Fifty

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Sexta-feira

Billie

Dou uma olhada no despertador. Ainda faltam dez minutos para tocar.

Resmungo e puxo as cobertas para cima da cabeça. Caí no sono no sofá, ontem à noite e acabei subindo para o meu quarto aos tropeços às duas da manhã. Quando cheguei ao andar de cima, percebi que a luz do banheiro de Ariana estava acesa. Quando ela não consegue dormir, toma banho no meio da madrugada. Pensei em fazer a minha luz piscar algumas vezes. Se ela fizesse a dela piscar, eu mostraria um recado na minha janela, como nós fazíamos quando éramos crianças. Mas resolvi não incomodar. Ariana não quer saber de mim. Ela passou a tarde com Hailee, dando os primeiros passos na direção do futuro das duas juntas.

As sandálias da minha mãe estalam na escada e examino meu cérebro cansado para ver o que eu posso ter feito para irritá-la. Eu nem a vi ontem à noite. Ela e Martin saíram para comprar armários em Pittsburgh. Jantei e coloquei o meu prato e o meu copo na máquina de lavar. Até limpei a pia, antes de começar a assistir a Quanto mais idiota melhor.

Minha mãe está usando um vestido amarelo e o cabelo dela está preso para trás com uma faixa combinando. Ela está com a testa franzida e segura uma fita de vídeo preta.

— Logo esse filme, Billie?

Esfrego o ombro sobre o qual estava dormindo.

— Foi por isso que você me acordou?

— Não. — Ela mostra uma fita que tem na outra mão.

— É por isso que acordei você.

Pego um fru-fru da minha mesinha de cabeceira e faço um rabo de cavalo.

— Você ejetou nossa fita virgem para assistir a Quanto mais idiota melhor — diz minha mãe, apertando os lábios com força.

Dou de ombros. Talvez tenha ejetado uma fita. Não lembro.

— Nós estávamos gravando Seinfeld — diz ela. — Tínhamos programado.

— Nós gravamos toda quinta-feira, Billie. Você sabe disso. — Ela olha para o pôster de mar preso na parede em cima da minha escrivaninha e, depois, de novo para mim. — Martin e eu estamos preocupados com sua falta de respeito nesta casa.

— Falta de respeito? Do que você está falando?

Ela aponta para o chão perto da minha cômoda.

— Martin reparou naquela mancha bem ali. Billie, nós acabamos de colocar carpete novo. Como é que você já derramou alguma coisa em cima dele?

Eu não quero falar sobre isso. Derramar a água do vaso foi uma coisa idiota de se fazer, mas não foi a coisa mais idiota que fiz naquela tarde.

— Devia ter pedido para a gente ajudar. Temos produtos que tiram manchas...

— O que Martin estava fazendo no meu quarto?

— Ele só estava medindo com o empreiteiro.

Pulo para fora da cama e puxo a camiseta para cima dos quadris. Não estou a fim de brigar, principalmente depois das discussões com Ariana e com meu pai, mas não posso deixar isso passar em branco.

— É para o escritório dele — completa ela. — Mas só para depois que você se formar.

— Isso é uma loucura! — digo, com o coração disparado. Coloco as mãos perto dos olhos, quase para tapá-los. — Este é o meu quarto há dezesseis anos e continua sendo o meu quarto. Talvez Martin tenha planos de transformá-lo em um escritório para ele algum dia, mas não tem minha permissão para entrar aqui sempre que quiser.

Minha mãe coloca os dois vídeos em cima da minha cômoda.

— Sinto muito por Seinfeld — digo, abro uma gaveta e pego uma camiseta verde e um short jeans. — Vou ver se acho alguém que gravou. Mas você precisa dizer a Martin para parar de tramar a invasão dele.

Minha mãe olha para o nada, como se estivesse lutando contra lágrimas.

— Tem sido um ajuste para todos nós — diz ela baixinho.

Penso em dizer a ela que foi um ajuste quando ela e meu pai se divorciaram e que o breve casamento com Erik foi outro ajuste. Estou cansada de ajustes.

— Só diga a Martin para não entrar no meu quarto — falo.

Liguei a tela do computador e minha mente parou em Ariana, nos nossos momentos e em como somos felizes juntas. Tudo perde a cor quando brigamos, fica sem graça, não é a mesma coisa.

Eu acho que ela está confusa mas pelo menos pensa em nós e no que vai fazer.

— Billie! — chama a minha mãe, e isso me assusta. — Martin precisa dar um telefonema de trabalho. Você pode desligar a internet agora?

— Era disso que nós estávamos falando agora há pouco — avisa. — Vamos mandar instalar outra linha de telefone em breve, só para a internet. Mas, agora, você precisa desligar.

Quando fecho a tela, penso na foto de Dinah, Normani, Ariana e eu na GoodTimez que rasguei outro dia. Corro para minha lata de lixo, na esperança de que Martin não a tenha esvaziado quando passou por aqui.

E ali, embaixo de vários lenços de papel amassados, estão os pedacinhos da foto. Tiro todos do lixo, um por um, e seguro na palma da mão em concha.

Eu não posso jogar fora essas lembranças, mesmo que como casal, não fiquemos juntas. Abro a gaveta de cima, coloco os pedaços da foto no meu diário e volto a fechar a cômoda.

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