A primeira coisa que percebi ao entrar na casa era a clara diferença entre esta e a do prefeito. Certamente, pela mobília chique, espaço do terreno e um lustre ou outro que se encontrava no lugar, podia-se ver que Lawrence Wallace era um homem com dinheiro; não tanto quanto seu primo, porém. Isso me fez pensar que, ao contrário do prefeito, Lawrence poderia não estar envolvido no óbvio mar de corrupção que reinava ali, mas antes teria que investigar para depois tomar minhas conclusões.
Passei por algumas pessoas logo na entrada, todas de luto. A maioria conversava, e pude ouvir trechos de conversas como "inacreditável" ou "muito estranho mesmo", mas não prestei muita atenção. O que capturou meu olhar, assim que entrei na sala de estar, foi um caixão de madeira vazio e uma bela mulher a seu lado, com o semblante triste. Por dedução, considerando seu olhar e como estava vestida, deveria ser a esposa do morto. Pela idade de seu marido e o porte da mulher, ela deveria ter uns 45 anos, mas parecia ser mais jovem. Seu cabelo loiro estava preso em um coque, e por cima dele estava um grande e chique chapéu preto, com algumas flores da mesma cor. Seu vestido, também preto, possuía mangas longas e um decote razoável, o que fazia com que ela parecesse ainda mais jovial. Ela usava um batom vermelho e, se não fosse por sua expressão de tristeza e as cores da roupa, poderia muito bem estar pronta para uma festa.
Me aproximei lentamente, esperando ela terminar de conversar com outra mulher. Seu olhar mostrava quão triste estava; como uma boa anfitriã, no entanto, ela agradecia a cada pessoa que se aproximava, com um sorriso fraco no rosto.
– Com licença, Sra. Wallace? – perguntei, assim que ela ficou sozinha.
– Sim, querida? – disse ela, olhando para mim. – Perdão, nos conhecemos?
– Na verdade, não. Sou Lilian Taylor, repórter do The Washington Post. – falei estendendo a mão, a qual ela apertou. – Meus sentimentos pela perda de seu marido.
– Obrigada. – disse ela, sorrindo fraco. Me perguntei quantos sorrisos ela teve de forçar naquele dia. – A que devo sua presença aqui?
– O primo de seu marido me contatou, pedindo que eu investigasse a morte. – seu olhar ficou sério, e ela me encarou compenetrada. – Sei que é um momento difícil para a senhora e não precisamos conversar agora se não estiver pronta, mas eu gostaria de tirar algumas dúvidas e quem sabe entender melhor essa situação.
– Entendo... Está bem, podemos conversar. – ela respirou fundo, olhando para o caixão vazio por um momento. – Eu também quero saber o que aconteceu com meu marido.
– Eu agradeço. – tirei meu caderno de anotações e um lápis da bolsa que carregava, já ficando com ambos preparados para escrever. – Segundo o que o prefeito contou, a polícia acredita que seu marido cometeu suicídio. A senhora acredita nisso também?
– Não, definitivamente não. – respondeu rapidamente, negando com a cabeça. – Lawrence era um homem doce, gentil e muito amigável. Estava quase sempre sorrindo. – ela sorriu, como se lembrasse do marido. – Ele não era capaz de fazer mal a uma mosca, muito menos a si próprio. Acredite em mim, querida, eu o conhecia bem o bastante para saber disso.
– Certo. – falei, anotando. – Nesse caso, a senhora sabe se alguém tinha algo contra ele? Talvez um rival, algo do tipo?
– Não... Como disse, Lawrence era muito amável, querido por todos que o conheciam. – seus olhos ficaram marejados, e ela desviou o olhar para o caixão mais uma vez. – Acho muito improvável que alguém pudesse fazer isso contra ele, mas sei que ele não tiraria a própria vida. Eu simplesmente não sei o que pensar.
– Eu imagino. – falei, tentando transmitir pelo olhar alguma solidariedade. Tentava não transparecer meu desconforto naquela situação - nunca fora muito boa em lidar com as emoções alheias. – A senhora sabe se havia algum sinal de arrombamento na loja ou se levaram algo de lá?
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Crônicas Abomináveis: Dia das Bruxas Macabro (EM REVISÃO)
ParanormalNão existe sobrenatural. O que existe é o que pode ser explicado pela lógica, pela ciência e pela experimentação. Ponto. Ao menos, é nisso que Lilian Taylor acredita. Repórter, ela investiga um misterioso caso envolvendo a morte de um renomado e fam...