𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 - 𝟎𝟑

217 31 2
                                    

Whitney sempre tinha sido magrinha. Enquanto Kirsten era mais curvilínea e eu mais atlética, minha irmã do meio tinha nascido com corpo de modelo, alta e magra como uma tábua. Os fotógrafos sempre diziam para Kirsten e para mim que, embora tivéssemos um rosto bonito, éramos muito cheinha e muito baixa, respectivamente, para conseguir trabalhos maiores. Já Whitney parecia ter potencial.

Então era esperado que, depois do último ano da escola, Whitney se mudasse para Nova York para tentar a sorte como modelo por lá. Era o que Kirsten tinha feito dois anos antes. Depois de implorar muito, meus pais a deixaram ir morar lá com duas meninas mais velhas que conhecia da agência, com a condição de que também estudasse. Embora no início Kirsten tivesse conseguido manter um equilíbrio, quando conseguira fazer um ensaio grande e alguns comerciais, a faculdade caíra no esquecimento. Mesmo com esses trabalhos, no entanto, ela ainda ganhava a maior parte do seu dinheiro trabalhando como garçonete e hostess.

Não que aquilo a incomodasse. Desde o ensino médio, quando descobrira os garotos e a cerveja - não necessariamente nessa ordem -, seu foco no trabalho como modelo diminuíra de forma considerável. Enquanto Whitney sempre dava um jeito de dormir o suficiente e chegar no horário, Kirsten estava sempre atrasada e de ressaca. Uma vez, ela aparecera para um ensaio fotográfico com um chupão tão grande que eles não conseguiram cobrir com maquiagem. Quando os anúncios saíram, semanas depois, ela ria enquanto me mostrava a marca - um círculo marrom quase imperceptível embaixo da alça do vestido de princesa.

Minha mãe tinha grandes expectativas para Whitney. Duas semanas depois da formatura, elas fizeram as malas e foram para o apartamento onde Kirsten passara a morar sozinha. Para mim, parecera uma má ideia desde o início. Meus pais, no entanto, foram firmes: Whitney tinha só dezoito anos e precisava de alguém da família cuidando dela. Como meus pais ajudavam Kirsten a pagar o aluguel, ela não podia reclamar. (Embora tenha reclamado, claro.) Além disso, minha mãe achava que minhas irmãs já estavam bem grandinhas e que seus conflitos eram coisa do passado.

Minha mãe ficou um tempo em Nova York, ajudando Whitney a se instalar, inscrevendo-a em alguns cursos e indo com ela às primeiras reuniões com as agências. Toda noite, ela ligava depois do jantar para nos contar como as coisas estavam indo, parecendo mais feliz do que nunca enquanto falava sobre encontros com celebridades, reuniões com agentes e o ritmo agitado e maravilhoso da cidade. Em uma semana, Whitney fez o primeiro teste e conseguiu seu primeiro trabalho na cidade logo em seguida. Quando minha mãe foi embora um mês depois, ela já estava trabalhando muito mais do que Kirsten. Tudo ia exatamente como o planejado... até não ir mais.

Minhas irmãs moravam juntas havia quatro meses quando Kirsten começou a ligar para minha mãe dizendo que Whitney estava estranha. Ela tinha emagrecido, mal parecia comer e respondia com grosseria sempre que Kirsten tocava no assunto. No início, não parecia motivo de preocupação. Whitney sempre fora mal-humorada, e meus pais já esperavam que houvesse algum problema de convivência entre as duas. Era mais provável que Kirsten estivesse fazendo drama, minha mãe imaginava. E se Whitney tinha emagrecido um pouco... bem, ela estava trabalhando em um mercado muito competitivo, o que significava uma pressão maior quanto à aparência. Conforme ficasse mais confiante, as coisas iam se equilibrar.

Quando a vimos, no entanto, notamos que a mudança era óbvia demais. Antes ela era graciosa, elegante; agora, parecia abatida, com a cabeça grande demais, desproporcional em relação ao corpo, parecendo pesar sobre o pescoço. Ela e Kirsten vieram juntas para casa no feriado de Ação de Graças, e quando as encontramos no aeroporto o contraste foi alarmante. Lá estava Kirsten, com as bochechas redondas e os olhos azuis, usando uma blusa rosa, com a pele quente contra a minha quando me abraçou, gritando o quanto estava com saudades de nós. Ao lado dela, Whitney estava de calça de moletom, uma blusa preta de gola alta e manga comprida, sem maquiagem, com a pele pálida. Foi um choque, mas ninguém disse nada no início, só as cumprimentamos, abraçamos e perguntamos sobre o voo. Enquanto pegávamos as malas, minha mãe não aguentou.

𝐒𝐨́ 𝐄𝐬𝐜𝐮𝐭𝐞... • 𝐋𝐢𝐳𝐤𝐨𝐨𝐤Onde histórias criam vida. Descubra agora