Forty Nine

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Ariana

Na salinha de descanso dos funcionários, o pai de Normani traz dois pratos de papel, cada um com uma fatia de pizza de pepperoni.

— Sei que você disse que não estava com fome — fala e coloca um prato do lado do meu livro de história. — Mas todo mundo tem espaço para uma fatia.

Gosto do pai de Normani. Talvez seja pelo fato de ele ter criado Normani sozinho, mas é mais acessível do que a maior parte dos pais. Quando cheguei há uma hora, dizendo que precisava de um lugar para estudar, não me questionou, apesar de ninguém ir à GoodTimez em busca de paz e silêncio. Ele simplesmente tirou os jornais da mesa dos fundos e perguntou se eu queria alguma coisa para comer.

— A TV vai incomodar você? — pergunta ele, sentando-se em uma cadeira dobrável à minha frente.

— Não, tudo bem. — Viro uma página do livro didático e dou uma mordida na pizza.

O pai de Normani se inclina para a frente e aperta o botão para ligar a TV. Dois homens aparecem na CNN, discutindo a respeito do presidente Clinton e de sexo.

— Por acaso eles não estavam falando disso na última vez que vim aqui? — pergunta ele.

— Tenho certeza de que estão quase acabando.

Depois que Hailee me deixou em casa, tentei estudar na minha sala para poder ficar de olho na entrada da garagem da casa de Billie.

Mas, então, quando Billie chegou em casa da corrida, fiquei paralisada no meu sofá enquanto ela entrava em casa. Um pouquinho depois, ela voltou a entrar no carro e saiu em disparada. Foi aí que peguei a mochila e o skate e vim para a GoodTimez.

— O que você está estudando? — pergunta o pai de Normani.

— Vietnã. — Dou mais uma mordida na pizza e limpo os dedos em um guardanapo. — Vai ter uma questão dissertativa na prova final sobre a teoria do dominó.

— Eu me lembro da teoria do dominó — comenta e assiste a mais alguns segundos dos homens discutindo na TV. — Se não impedirmos algo ruim de acontecer, a coisa continua se disseminando até ficar praticamente impossível tomar alguma providência a respeito dela.

— Mesmo com a nossa capacidade de avaliar aquela guerra — diz ele —, não há como saber com certeza o que foi perdido e o que foi salvo. Mas as coisas são assim. A história é uma droga quando se está no meio dela.

Normani chega e apoia o skate na parede.

— O que está rolando, sra. Steinfeld? — diz ela para me cumprimentar. — Pai, você acabou de dizer que "a história é uma droga"?

— Nós estávamos falando sobre a dissertação de Ariana — responde o pai dela. — Falando em lição de casa, por onde diabos você andou?

— Estava com um amigo. Desde quando você acompanha todos os meus movimentos?

O pai de Normani faz uma bolinha com um guardanapo e joga em cima dela.

— Só faça a sua lição de casa, Mani; depois preciso de você no salão. Você também pode ajudar, Ariana. Pagar pela estadia.

A GoodTimez Pizza tem reservados amarelos e mesas cor de laranja, do lado do restaurante, e um fliperama do outro. Mas, bem no meio, fica a razão por que todas as crianças de Lake Forest querem fazer sua festa de aniversário aqui. Três escorregadores de tubos de plástico (vermelho, azul e verde) cospem a garotada em uma piscina de bolinhas de plástico das cores do arco-íris.

Com intervalo de algumas semanas, depois que o restaurante fecha, a piscina é esvaziada para que as bolinhas sejam limpas. Nesta noite, obedecendo ordens, fico para ajudar. Normani se aperta por uma faixa vertical na rede ao redor da piscina de bolinhas e imediatamente se afunda de joelhos. Ela mergulha um balde branco nas bolinhas e depois faz passar pela rede. Seguro um saco de lixo preto grande aberto e Normani vira o balde, deixando as bolinhas caírem.

— Então, não aconteceu nada hoje quando você estava com Hailee? — pergunta Normani, enchendo mais um balde de bolinhas. — Talvez você deva convidá-la para almoçar com a gente amanhã. Vou ver o que posso fazer para ajudar a dar impulso às coisas.

Os outros funcionários estão limpando as mesas, passando aspirador e tirando as fichas dos videogames. A música está tocando alto demais para eles poderem ouvir o que nós estamos dizendo, mas, mesmo assim, não me sinto à vontade com essa conversa.

— É cedo demais — digo baixinho. — Mal nos conhecemos.

Normani esvazia mais um balde no meu saco.

— Cara, ela tirou você da escola. Acho que ela quer conhecer você.

— Talvez. — Coloco o saco de lixo cheio de lado. — Mas talvez eu não esteja pronta.

Normani abre a rede só o suficiente para jogar uma bola verde na minha testa.

— Então, apronte-se! Estamos falando de Hailee Steinfeld. É o meu sonho ser amiga de quem vai sair com ela.

Balanço um saco de lixo para abrir.

— Você não preferia ser quem sai com ela?

Normani pensa a respeito do assunto.

— Não. Gente demais fica falando de você.

Eu pego a bola verde do chão e coloco dentro do saco de lixo.

— Isso sem falar que parece que você e Dinah vão voltar.

— Não se preocupe — digo. — Vou deixar Dinah contar para Billie, se é que já não contou. Mas você deve se preparar. Billie vai querer ter uma longa conversa com você a respeito...

— A respeito de não magoar Dinah, eu sei. — Normani apoia as costas na beirada acolchoada da piscina de bolinhas. Nós esvaziamos o suficiente para os joelhos dela aparecerem feito duas ilhas na frente do peito. Ela olha para mim através da rede.

— Eu nunca ia querer magoar Dinah. Da última vez, simplesmente não estava pronta.

— Mas você é capaz de entender por que Billie está preocupada — completo. — Da última vez que vocês duas terminaram, Dinah enlouqueceu.

Normani pega uma bola vermelha e lança de lado para cima do escorregador azul. Ela rola até o alto e volta a cair na piscina.

— Nós gostamos uma da outra — diz, finalmente. — E nós duas refletimos muito neste ano. Não sei o que mais podemos fazer.

Não há nada que eu possa dizer a ela. Normani está se debatendo com o fato de se deixar apaixonar ou não por alguém por quem já se apaixonou. Minha situação é diferente. Eu devia estar me apaixonando por Hailee e tudo parece estar se alinhando para que isso aconteça. Mas, quando penso sobre o meu futuro, não sei muito bem se é para lá que quero que ele vá.

A luz da varanda está acesa quando chego em casa. Apoio meu skate na porta e enfio a mão no bolso para pegar a chave. Dá para ouvir meus pais conversando lá dentro. Provavelmente não vão dizer nenhuma palavra quando eu entrar, mas meu pai vai olhar para o relógio, para mostrar que quase exagerei.

A casa de Billie está praticamente escura. As luzes do lado de fora estão apagadas e as do andar de cima também. Há um brilho azul fraco vindo do fundo da sala do térreo.

Atravesso o gramado que divide a minha casa e a dela, e ouço os sinos de vento da varanda da frente de Billie. Quando Martin os pendurou, Billie reclamou que até os barulhos dele estavam se infiltrando em sua vida.

Com passos leves, eu me aproximo da janela da sala dela. No meio do aposento, Billie está dormindo no sofá, com a cabeça apoiada no braço do móvel. Ela está de frente para a TV, mas, do jeito que está virada, não consigo ver o que ela está assistindo.

Eu gostaria de poder estar sentada naquele sofá com ela neste momento, mas acho que ela está cansada demais para isso.

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