Capítulo 17

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17

Estávamos no sótão. Deitadas no sofá, olhando para cima e admirando a vista do céu azul escuro iluminado pela lua cheia e pelas estrelas. No fundo, tocava um dos discos do meu avô, não me lembro de qual, pois minha atenção estava exclusivamente concentrada na respiração calma de Carolina, no calor do seu corpo ao meu, nos seus batimentos cardíacos e na textura do seu cabelo ao meu rosto. Nossas mãos estavam entrelaçadas e ela me fazia um carinho com o dedão. O olhar em nossas mãos juntas sobre sua barriga.

— Eu ainda não acredito que você está aqui. — disse rindo.

— Não? — Carolina ergueu a cabeça, se virou e beijou os meus lábios. — E agora?

O seu rosto estava tão perto, sendo iluminado pela luz que vinha de fora. O sorriso doce, os grandes olhos encantadores e as maçãs do rosto salientes. Ela parecia uma miragem, mas ao mesmo tempo tão real.

— Agora parece real. — passei a mão em seus cabelos. — Desculpa ter ido sem avisar.

— Tudo bem, o Lucas me explicou tudo. — beijou minha bochecha direita.

— Por que não recebi notícias suas? Achei que estivesse brava comigo.

— Bom. — sentou no sofá, se desvencilhando do meu abraço. — Era sobre isso que eu queria conversar hoje, esse é um dos motivos para eu ter vindo. — Carolina pegou uma blusa, acho que a minha, no chão e a vestiu. — Queria falar cara a cara.

— Aconteceu alguma coisa? — sentei também, já ficando preocupada.

— Annaju... — suspirou e passou a mão pelo rosto. Carolina parecia agitada.

— Ei, tá tudo bem. — beijei o seu ombro. — Pode me dizer.

— Eu vou embora, Annaju.

— Amanhã? Tá tudo bem, você não precisa ir no outro dia como todo mundo. — sorri, mesmo querendo que ela ficasse mais tempo.

— Não, não é isso. — respirou profundamente e se virou para mim. — Eu vou embora de Serro Azul, eu e Emily vamos morar com minha mãe em Nova Iorque.

O quê?! Como assim?

— Quando você foi embora, muitas coisas aconteceram. A minha mãe foi lá me ver para conversar. Ela queria que eu fosse morar com ela, Annaju, estava realmente arrependida e até aceitou que Emily fosse também. Eu aproveitei e fiz uma prova para a universidade de artes de lá, disse que só iria se eu tivesse motivos para ir, se eu fosse aprovada e eu fui... É uma oportunidade única, não tinha como recusar, você sabe...

Eu sabia. E era por saber que eu não conseguia não ficar feliz por ela. Eu não podia prender Carolina, ela tinha que seguir o seu sonho, se reconciliar com a mãe e ser feliz.

— Eu sei e estou muito feliz por você. — ela olhou para mim no mesmo instante.

— Mas... Eu vou embora. — seus olhos demonstravam tristeza e receio.

— Eu também fui, mas estamos aqui, não estamos? — concordou. — Podemos nos ver nos feriados, tem chamada de vídeo, ligação, cartas... Vamos ficar bem. — não sei se estava falando isso mais para ela ou para mim.

Eu queria acreditar que vamos.

— Nós vamos sim.

Abri os braços e Carolina sorriu antes de se aconchegar em mim novamente. Não tínhamos com o que nos preocupar. Afinal, não era o fim do mundo.

Sobre Músicas e Chicletes Tutti-FruttiOnde histórias criam vida. Descubra agora