Capítulo 13

2.1K 376 144
                                    

13

— Carolina, então? — eu e Nick estávamos tomando café no sofá da garagem de Caio enquanto os meninos acertavam os arranjos de algumas músicas da banda. — Não sabia que você curtia meninas...

— Nem eu sabia. — ri.

— Então você é tipo Carolinasexual. — ela se virou pra mim do nada com os olhos arregalados, deixando claro que estava brincando.

— Acho que sim. — rimos novamente. — Mas, falando sério, é novo, sabe? Ela é a primeira garota com quem estou tendo alguma coisa e... — não sabia como dizer isso sem parecer estranho.

— Ela é a primeira e você está tão apaixonada que mal tem olhos para outras, né? — dou de ombros concordando. — Tudo bem, não se apresse em descobrir sua sexualidade. Saber isso não é importante agora, só curta o que vocês têm. — Nick ficou um minuto em silêncio até fazer a única pergunta que não passou pela minha cabeça todo esse tempo. — Sua mãe já sabe?

Meu Deus, ainda tinha a Dara.

Eu já tinha me acostumado com sua ausência que mal incluía ela nos meus planos ou lhe contava alguma coisa, virou algo normal. Não era necessário contá-la, certo? Mas eu não quero que isso seja interpretado como um segredo, não quero esconder o que sinto por Carolina. Não é como se eu precisasse de sua aprovação para algo, ela nunca esteve presente quando eu realmente precisei dela, porque precisaria agora?

— Tá um caos, né, gata? — Nick riu. — As mães servem para isso. — ela deu dois tapinhas nas minhas costas na tentativa de me consolar.

O problema era esse, ela nunca agiu como minha mãe.

— Ela vai te aceitar, Annaju, tenho certeza disso. — Nick parou por um instante pensando. — Bom, não tenho cem por cento de certeza, mas qualquer coisa você pode ficar lá em casa.

Sussurrei um obrigado e tomei um gole no meu café, que já estava esfriando, rindo de Caio e PH sempre que eles discordavam de algo e começavam uma briga boba.

No fim de tarde, todos nos despedimos e fomos cada um para sua casa. Isso me permitiu pensar. Eu precisava me resolver com Dara, pedir desculpas pelas coisas que disse naquela noite e só depois decidir sobre me assumir ou não. Um passo de cada vez. Isso.

Fiz uma lista mental das coisas que tinha que fazer estrategicamente para não me esquecer de nada.

Primeiro, chegar a minha casa e contar a Lucas que voltei para a banda.

Segundo, esquentar o jantar.

Terceiro, esperar por Dara.

Quarto, me desculpar e contar sobre Carolina.

Quinto, ir para o quarto e ligar para a atual dona do meu coração.

Era moleza.

Bom, eu pensei que seria, porque eu não contava em chegar e encontrar minha mãe, minha antiga psicóloga e a irmã da minha mãe, sentadas no sofá em um silêncio sufocante. De alguma forma, sabia que algo ruim estava prestes a acontecer, ninguém me olhava diretamente nos olhos ao não ser por Viviane — e isso não era um bom sinal.

— O que é isso? — parei no meio da sala.

— Anna Júlia, você pode se sentar? Queríamos ter uma conversa séria com você. — minha psicóloga, Érika, apontou para a cadeira à frente delas.

— Conversar o quê? — perguntei com um tom de voz um pouco mais alto.

— Você pode uma vez na vida fazer o que te pedem? — minha mãe falou calma e pausadamente, o rosto vermelho e as mãos passando várias vezes pelos cabelos presos em um coque. Ela não estava nem um pouco a fim de brincadeira.

Sentei com as mãos suando.

— Anna Júlia, sua mãe veio me procurar alguns dias atrás para conversar sobre os seus comportamentos atuais e chegamos a algumas conclusões que serão boas para você, temos certeza disso, mas antes precisamos que você se abra com a gente. — Érika tinha uma postura ereta, as mãos em cima da bolsa em seu colo e uma feição de preocupação.

— E quais conclusões foram essas? — arqueei as sobrancelhas sem acreditar naquilo tudo.

— Primeiro nos diga o que está acontecendo.

— Como assim? Que merda pode estar acontecendo? — me exaltei.

— Como assim "que merda pode estar acontecendo", sua malcriada! Olha o seu palavreado. — foi à vez da irmã da minha mãe, nem fazia sentido ela estar lá. Eu a odiava. — Você está usando drogas? Se envolveu com quem não deve? Eu estou cansada de sua mãe me ligar quase todos os dias, preocupada com uma adolescentezinha irresponsável. Quando você vai entender que as coisas não giram ao seu redor? Todos nós temos nossas preocupações e você está agindo de forma egoísta, Anna Júlia! — ela respirou bem fundo e se virou para Dara e Érika. — Isso é inútil, só vamos levar ela e pronto.

"LEVAR ELA"? — me levantei quase que imediatamente. — COMO ASSIM?

— Anna Júlia, minha filha, decidimos que é melhor você concluir o seu último ano em Santa Catarina com Viviane. — ela apontou para sua irmã que já estava em pé balançando a perna impaciente.

— NÃO! — gritei automaticamente. — Vocês não podem fazer isso comigo, não podem! E a banda? Meus amigos?

— Sinto muito, Anna Júlia, mas você não está psicologicamente estável a escolher por si mesma no momento. Conversamos bastante e decidimos que essa é a melhor decisão para você. Você terá que deixar seus amigos por um curto tempo, mas é o melhor.

Não, isso não podia estar acontecendo. Não mesmo, Dara não faria isso comigo. Minha mãe não faria...

Mãe... — olhei para ela suplicante, mas seus olhos estavam baixos e focados nas mãos trêmulas.

— O acordo é sem celular, sem banda, sem esses seus amiguinhos e duas consultas semanais até terminar o ano. — Viviane se colocou entre eu e minha mãe. — Vamos logo ou vamos perder o voo.

Sei que disse que queria me ver livre de Serro Azul, mas não era assim que eu estava pensando, não podia ir assim e deixar meus amigos, a banda, Carolina...

Carolina.

— Eu preciso pelo menos me despedir deles...

— Sua mãe fará isso. — Viviane interrompeu novamente.

Não tinha o que fazer, eu estava sozinha, minha mãe mal me encarava e Viviane estava lá como uma voz insistente em seu ouvido, manipulando-a. Ela não voltaria atrás.

Tudo passou em câmera lenta: Lucas esperneava, meu celular foi confiscado e fui conduzida a fazer minhas malas com somente o necessário. Então, logo eu estava parada na porta de casa, olhando fixamente para minha mãe ao pé da escada, esperando que ela se arrependa e diga que foi tudo um erro.

Mas não.

Dara continuava ali, olhando para as próprias mãos, inútil.

Mais uma vez você está me mandando embora. — sussurrei baixinho, mas sabia que ela tinha escutado porque seu corpo todo tencionou e as lágrimas surgiram nos olhos.

O taxista colocou minhas malas no carro e logo eu e Viviane estávamos indo embora. Deixando tudo para trás, tudo o que eu tinha voltado a amar e valorizar.

E agora o que me restava?

Sobre Músicas e Chicletes Tutti-FruttiOnde histórias criam vida. Descubra agora