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Changkyun e Kihyun não se lembravam de já terem dormido tão bem desde quando se conheceram. Entretanto, o inexplicável veio pela manhã, e se deu muito antes do Yoo ser envolvido pela estranheza da situação de ter um Changkyun espantado, olhando para ele como se pudesse ler todos os seus pensamentos.

-- O que está fazendo? - perguntou, espreguiçando-se -

O Im riu, aparentemente nervoso, antes de responder que estava apenas analisando as remelas em seus olhos. Claro que ele foi acertado em cheio por um travesseiro - não tão - macio, e que Kihyun percebeu sua mentira descarada. Ele nunca foi bom em entender ou outros, mas era tão fácil ler o que se passava especificamente naquela pessoa.

-- Agora falando sério, Kihyun. Tem alguma coisa errada comigo.

-- Você não sabe mesmo mentir, sabia? É assustador notar isso.

-- Então não faça. - revirou os olhos antes se ficar sério de novo - Acho que estou passando mal.

-- E por que faz brincadeiras numa hora dessas?! O que está sentindo?

-- Eu não sei bem. - jogou-se na cama - Já sentiu como se algo estivesse ardendo, mas notou não ter febre? É uma coisa estranha assim.

O Yoo tocou gentilmente a pele morna de seus rosto e pescoço, comparando com sua temperatura. Estava normal.

-- Você não está mesmo com febre. Seria o calor?

-- Com essa chuva toda?

Kihyun pensou um pouco, achando tudo aquilo muito confuso. Mas quando viu Changkyun contorcendo-se sobre a cama, gritando que estava queimando, lembranças iluminaram sua mente como um filme. Ele tinha certeza de que já havia sentido-se desse jeito. Estava entre entender ou ficar ainda mais confuso, porque não havia motivos para que concretizasse o que pensava, mas fez mesmo assim.

-- O que é isso, Kihyun? Eu vou morrer?

-- Fecha os olhos. - falou, apreensivo, antes de segurar em suas mãos, notando que a careta de dor se desfez e uma expressão estranha surgiu - O quê?

-- Eu não tenho religião. Não sou de rezar.

-- Não é nada disso. Só fecha os olhos e repete comigo.

-- Comigo...?

Kihyun abriu os olhos que havia fechado à pouco, e o encarou, incrédulo, com olhar tedioso, pensando em como ele poderia brincar num momento assim.
O Im, por sua vez, murmurou que ele não tinha senso de humor, pois estava apenas brincando, e então fez o que foi dito, repetindo palavras muito estranhas para si.
A verdade é que Kihyun queria tirar suas dúvidas ao recitar um feitiço de convergência. Se desse certo, significaria que existia mais de um ser com magia naquele local. Se não, bem, nada de novo sob o sol... ou sob a chuva.

Estava quase desistindo, por ter passado tanto tempo sem respostas, mas tudo ao redor passou a tremer de repente, e o vento forte invadiu o quarto através da janela que antes estava fechada.
O Yoo sentiu-se imensamente forte, como nunca antes. Todo o seu corpo parecia pegar fogo com aquele poder que, incrivelmente, emanava de Changkyun. Esse que afastou-se abruptamente, com medo do que estava sentindo, respirando pesado ao cair no chão pelo impacto da ruptura repentina.
Seus olhos não conseguiram fixar em algo por um curto período de tempo (que para ele pareceu tempo de mais), e sua mente encontrava-se nublada. O sorriso enorme de Kihyun foi a última coisa que viu antes de tudo tornar-se um completo borrão.

[...]

-- Ele está acordando!!! - a doce voz de Minhyuk pareceu dez vezes mais alta aos sentidos do Im, que esforçou-se para abrir os olhos e verificar o que estava acontecendo -

A luz forte parecia querer deixá-lo cego, então demorou mais do que gostaria para acostumar-se.
Ao seu redor estavam Jooheon, Minhyuk e Kihyun, que eram observados de longe pelo Senhor Lee, avô do primeiro aqui citado. Reconheceu o lugar. Estava na casa dele.

-- O que está acontecendo? - perguntou, a voz mais grave do que o normal indicava que ficou desacordado um bom tempo -

-- Como se sente, filho?

Não conseguiu formar uma frase coerente para pronunciar, optando por ficar calado até que finalmente entendesse como de fato estava se sentindo. Não era fácil quando nem sequer sabia o que estava acontecendo consigo mesmo.

-- Chang, tá tudo bem? Ficamos preocupados com você. Faz tempo que estamos aqui. - Minhyuk disparou, não aguentando o silêncio do amigo -

-- É, cara, o Kihyun ligou desesperado dizendo que não conseguia te acordar nem com água.

-- Você ativou a magia, Changkyun. O senhor Lee tem uma teoria muito boa!

Changkyun ainda não conseguia entender muito bem tudo o que estava sendo dito, como se a parte de seu cérebro que é responsável pela compreensão, estivesse temporariamente com defeito. Era como se todos falassem ao mesmo tempo, não dava pra entender. Ele desistiu de tentar no momento em que o avô de Jooheon começou a falar com tamanha empolgação.
Somente conseguiu captar que, colocar a vida do Yoo à frente de sua insatisfação com a situação, foi a peça chave para que isso acontecesse.
Ainda assim, apenas encarou Kihyun, torcendo para que ele entendesse o pedido silencioso em seus olhos, que dizia "me leva pra casa".

Quando em casa, precisou de silêncio. Kihyun sabia que seria difícil assim, então cooperou, e seguiram sem tocar no assunto. Poucas palavras, como "vamos comer?" ou "precisamos tomar banho", foram trocadas.
Mesmo que a falta de comunicação o deixasse quase maluco, não queria ser intrometido, não nessa questão. Era um tanto sensível, e ele também sentia. Compartilhar sentimentos podia ser uma tarefa complicada em partes, mas era útil em outros.

O convite para ver um filme no sofá partiu do próprio Yoo, e não houve surpresa alguma nisso, ou na resposta rápida de aceitação, embora a chuva lá fora deixasse a situação mais dramática do que gostariam de interpretar.
Changkyun, que estava tenso desde que chegou, foi, aos poucos, finalmente sentindo-se menos assustado. Ter Kihyun ali, com suas meias de Banguela fazendo carinho em seus pés também cobertos, fez-lo sentir-se realmente confortável pela primeira vez no dia. Não estava ligando para o filme que passava na televisão.
Mesmo que não quisesse de início, podia perceber claramente seus sentimentos agora.

-- Obrigado, hyung.

Kihyun não soube como respondê-lo, então apenas continuou em silêncio, apreensivo, com o lábio inferior fortemente preso entre os dentes, encarando a tela, mas não realmente interessado nela.

-- Sei que você sente como estou me sentindo. Pra mim é muito difícil aceitar tudo isso. Eu pensei que estava tudo bem, mas... não está. Acho que precisaremos mais do tempo do que imaginávamos.

-- Eu deveria te agradecer, e não ao contrário, já que está fazendo isso por mim. - encarou-o, sendo retribuído - Obrigado por ultrapassar seus limites e enfrentar seus medos por mim, Changkyun. - sorriu, tocando o rosto dele em seguida -

A camisa branca que Changkyun usava, certamente ficaria com as marcas de seus dedos apertando a barra, e sua língua já estava doendo de tanto que a mordia, numa tentativa falha de conter o choro, que veio ao lembrar de seu pai, de sua promessa, e de toda a situação em que se encontrava agora.
Kihyun também sentiu as emoções dele misturando-se às suas, juntas estourando a tampa da garrafa e inundando tudo naquela sala.

Entretanto, mesmo com tudo isso, eles ainda ficariam bem. Estavam ficando bem, sentiam. Sabiam que estavam dando mais um passo importante de muitos que ainda estão por vir.

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olá!!! 🐝

passando pra dizer que magic está na reta final :(: e também que finalmente estou de férias! sendo assim, as atts voltarão a ter uma frequência maior a partir desse mês (assim espero ^^)!

até logo!! 💜🖤

Magic [Changki]Onde histórias criam vida. Descubra agora