𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 - 𝟐𝟎 • 𝐄𝐩𝐢𝐥𝐨𝐠𝐨

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Coloquei os fones e olhei para Rolly. Quando ele fez um sinal de positivo, me aproximei do microfone.

— São dez para as oito e você está ouvindo sua rádio comunitária, a WRUS. Se está procurando por Gerenciamento de Raiva, o programa estará de volta em — olhei para o bloco de anotações, onde, em cima da minha lista de músicas, havia um número dois grande, seguido por um ponto de exclamação — duas semanas. Enquanto isso, sou Lalisa, e este é o Sei Bem Como É. Agora vamos ouvir The Clash.

Fiquei com os fones, olhando para o Rolly até que as primeiras notas de "Rebel Waltz" soaram. Finalmente soltei o ar que parecia que estava segurando desde sempre, então a caixa de som no teto estalou e ouvi a voz da Sana.

— Muito bom — ela disse. — Você quase não parecia nervosa.

— Mas ainda parecia — eu disse.

— Você está indo muito bem — Rolly disse. — Não sei por que está tão preocupada. Não é como desfilar de roupa de banho na frente das pessoas. — Sana virou para ele, com cara feia. — O quê? — ele perguntou. — É verdade!

— Isso é mais difícil — eu disse, tirando os fones. — Muito mais difícil.

— Por quê? — ele perguntou.

Dei de ombros.

— Não sei — respondi. — É mais real. Mais pessoal.

E era. Eu tinha ficado aterrorizada quando Jung-kook pedira que eu o substituísse, porque sua mãe decidira que tirar o programa de rádio dele era o único castigo possível para o que ele tinha feito com Will Cash. Quando ele me convenceu de que Rolly (e Sana) estaria lá para me ajudar com as coisas técnicas e garantir que eu cumprisse o horário todas as semanas, concordei em tentar pelo menos uma vez. Isso tinha sido quatro semanas antes e, embora ainda estivesse nervosa, também estava me divertindo. Tanto que Rolly já me enchia o saco para que eu fizesse o curso preparatório da rádio e me inscrevesse para ter meu próprio programa, embora eu não estivesse pronta. Mas nunca diga nunca.

Jung-kook ainda estava envolvido com o programa, claro. Quando comecei a substituí-lo, ele insistiu que eu mantivesse sua lista, ainda que aquilo significasse obrigar as pessoas a ouvir músicas que eu odiava. Depois da primeira semana, no entanto (quando percebeu que não conseguiria me impedir), ele cedeu, e comecei a tocar minhas próprias músicas de vez em quando. Era muito bom poder oferecer algo ao mundo — uma música, umaapresentação, minha voz — e deixar que interpretassem como quisessem. Eu não precisava me preocupar com minha aparência ou com a compatibilidade entre a imagem que as pessoas faziam de mim com quem eu era. A música falava por si só e por mim, e depois de tanto tempo sendo observada e estudada, descobri que gostava daquilo. E muito.

Rolly bateu no vidro entre nós, então fez sinal para que eu deixasse a próxima música pronta para tocar. Era um single da Jenny Reef, para Dahyun — minha primeira fã de verdade —, que colocava o despertador para tocar toda semana para que pudesse ligar e pedir uma música. Esperei que a música do Clash terminasse antes de apertar o botão e liberar as batidas dançantes (uma sequência que eu sabia que ia irritar Jung-kook, que por vários motivos insistia em ouvir ao programa no carro, sozinho). Quando a música começou, virei na cadeira, olhando para a fileira de fotos que tinha organizado ao lado do monitor. Antes do primeiro programa, estava tão nervosa que tratei de reunir tudo o que pudesse me inspirar: a foto da Dahyun com o boá emoldurando seu rosto, para me lembrar de que pelo menos uma pessoa estaria ouvindo; a que Jung-kook tinha tirado de mim, para que não esquecesse que tudo bem se ela fosse a única; e mais uma.

Era uma foto minha com minhas irmãs, tirada no Ano-Novo. Ao contrário da que ficava na entrada da nossa casa, não era profissional, não tinha um fundo artístico. Estávamos todas em pé na frente do balcão central da cozinha conversando não lembro sobre o que quando o namorado da Kirsten, Brian — como as aulas tinham terminado, eles puderam tornar o relacionamento público —, nos chamou e tirou a foto. Não era uma foto boa, tecnicamente falando. Dava para ver o reflexo do flash na janela atrás de nós, minha mãe estava com a boca aberta e Whitney dava risada. Mas eu tinha amado, porque mostrava como realmente estávamos naquele momento. E, o mais importante de tudo: não havia ninguém no meio.

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⏰ Última atualização: Jun 23, 2021 ⏰

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𝐒𝐨́ 𝐄𝐬𝐜𝐮𝐭𝐞... • 𝐋𝐢𝐳𝐤𝐨𝐨𝐤Onde histórias criam vida. Descubra agora