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Uma semana não estava sendo o bastante para as coisas fluírem normalmente, ou quase, como antes.
Apossar-se de uma força poderosa não era tarefa fácil, e Changkyun estava sentindo na pele como controlar essa força poderia ser ainda mais difícil. Era como se um desafio tivesse sido superado, apenas para que um maior surgisse em seu lugar.

-- Vamos, Changkyun! Se não se concentrar, nunca iremos sair daqui.

-- Você já ouviu falar em algo chamado paciência? - sorriu, dando ênfase em sua ironia - A pressa é inimiga da perfeição, Kihyun.

-- E você já ouviu falar em agilidade? Posso ser paciente se você for ágil.

Eles passaram a tarde inteira tentando acender velas. Segundo Kihyun, é um dos feitiços mais fáceis, pois somente é necessário ter concentração.

-- Sabia que você é insuportável as vezes? Não dá pra me concentrar sob pressão.

Kihyun fechou os olhos e respirou fundo, contando mentalmente até dez.
Quando olhou para Changkyun novamente, sorriu e foi em sua direção com o olhar que não tinha direcionado para ele durante todo o dia.

-- Desculpe, eu sei que está se esforçando pra isso dar certo, mesmo que não tenhamos avançado por dois dias seguidos. - abraçou-o como se fossem duas esculturas frágeis a tocar-se -

-- Era pra consolar? - afastou-se antes de ouvir a risada anasalada ecoar pelo quarto, embora já estivesse acostumado com esse tipo de comportamento - O jeito que demonstra afeto por mim é muito peculiar.

-- Peculiar? Essa palavra não foi extinta com os dinossauros?

-- Tá vendo?! É disso que eu to falando!

O Yoo apenas riu, pois sabia sobre o que ele estava referindo-se. Não era muito de melação e afins, por isso, às vezes, sua implicância parecia maior do que de fato acreditava que fosse.

-- Mudado de assunto, você está indo muito bem se comparar ao meu início.

-- Mesmo?

Assentiu, antes de juntar os corpos novamente em um abraço apertado. Afastou de seu ombro o tecido quente do moletom, e beijou ali, trilhando um caminho molhado até o pescoço, que foi exposto ao máximo quando Changkyun curvou a cabeça para o outro lado, afim de mostrar-lhe que ele tinha um passe livre.

-- Gosto do jeito que se arrepia quando eu beijo aqui.

-- Então faz de novo, hyung. Faz quantas vezes quiser. - a voz saiu baixinha, quase inaudível -

Ele realmente fez. E sorriu antes de voltar a trilhar o caminho até a boca que encontrava-se entreaberta, não tardando em juntar a sua à ela, brincando com a língua nos lábios alheios antes de realmente beija-lo.

Kihyun tinha o controle do beijo agora, mas descobriu há pouco tempo que Changkyun também gosta de comandar, e não podia negar que adorava quando ele o pegava de jeito, porque seu corpo sabia exatamente como reagir. Mas ele não cogitava abrir mão daquele poder. Não dessa vez.
Porém, antes de pensar em evoluir a situação, o celular do Im tocou.

-- Por que é sempre o meu? - lamentou baixinho antes de ir em direção ao aparelho -

-- Porque o meu está no modo silencioso desde que comprei. - riu, seguindo ele até a cama, mas estava bem irritado com aquele toque que parecia cumprir ritual sempre que pensava em passar dos beijos -

-- Espera... o que houve? Como ela está?

Não pôde deixar de notar o alto nível de preocupação no rosto de Changkyun, enquanto provavelmente recebia uma resposta. O medo também começou a tomar conta de seu corpo assim que sentiu como ele estava.

-- Changkyun? O que houve?

-- Estou à caminho, obrigado. - desligou a ligação - Precisamos ir ao hospital, hyung. É a minha mãe... disseram que ela sofreu um acidente.

[...]

As horas pareciam não passar naquela sala de espera repleta de pessoas aflitas. Um hospital cheio significava que os médicos teriam mais trabalho, e as notícias levariam mais tempo para serem entregues aos familiares dos pacientes. Mas aquele era o mais próximo do acidente, e pelo que contaram por ligação, a senhora Im não podia esperar.

-- Quanto tempo mais nós teremos que esperar...? - Changkyun perguntou, impaciente - A cada minuto penso numa possibilidade diferente de... ela não pode morrer, não...

-- Ei, vai ficar tudo bem. Se não vieram ainda, significa que continuam trabalhando. - rodeou seu braço pelo ombro dele, puxando a cabeça para descansar no vão de seu pescoço - Eu estou com você agora, deveria dormir um pouco. Está quase amanhecendo.

-- Obrigado, hyung, mas não sei se consigo dormir. A preocupação é tanta que o sono não chega.

No exato momento em que Kihyun iria sugerir que ao menos ele bebesse um pouco de água, alguns enfermeiros se aproximaram com reverências.

-- Senhor Im, infelizmente o acidente foi grave, e, embora tenhamos feito uma cirurgia emergencial, sua mãe ainda não acordou.

Changkyun não sabia o que fazer. A sensação ruim fazia seus pensamentos parecerem vazios de alguma forma. Ele apenas olhava nos olhos tristes da mulher em sua frente.

-- A vitalidade da senhora Im ainda se faz presente, mas preciso que esteja preparado para todas as hipóteses, visto que é seu único filho e parente próximo.

Assentiu somente, reverenciando-se antes de deixar as lágrimas desenfreadas molharem todo o ombro de Kihyun.
E se não fosse pelo último aqui citado, ainda estariam no hospital, sem dormir e sem comer.
Bem, agora pelo menos estavam com sono e fome em casa, se é que isso amenizava mesmo a situação.

Changkyun não parou de chorar desde que soube mais detalhes sobre o estado em que sua mãe se encontrava. E Kihyun sabia que talvez estivesse fora de seu alcance, mas queria muito fazê-lo sentir-se melhor, por isso, depois de tanto pensar, teve a ideia de pedir ajuda a Hyunwoo. Mesmo que tivesse que expôr à ele toda a situação, em sua mente, ele não negaria ajuda nesse estado.

Foram até o Son alguns minutos depois da ideia proposta. Sabiam o poder que um mestre na magia possuía, então sentiam-se confiantes com toda a possibilidade de sucesso. Mas as coisas não saíram exatamente como previstas.

-- Deixa eu ver se entendi, Kihyun. Você tá mesmo me pedindo pra curar alguém, intervir no destino, e, possivelmente, bagunçar o equilíbrio do universo?

-- Falando assim parece ruim...

-- É ruim, Kihyun. Desculpe, mas não posso fazer isso.

-- Hyung, por favor! Ela é a única família que ele tem, por favor... nos ajuda.

Hyunwoo suspirou, realmente cansado de todos os alunos que vêm a si apenas para persuadi-lo a quebrar as regras da comunidade. Olhou para o lado e viu Changkyun, que estava sentado à poucos centímetros, com a cabeça baixa, provavelmente torcendo para que aceitasse ajudar.

-- Eu não sabia que passaria por isso justamente com você. Desculpe, mas realmente não posso. Venha aqui e lhe mostrarei o porquê.

Guiou-o por um caminho entre as prateleiras de livros, até que ficou impossível tira-lo do lugar.

-- Kihyun? O que é isso?  - tentou mais uma vez, mas o Yoo nem ao menos saiu do canto - O que...

Assim que Changkyun chegou, com Hyunwoo constantemente puxando, Kihyun acabou caindo no chão de vez. Se o Son já estava achando estranho, esse foi o pontapé para a hipótese que verbalizou.

-- Quem conectou vocês dois?

Magic [Changki]Onde histórias criam vida. Descubra agora