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Os dias passaram voando. O último trimestre do terceiro ano do ensino médio. Dois meses para acabar o ano. Dois meses até minha volta para Serro Azul do Agreste. Dois meses desde que Carolina chegou a Nova Iorque e me liga todos os dias para me contar o quanto está amando a nova casa, a nova vida e a faculdade.
Estava tudo indo bem. Como o ano escolar chegava ao fim e, com ele, vinha o vestibular, estávamos atolados de provas e aulas extras. O que me assustava.
Quando somos crianças, pensamos que a adolescência será a melhor fase da nossa vida. Estamos mais velhos, mais maduros, prontos para ir a festas, ter independência, namorar e tudo aquilo que os filmes americanos nos vendem. Acontece que a adolescência é uma fase de transição para a vida adulta. Pode parecer óbvio, eu sei, mas o que não te contam é que é nessa fase que precisamos começar a assumir certa responsabilidade sobre nossa vida, entender que nossos pais não poderão decidir tudo por nós, e uma dessas é decidir o que queremos fazer dela.
Pode parecer igual, mas é completamente diferente de quando éramos pequenos e nos perguntavam o que queríamos ser quando crescessemos. Isso porque já crescemos, as provas estão aí, assim como um grande passo na nossa vida e isso pode ser bem assustador para um adolescente, até porque muitos de nós mudamos e as convicções que tínhamos não são mais as mesmas. Agora tem muita coisa em jogo do que só um sonho de criança. Tem a pressão, o mercado de trabalho e os dias sem dormir estudando.
Tinha tanta coisa acontecendo em minha vida que eu sequer cheguei a pensar no que quero cursar. Quer dizer, tem a música, é isso que eu quero para minha vida. Eu poderia cursar música em alguma faculdade perto de casa, não queria ficar longe do meu irmão ou parar de vez com a banda, mas a faculdade pública mais perto de Serro Azul era na capital do estado da Bahia. Além disso, eu ainda não tenho certeza do que quero fazer.
Tudo isso era frustrante demais.
Carolina estava cursando o que ela desejava, o sonho dela, e eu via meus colegas estudando com tanta vontade de passar em algum curso ou faculdade dos sonhos, mas eu parecia ser a única que não tinha certeza do que queria.
— Annaju, não precisa surtar. — a voz de Carolina soava. — Você não tem que saber com certeza o que quer fazer da vida. — eu olhei para a tela do notebook e tive apenas a visão do seu queixo, enquanto ela andava por algum lugar.
— É, eu sei, mas eu me sinto pressionada. — desabafei. Eu tinha algumas abas abertas no notebook, todas sobre cursos, faculdades e teste de profissão. — Eu não sei o que fazer.
— Não se sinta pressionada, logo isso passa e você vai ver...
Ela vinha repetindo a mesma frase já tinha uma semana. Carolina estava sempre ocupada, o fuso horário não ajudava e raramente conversávamos sobre nós, sem ter que dividir a atenção com alguma outra coisa. Estava tudo muito estressante...
— Beleza-
— Carolzinha! Eu estava te procurando, já está todo mundo lá, só falta a gente... — outra garota surgiu na câmera, sorrindo para Carolina e tirando sua atenção de mim.
— Ah! Tranquilo, eu nem vi a hora passar. Amor, eu vou ter que ir, certo! Beijinhos, estou torcendo por você. — e desligou sem nem esperar uma resposta.
— Estou com saudades. — suspirei e fechei o notebook.
Era isso, me debrucei na cadeira e passei a mão pelos meus cabelos, bagunçando-os. Eu tinha que pensar em alguma coisa para fazer rápido, essa sensação de estar ficando para trás acabava comigo.
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Sobre Músicas e Chicletes Tutti-Frutti
Novela Juvenil⚢ #SMCTF Anna Júlia Carvalho viu sua vida mudar de forma abrupta quando seu avô faleceu e ela foi morar em uma casa desconhecida com a mãe e o irmão que mal conhecia. A garota engraçada, amorosa e brincalhona agora carregava um humor ácido e irônico...