Capítulo 12 - Fortalecendo o espírito

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Ana se sentou oposta a mim. Ela comia devagar, tendo o cuidado de fazer um corte por garfada. Seus movimentos eram lentos e controlados. Tive medo dela ver os meus modos. Ao lembrar que o antigo Oscar não era exatamente uma figura que grita perfeição, comi sem preocupações.

Ana mandou Elisa embora e começou a falar.

"Oscar, nossa família está em péssimas condições. Ainda temos muitos inimigos que querem nos ver mortos e confiscaram praticamente todos os nossos tesouros. Não saia perambulando o castelo da próxima vez. Espiões e assassinos podem estar ocultos neste castelo. O rei nos salvou, mas nunca pense que estamos a salvo. Você só pode confiar em si mesmo."

Fiquei surpreso com as palavras de Ana. Por um momento, pensei que ela estava preocupada comigo, porém descartei essa ideia rapidamente. Isto deve ser porque sou o herdeiro da família. Ela quer manter sua última promessa ao nosso pai.

"Tudo bem, desta vez foi um acidente."

O garfo de Ana parou, ela ficou olhando para mim com uma expressão complicada de decifrar. Um tempo depois ela abriu os lábios.

"Hoje um homem... Esqueça, isso não é do seu interesse."

Sou naturalmente curioso. Estava pronto para gritar "me conte!". Segurei minha curiosidade com medo de ser descoberto. Vou investigar melhor o caráter do antigo Oscar primeiro antes de me aventurar em conversas com sua irmã. Ela é perigosa demais.

Antes de dormir vi que o progresso do disco que absorvi avançou até 40 por cento.

No dia seguinte, acordei rolando pelo chão mais uma vez. Cortesia da adorável Ana. Dessa vez, tomamos café da manhã antes e avançamos em direção do campo de treinamento.

Ana estava de braços cruzados me assistindo correr. Ela levou a mão ao queixo mostrando dúvida em sua expressão. Sussurrou para si mesma.

"Oscar está levemente mais rápido do que ontem e aguentou correr por mais tempo."

Ana gritou.

"Oscar! Volte, vamos continuar com espírito."

Ofegante, agradeci o descanso. Meu corpo todo queimava como se lava passasse pelas minhas veias no lugar de sangue.

De manhã já estava sentindo dores. A corrida de agora só piorava as coisas.

"O espírito é para mim uma das forças mais importantes a se treinar. Se um exército se deparar com um inimigo poderoso e tiver um espírito mais fraco do que o dele, tremerão de medo e morrerão antes de fazer alguma coisa."

Ela começou a liberar aquela aura violeta. A aura cresceu cada vez maior. Meu corpo tremia querendo se afastar. Minha boca secou e meu corpo parecia pesar o dobro. Meus músculos se negavam a me obedecer.

"Não recue Oscar! Um oponente poderoso pode até te controlar com um espírito forte. A única forma de treinar o espírito é se submetendo a situações difíceis como esta."

Apertei os dentes e resisti a força que me rodeava.

'Espírito 1,2 -> 1,4'

O sistema me alertou com um bip mostrando um quadro azul que indicava que meu espírito subiu de 1,2 para 1,4. O treino de Ana estava funcionando. Mais cedo percebi uma diferença na força também. Ela passou de 0,8 para 1,0.

Minhas veias começaram a palpitar. Se fosse mais magro, veria que estavam prestes a explodir. Ela continuou a colocar energia na aura até que não aguentei e minha visão se escureceu.

Acordei na minha cama. Elisa estava de pé do meu lado. Ela se curvou levemente.

"Bom dia Meu Senhor, sua irmã o trouxe de volta. Gostaria de ter a sua refeição?"

"Ai... Oh, Elisa, que horas são?"

"Já estamos no final da tarde Meu Senhor."

Recobrei meus sentidos e levantei. Meu corpo todo doía. Comi o que Elisa trouxe sem prestar muita atenção.

"Você sabe de alguma forma de emagrecer rápido, Elisa?"

"Emagrecer?"

Ela me olhava com dúvidas nos olhos. Talvez as pessoas daqui não se preocupem com isso.

"Sim, quero dizer perder peso. Quero ficar em boa forma."

Depois de alguma hesitação ela falou.

"Bom, o povo geralmente não sofre com isso Meu Senhor. Inclusive aqui no Castelo Negro só fazem uma refeição por dia. Se me der algum tempo posso perguntar para descobrir alguma forma."

Só uma refeição por dia?! Essas pessoas sofrem mesmo. E pensar que no meu mundo tem pessoas que fazem mais de 6. Claro que são pequenas refeições, mas mesmo assim. Obviamente o povo não tem escolha.

"Perfeito, isso será de grande ajuda. Também quero que prepare meu banho. Ontem com toda aquela confusão não tive tempo de tomar um."

Elisa ficou vermelha e titubeou um pouco. Ela me levou para um quarto de banho perto de nós. Fiquei impressionado com o tamanho. Basicamente era um cômodo com pilastras negras e uma fonte branca no meio. A fonte possuía diversas estátuas de mulheres nuas com tecidos que cobriam as partes íntimas. Nas mãos, elas seguravam jarros por onde caia água quente. A água emitia uma leve luz branca.

"Mmm...Meu Senhor, se me permite..."

Elisa se aproximou de mim como se quisesse tirar minhas roupas.

"Ei! O que está fazendo?"

Me afastei rápido. Nunca pensei que ela fosse tão atrevida. Espera... Em algumas histórias medievais era comum os nobres terem serviçais que lhes auxiliavam no banho e até os alimentavam na boca. O que você esperaria de gente poderosa e um povo sem direitos.

"Ei, ei, Elisa, posso tomar o meu banho sozinho. Só prepare minhas roupas e as deixe na entrada. Não espero que você me ajude com algo tão trivial."

Minha empregada levou uma mão ao peito e respirou com alívio.

"Eh, então esperarei pelo Senhor lá fora. Só tenha cuidado para não cair."

Entendo como ela se sente. Se fosse eu tendo que lavar um homem tal mal falado, também hesitaria.

Mas quem ela pensa que eu sou? Cair no banho é coisa que só crianças fazem.

Tomei o meu banho tranquilo e ao sair da água pisei no degrau em falso e caí de costas na água.

Pelo menos não houve testemunhas.

Invocação Golem: Crônicas do mago que abalou o mundoOnde histórias criam vida. Descubra agora