.

Ela simplesmente acenou com a cabeça e foi até o seu armário. De lá, tirou um conjunto de roupas, as dobrou com cuidado e voltou colocando-as sobre a mesa.

"Leve estas Alice, mas em troca, pedirei que você cuide do meu irmão caso algo aconteça comigo."

"O que? Mas Senhora Ana, o que eu poderia fazer? Sou só uma simples plebeia."

"Hum, talvez você me ache ingênua demais, mas aceitar você e Samanta no castelo é um movimento bem planejado. Ela é de uma das 5 famílias, além de ser uma excelente alquimista e você... Vamos dizer que posso sentir que você não é comum. Enfim, só peço que cuide do meu irmão caso algo aconteça comigo."

Aceitei as roupas. A Senhora Ana me deixou voltar ao meu quarto. Não podia deixar de olhar as roupas que ganhei dela.

São tão bonitas, vou cuidar delas como os meus maiores tesouros.

Chegou o momento.

A Senhora Ana me pediu para cuidar do seu irmão. Esta manhã Samanta estava procurando por ele. Ela não me contou o porquê, mas era impossível não descobrir a má fama de Oscar Limia. Com certeza ele deve ter feito algo muito errado para deixá-la neste estado.

Ele era a conversa preferida dos serviçais. Já nos meus primeiros dias no Castelo Negro, aprendi que deveria evitar o homem, mas quem imaginaria que eu até jantaria com ele. Fiquei com um pouco de medo, ele era muito amigável comigo e me tratava bem. Com as histórias que me contaram, só fiquei mais inquieta ainda.

Ele não pode estar planejando me usar como uma escrava sexual, não é?

Ouvi na cidade que esse era um dos passatempos favoritos de alguns nobres. O Senhor Nelson que morava aqui é um exemplo desses nobres. Dizem que ele sequestrava jovens da cidade para fazer suas imundices. O vovô sempre me manteve longe dessas coisas.

Ah, o que estou pensando?

Estamos em guerra e agora estou do lado de Oscar Limia, um desses nobres que dizem ser milhares de vezes pior do que o Senhor Nelson lhe dando poções de mana para criar golens e mantendo sua segurança.

Mas por quê? Por quê não sinto a maldade desta pessoa?

Sempre tive bons instintos. Não consigo sentir que o Senhor Oscar seja uma pessoa má. É mais, sinto sua bondade.

Todos pensamos que ele fugiu antes quando não apareceu para enfrentar o Lich como nós, mas ele voltou e tratou de convencer a irmã a fugir junto com o povo, enquanto ele ganhava tempo com os seus golens. Claro que essa é uma atitude horrenda para um nobre. Nem os nobres mais incompetentes deixariam o seu povo numa situação dessas (sem contar que o rei os mataria como desertores).

Ele se preocupou pelo nosso bem estar. Além disso, enquanto estive do seu lado, pude conversar com ele e ainda não sentia maldade e nem desejos ocultos.

Ah, e como os nobres são incríveis... Ele consegue criar vida só com sua magia!

Nossas chances de ganhar eram mais do que nulas, mas ele conseguiu criar um enorme exército desses só em um dia!

Deve ser por isso que o vovô me dizia para não subestimar os nobres.

Enquanto observava como ele criava seus golens, passei minha mão pelo meu cabelo vermelho para conferir minha franja. É um hábito meu para manter minhas antenas escondidas. Elas parecem pequenos chifres, mas o vovô me garantiu que são antenas.

Elas são tão pequenas que nunca chegaram a sair do meu cabelo, mas sempre o arrumo para garantir. Não quero que pensem que sou um demônio ou uma mulher-fera. Isso sim seria morte garantida. Nem a Senhora Ana me defenderia se descobrisse. Mas, graças a elas eu consigo sentir os meus arredores melhor e diferenciar o caráter das pessoas.

O que você fez para que pensem que você não é uma boa pessoa Oscar Limia?

Invocação Golem: Crônicas do mago que abalou o mundoOnde histórias criam vida. Descubra agora