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Os corações partidos, atualmente, não são mais um tabu. Hoje se fazem músicas sobre ou veem isso como uma oportunidade de sair por cima, dizendo que quem te recusou saiu perdendo. Por isso, acho que de tanto banalizarmos o sentimento de desilusão amorosa, deixamos de senti-lo de fato. Deixamos de nos permitir sofrer, porque achamos que esse sentimento nos deixa fraco, patético. Com isso, também condenamos aqueles que nos recusam, porque o ponto é sempre quem teve o coração partido e nunca quem partiu o coração. Ninguém se pergunta o porquê, tipo "Por que ela ou ele não aceitou meus sentimentos?". Isso é cruel demais.
Caio é como um irmão mais velho para mim, sempre esteve ao meu lado e, principalmente, ao lado de Lucas. Ele, mais do que ninguém, me entende e me apoia. Quando o vovô faleceu, ele foi o meu porto seguro e nunca mudou comigo. Sem olhar de pena, sem pisar em ovos. Caio continuou sendo o mesmo e tentando não deixar que eu não seja mais eu mesma. Por isso, eu não podia responder seus sentimentos.
E tinha Carolina, claro. Eu gostava dela, não podia fazer isso com ela, comigo, não estava certo.
Então, mesmo sabendo que isso poderia afetar nossa amizade, empurrei Caio e limpei minha boca com as costas da mão.
— VOCÊ ENDOIDOU?! — berrei, indignada.
— Annaju... E-eu... Eu te a-
— NÃO! — o interrompi antes que ele terminasse aquela frase. — Não diga isso assim, não diga dessa forma. — passei as mãos pelos meus cabelos, nervosa. — Somos amigos, Caio. Melhores amigos! Isso não é certo, não é.
— Eu sempre gostei de você, Annaju. Podíamos tentar. A gente dá tão certo juntos e... — ele se aproximava de mim, o rosto mostrando desespero.
O que estava acontecendo com ele? Por que ele estava fazendo isso justo agora? Ele não tinha dado em cima de Carolina? Por que estava dizendo que me amava agora?
— Você é como um irmão para mim, Caio. Nunca te vi dessa maneira e você sabe disso.
— Eu pensei que só era questão de tempo, você podia muito bem começar a gostar de mim... Eu estive com você quando o seu avô faleceu e...
— COMO É QUE É?! — não estava gostando nada do rumo que aquela conversa estava levando.
Uma das leis mais famosas de Murphy diz que: qualquer coisa que possa dar errado dará errado da pior maneira possível. E isso veio à minha mente nesse exato momento. Não precisa ser físico, ou qualquer coisa que ele era, para sentir medo deste decreto, especialmente num momento como esse.
— Você só esteve ao meu lado para que eu me apaixonasse por você? — as palavras saíram baixas antes que eu pudesse processá-las.
Era uma acusação arriscada. Não, era uma acusação que provavelmente era sem pé nem cabeça, mas... Não sei o que deu em mim, eu estava confusa, frustrada, com medo. Era tanta coisa que eu mal podia compreender o que estava falando. Só conseguia sentir minha barriga doendo, meus pés gelados e minha mão tremendo.
— Não, Annaju, eu não quis dizer isso... E-eu- — ele se embolou nas palavras.
— O QUÊ?! — gritei com Caio mesmo sabendo que iria me arrepender mais tarde. Só que agora eu só queria expor todas as minhas frustrações, tudo o que estava sentindo. — Você esperava que ficando ao meu lado no momento mais difícil de toda a minha vida, depois que o meu pai me abandonou, iria me fazer ver você como o meu herói? Você só ficou do meu lado e fez tudo por mim para eu enxergar você com outros olhos, era isso? Nossa, Caio, você jogou muito baixo agora, muito mesmo! Você é podre! — não sei o porquê de está o culpando pela minha confusão de sentimentos, mas estava.
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Sobre Músicas e Chicletes Tutti-Frutti
Novela Juvenil⚢ #SMCTF Anna Júlia Carvalho viu sua vida mudar de forma abrupta quando seu avô faleceu e ela foi morar em uma casa desconhecida com a mãe e o irmão que mal conhecia. A garota engraçada, amorosa e brincalhona agora carregava um humor ácido e irônico...