Capítulo 11

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VOCÊ SAIU DA BANDA?! — Lucas gritou assim que disse o porquê de não ter ido ao ensaio de hoje. — Mas por quê?

— Não é da sua conta. — fui curta e direta. — Já estava na hora. — dei de ombros, voltando minha atenção à televisão que estava em um volume mais baixo que o normal por causa do meu irmão.

— Mas você não pode!

— Posso.

— NÃO PODE! — berrou.

— Não só posso como já fiz. — mudei de canal e levei uma mão cheia de pipoca amanteigada à boca.

— E agora?

— E agora eu quero assistir ao filme.

— Você nem sabe que filme está passando.

— Saberia se você calasse a merda da boca e me deixassem em paz! — bati o pote cheio de pipoca na mesinha de vidro no centro da sala, já sem paciência. Só me dei conta da forma que tinha tratado ele quando vi seus olhos arregalando e sua mão começar a puxar os cabelos da nuca. — Droga. — praguejei baixinho. — Lucas, me desculpa, me desculpa mesmo. — o abracei com força e aos poucos sua mão foi relaxando e ele me empurrou com cautela.

— Tudo bem. — ficou um tempo em silêncio, me encarando, parecia hesitar no que falaria a seguir. — Annaju..— começou num sussurro, raramente me chamava pelo apelido. — É por causa do vovô?

— Não. — desviei os olhos. — Não precisa se preocupar, beleza? As coisas são assim. — peguei a pipoca novamente e tornei a comer.

— Sabe, Anna Júlia, o vovô não ia querer isso, ele nunca iria deixar você desistir dos seus sonhos, principalmente da música, ou que deixasse de ser feliz por causa dele. E isso não tem nada de errado. — Lucas apenas levantou e voltou para o seu quarto, onde provavelmente estaria desenhando.

Às vezes ele parecia mais um irmão mais velho e isso me frustrava, odiava quando um garotinho de dez anos sabia sobre o mundo mais do que eu. Odiava o Lucas porque ele me lembrava do quanto irresponsável eu sou, não só comigo, mas com todos que estão à minha volta. Eu que deveria dar conselhos a ele.

Quando desliguei a televisão para voltar para cima, alguém bateu na porta de casa. Levantei resmungando e tive uma surpresa quando a abri.

Carolina Almeida.

Hoje ela estava diferente. Os cabelos crespos, que eu tanto amava, estavam alisados e perfeitamente penteados, totalmente contrário ao emaranhado dos fios volumosos. Ela usava uma blusa rosa claro folgada com uma jeans branca e elegante, o que era estranho já que Carolina estava quase sempre de vestido. Parecia uma ocasião especial.

Ficamos nos encarando por bastante tempo, não estava a fim de conversar, não queria ver ninguém. Nem Carolina. Mas ela pareceu entrar em consenso.

— Oi. — disse.

— Vai a algum lugar? — questionei.

— Não, acabei de voltar— Carolina não parecia disposta a me dizer de onde ela tinha voltado e eu não sei se queria mesmo saber.

Ah. — concordei pondo a não nos bolsos do meu moletom preto.

Carolina continuava linda, mas não parecia a minha Carolina, apenas uma versão dela que eu ainda não tinha decidido se gostava ou não. Ela não parecia um pássaro livre e sem destino que apenas ia aonde o vento levava, parecia estar presa em uma gaiola. Nunca pensei que a veria assim algum dia.

Sobre Músicas e Chicletes Tutti-FruttiOnde histórias criam vida. Descubra agora