Capítulo 5

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5

Êxtase é o estado emocional em que a pessoa se sente fora de si ou em um tipo de transe, caracterizado pela intensificação extrema de variados sentimentos ou, como meu avô costumava falar, uma explosão de sentimentos.

Enquanto eu olhava Carolina Almeida com os lábios grudados nos de Elô, a única coisa que eu conseguia pensar era que estava em êxtase. Não sei se no bom ou mal sentido, porque, veja bem, analisando a situação, a garota que me tira o sono está beijando outra. Não é como se eu estivesse com ciúmes ou quisesse mesmo beijar Carolina — com certeza eu já estava delirando —, mas eram tantos sentimentos em conflitos que eu entrei em erupção, assim como um vulcão extravasando todo o magma para superfície do planeta. Eu mal podia escutar o som ao meu redor e nem o que o pessoal da mesa me perguntava quando apenas peguei minha bolsa e saí correndo daquele bar, me livrando de toda a atmosfera pesada na qual estava envolvida.

O que estava acontecendo comigo? Por que eu corri?

Assim que eu cheguei, após ignorar todas as ligações e mensagens que Carolina me mandou, me joguei na cama e percebi que tudo o que aconteceu pareceu ridículo de mais. Eu pareci ridícula de mais.

— Que droga! — resmunguei alto, colocando um dos meus travesseiros sobre minha cabeça para abafar o grito de frustração que sentia.

— Anna Júlia? — escutei a voz de Dara. — Filha, você chegou correndo e nem me escutou. Queria saber se vai descer para tomar café. — ela abriu um pouco a porta e analisou o quarto escuro.

— Não. — minha voz saiu baixa por causa do travesseiro.

Pelo canto a vi acenar e continuar olhando para o amontoado em cima da cama no qual eu estava no meio. Sua feição estava diferente e pude ver que ela travava uma batalha sobre me perguntar ou não o que aconteceu. Eu sei que nos últimos dias ela estava tentando ao máximo ser uma mãe presente não só para mim como para Lucas também. Então, resolvi acabar com as rugas em sua testa.

— Está tudo bem, eu estou bem. Não foi nada. — respondi e a vi fechar os olhos por um momento.

— Certo, certo. Qualquer coisa eu estou lá embaixo ajudando o Lucas na lição. — ela riu fraco e fechou a porta.

Aos poucos eu comecei a me acostumar com sua presença e a aceitar como mãe. Ainda era difícil, pois ela ficou ausente por boa parte da minha vida, mas agora tudo estava se ajeitando — ou pelo menos eu achava que estava. Lidar comigo era um pouco mais fácil para ela, mesmo que eu a lembrasse do meu pai fisicamente, do que com o Lucas. Ela engravidou dele em um período difícil da vida e o Lucas não foi uma criança desejada. Minha mãe não o queria e, após dar à luz, teve depressão pós-parto. Sei que até hoje ela não se recuperou, mas também sei que ela está tentando, e isso é o que importa.

Quando eu estava prestes a virar na cama e dormir, a porta se abre novamente.

— Eu já disse que estou bem, mãe. — sentei na cama, mas me deparei com uma sombra pequena e magricela vindo até mim no escuro.

— Mamãe disse que você está triste. — Lucas se sentou ao meu lado — Já conversamos sobre isso. — o tom de voz dele parece de um pai cansado de dizer a mesma coisa para o filho teimoso, que no caso sou eu.

— Lucas, agora não. Eu não estou triste, só estou...

— Não precisa se explicar. — ele me interrompeu, pegou as cobertas jogadas na cama e nos cobriu, ajeitando-se ao meu lado. — Eu odeio dormir fora da minha cama, mas farei esse sacrifício só hoje. Sua cama é mole demais.

Sobre Músicas e Chicletes Tutti-FruttiOnde histórias criam vida. Descubra agora