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♪ ♥
— Eu odeio matemática.
Não sei se eu repetia sempre essa mesma frase porque de fato odiava matemática ou porque Rogério Eugênio era o professor.
Acontece que, por incrível que pareça, nem matemática e nem Rogério Eugênio estão no topo da lista de coisas que eu odeio profundamente. Acima de tudo, eu odeio fazer trabalho e ter que apresentá-los. Qual é! Não é mais fácil fazer uma prova ou sei lá? Além de que Rogério não faz o mínimo esforço para prestar a atenção na apresentação e a nota é de acordo com sua avaliação pessoal.
— Annaju, nem é tão difícil. — Larissa tentava, mas aposto que até ela mesma já desistiu.
— Olha, Lari, eu só to aqui porque não acho certo você fazer o trabalho todo, mas não aguento mais. — me joguei sobre o tapete rosa felpudo de seu quarto.
— Fique de boa. — ela se jogou ao meu lado, pegando o seu celular e colocando uma das músicas da playlist que eu fiz para ela. O silêncio se instalou e pude escutar ela suspirar profundamente uma, duas, três vezes. — Eu preciso te contar uma coisa... — Larissa começou com um tom brando, me fazendo entrar em estado de alerta para o que viria a seguir.
— Larga o doce, mas, se for mais alguma coisa sobre a fanfic que você leu, saiba que-
— Eu beijei uma garota.
Ãn?!
— Ãn?! — levantei abruptamente e a encarei, mas ela se recusava a me olhar de volta.
— Eu beijei uma garota, Annaju, e eu curti pra caramba. — suas bochechas branquelas coraram rapidamente.
— Uma garota? — eu parecia mais com um disco arranhado, mas, veja bem, ela de repente disse que beijou uma garota e eu precisava de um tempo para digerir isso.
Não que eu fosse homofóbica ou coisa do tipo, mas Larissa nunca demonstrou interesse em garotas e sempre fomos muito abertas uma com a outra. Se ela tivesse interesse teria me contado, certo?
— Então, você é lésbica? — arqueei uma das sobrancelhas tentando entender.
Até onde eu sei Larissa, só tinha beijado um garoto em toda a sua vida.
— Eu sei lá. — deu de ombros.
— Como "sei lá"? Você beijou uma garota, isso não te faz lésbica?
— Ai, Annaju, as coisas não são assim e tipo assim, para mim, ainda é complicado, sabe? Não quero determinar isso agora. Só sei que ela é tipo linda. Ontem eu saí com meu cachorro para passear com ele no parque. Aí ela veio e ficou brincando com o Chaves e depois me chamou para dar uma volta, quando eu vi já estava beijando.
— Beijando uma garota.
— Uma garota.
Não sei o porquê, mas meus pensamentos foram até Carolina, seus lábios carnudos e vermelhinhos. Como é beijar uma garota? Ou melhor, como é beijar Carolina Almeida?
Balancei a cabeça, não acreditando nos pensamentos sem noção que eu estava tendo.
— E aí? — a estimulei a continuar.
— E aí que trocamos o telefone e vamos marcar um rolê no cinema. — Larissa parecia verdadeiramente animada.
— Massa. — apenas fiz um movimento com a cabeça.
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Sobre Músicas e Chicletes Tutti-Frutti
Teen Fiction⚢ #SMCTF Anna Júlia Carvalho viu sua vida mudar de forma abrupta quando seu avô faleceu e ela foi morar em uma casa desconhecida com a mãe e o irmão que mal conhecia. A garota engraçada, amorosa e brincalhona agora carregava um humor ácido e irônico...