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Coincidência são eventos que ocorrem com alguma semelhança, mas sem relação de causa e consequência. Já a sincronicidade é quando existe uma conexão entre eventos externos e um sentimento, pensamentos ou desejos internos e, diferente da coincidência, possuem significado.
Eu vi esse termo ser mencionado em um filme qualquer que eu assisti para fazer um trabalho, mas nunca dei importância ou parei para pensar sobre ele até agora.
Tudo o que tinha para dar errado hoje, deu e de várias formas possíveis.
Acordei extremamente atrasada porque fui dormir pensando em Carolina e na nossa conversa, em como eu não conseguia expressar o que queria e me deixei levar por uma onda de ciúmes besta. Saí sem conseguir comer, mas mesmo assim consegui a proeza de perder o buzu, tive que correr para chegar no próximo ponto para tentar pegar outro. E, como se não pudesse piorar, começou a chover muito forte no meio do caminho, o que fez com que eu chegasse na sala de aula completamente encharcada, da cabeça aos pés.
— Meu Deus, Annaju! — exclamou Alice. — O que aconteceu com você?
Eu abri a boca para dizer que não aconteceu nada além do óbvio, eu peguei um baita toró, mas simplesmente me calei, senti que não valia a pena, e sentei na carteira ao seu lado.
— Já percebi que você não tá no clima e eu não quero piorar isso, mas você perdeu o teste surpresa da professora de gramática. — ela tinha a voz extremamente cuidadosa e, quando eu virei bruscamente, a vi apertar os olhos por trás dos seus grandes óculos.
— TESTE?! — gritei atraindo a atenção da sala toda e recebendo uma reclamação do professor. — E agora? — sussurrei depois de me desculpar com todos.
— Acho que você pode conversar com a diretora e explicar o que aconteceu, talvez ela deixe você fazer outra prova depois, mas acho difícil.
Rosa Madalena, minha professora de gramática, era a versão feminina de Rogério Eugênio, mas conseguia ser mais impassível. Ela sempre fazia teste surpresa para saber se os alunos estavam estudando mesmo e quase nunca aplicava novamente, sem exceções. Isso significava que eu estava ferrada com "F" maiúsculo.
— Você pode tentar fechar a prova dela. — Alice deu de ombros e riu nervosa.
Fechar a prova de Rosa Madalena? Acho melhor eu ir logo pagar a taxa de recuperação.
Me afundei na carteira e me concentrei em prestar a atenção na aula para o prejuízo não ser ainda maior.
Tudo isso só serviu para piorar ainda mais meu humor. Eu mal conseguia passar dez minutos sem gemer de raiva ou revirar os olhos. E, não sei por lei da atração ou simplesmente azar, o resto do dia foi ficando cada vez pior.
Esbarraram comigo no intervalo e derrubaram suco de uva na minha blusa toda, tive que usar uma farda qualquer e fedido dos achados e perdidos, recebi a nota da prova de matemática, a qual fiquei abaixo da média, e deixei meu trabalho de literatura em casa, fui novamente repreendida pelo professor.
— Minha avó diz que quando estamos com uma onda de azar, temos que pendurar uma ferradura atrás da porta. — Alice disse já no final das aulas, estávamos guardando nossas coisas para ir embora.
— Onde eu vou achar uma ferradura? — olhei incrédula para ela.
— Não sei. — ela riu. — Vou indo senão seu azar vai passar para mim.
Eu sei que era brincadeira, mas não consegui evitar demonstrar o quanto fiquei irritada.
O dia foi bastante cansativo e carregado, como se uma nuvem cinza estivesse me perseguindo por aí e fazendo questão de acabar com qualquer momento de felicidade e paz. Quando eu finalmente pensei que o dia pelo menos poderia acabar bem, o telefone tocou.
Carolina Almeida.
Seria um alívio se a gente não tivesse tido aquela pequena discussão ontem. Tive medo do que iria acontecer a seguir, mas teria que encarar a situação um hora ou outra. Então, por que não fazer isso logo agora e aproveitar meu azar até o último minuto?
— Oi. — atendi pelo notebook, ligando a webcam.
Ela estava lá, a cara amassada e com olheiras, os cabelos bagunçados presos no topo da cabeça, jogada entre as cobertas como quem teve um dia igualmente péssimo.
— Dia ruim? — arqueei as sobrancelhas, ainda meio receosa sobre como falar de ontem.
— Uhum. — ela concordou e afundou mais o corpo na cama. — Estou com uma ressaca daquelas, acho que não deveria ter ido em uma festa no meio da semana. Quase que eu não levantei para a aula hoje.
Eu ri porque comigo foi igual.
— Tá se sentindo um pouco melhor agora?
— Sim.
Ficamos em silêncio.
Eu olhava cada parte do seu rosto que eu tanto sentia saudades de beijar. Ela parecia péssima, mas continuava incrivelmente linda.
Carolina Almeida nunca estava feia. Nunca.
— Sobre ontem... — ela começou com um pouco de tristeza no olhar.
— Desculpa. — não me aguentei. — Desculpa ter falado daquele jeito com você.
Aquele olhar conseguia desarmar uma bomba e comigo não seria diferente. Eu não conseguia resistir e nem enfrentar Carolina quando ela me olhava daquele jeito, quando ela é simplesmente ela.
— Eu acho que a gente precisa conversar. — sua voz parecia séria e até impassível.
Eu não sei porque, mas essa frase nunca vem seguida de algo bom e isso me apavorou. Ela iria terminar comigo? Eu estava certa sobre a Maddison? Eu a magoei muito ontem? Várias possibilidades passaram pela minha cabeça e nenhuma delas conseguia ser minimamente boa.
— Eu gosto de você, Annaju, gosto mesmo. — Carolina se sentou na cama e olhou para algum lugar, evitando me encarar. — Gosto tanto que não quero te perder, não quero que a gente fique assim, sabe? Não quero ver nosso relacionamento desgastado. A gente precisa conversar se a gente quiser que isso dê certo. — podia jurar que sua voz deu uma embargada.
— Amor... — comecei.
— Deixa eu terminar. — me interrompeu. — Eu sei que não está sendo fácil para você, sei mesmo. Talvez você pense que eu não presto atenção no que você fala ou no que você está sentido, mas eu presto. E me dói não poder estar com você para te ajudar nesse momento porque sei que essa distância só piora tudo, mas eu também tenho meus próprios problemas. Eu estou em um lugar novo, tendo que me acostumar com tudo, lidar com a minha mãe, cuidar de Emily e estudar. Não é só você, Annaju. — Carolina parecia extremamente cansada, diferente de todas as outras vezes que ela me ligava ou atendia o telefone rindo e me contando sobre tudo. — Eu não quero, sei lá, culpar você por nada ou diminuir sua situação só porque para mim tá difícil também. Eu só quero que você tenha paciência. Paciência com todos ao seu redor, mas principalmente com você! Respeite o seu tempo.
Às vezes ficamos tão centrados em nós, em nossos problemas que mal notamos que os outros também têm, por menor que pareça ser em comparação ao nosso. E isso não é um problema, é algo normal do ser humano. Só precisamos ter paciência e empatia. Todo mundo tem sua própria batalha para enfrentar.
— Eu... Eu nem sei o que dizer. — uma lágrima descia solitária pela minha bochecha. — Tudo isso é tão frustrante. Me desculpe por dizer aquilo, por desconfiar de você ou sugerir algo entre você e a Maddison, é que eu tô me sentindo tão insegura nesses meses. Eu sinto tanta a sua falta!
— Eu também, Annaju, eu também. — ela, assim como eu, chorava.
E não precisávamos dizer mais nada, apenas curtimos um dos poucos momentos que tínhamos cem por cento para nós.
Relacionar à distância não é fácil. É preciso maturidade, conversa, confiança e paciência, mas a gente vai fazer dar certo. Eu vou.
Sendo coincidência ou sincronicidade, eu não sei. Eu só sei que hoje serviu para eu ter certeza de uma única coisa:
Eu amo Carolina Almeida com todo o meu coração.
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Sobre Músicas e Chicletes Tutti-Frutti
Fiksi Remaja⚢ #SMCTF Anna Júlia Carvalho viu sua vida mudar de forma abrupta quando seu avô faleceu e ela foi morar em uma casa desconhecida com a mãe e o irmão que mal conhecia. A garota engraçada, amorosa e brincalhona agora carregava um humor ácido e irônico...