𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 - 𝟏𝟖

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— Você está ouvindo a WRUS, sua rádio comunitária. São sete e cinquenta e oito e esta é a última música do Gerenciamento de Raiva.

Houve um som metálico, seguido por microfonia. Algo experimental, diferente e quase incompreensível. Apenas mais um domingo no programa de Jung-kook.

Não era, no entanto, apenas mais um domingo para mim. Em algum momento depois de ter colocado os fones na noite anterior, alguma coisa mudara. Fiquei deitada muito tempo, me permitindo repetir os passos daquela noite na festa. Me entreguei ao silêncio, com a voz na minha cabeça finalmente esgotada. Quando acordei, às sete, ainda estava com os fones e meu coração ressoava em meus ouvidos. Sentei, tirei os fones e o silêncio à minha volta não pareceu vazio e vasto, o que foi uma surpresa. Pela primeira vez, pareceu já estar completo.

Liguei o rádio e o programa tinha acabado de começar com alguém gritando ao som de guitarras pesadas, em uma explosão de metal clássico. Depois do que pareceu pop russo, Jung-kook finalmente falou.

— Este é o Gerenciamento de Raiva e você acabou de ouvir Leningrad. Meu nome é Jung-kook, são sete e seis, e obrigado por estar com a gente. Tem um pedido? Uma sugestão?

Críticas? Ligue para 555-WRUS. Agora, vamos de Dominic Waverly. Era uma música eletrônica que começava com várias batidas parecendo fora de sincronia que depois de um tempo se misturavam. Todos os outros domingos eu tinha escutado o programa com bastante atenção, querendo gostar do que estava ouvindo ou pelo menos entender. Eu nunca hesitava em contar a Jung-kook quando não gostava. Se simplesmente conseguisse contar todo o resto... Mas nem sempre se consegue o momento perfeito. Às vezes, é preciso fazer o melhor possível considerando as circunstâncias.

Por isso fui para o carro e dirigi em direção à WRUS. Eram oito e dois quando cheguei ao estacionamento da rádio. Prescrição Herbácea, o programa que ia ao ar em seguida, estava começando. Estacionei entre os carros de Jung-kook e Rolly, peguei o CD que estava no banco do passageiro e entrei.

A rádio estava silenciosa. Uma voz murmurava sobre Ginkgo biloba quando atravessei o saguão. À minha direita, no fim do corredor, vi a cabine. Quando me aproximei, primeiro vi Rolly na mesa de som em uma salinha ao lado da cabine; ele estava com uma camiseta verde-clara e um boné de beisebol virado para trás, com os fones por cima. Sana estava ao lado dele, bebendo café em um copo para viagem, com as palavras cruzadas de domingo à sua frente. Eles conversavam, e nenhum dos dois percebeu minha chegada. Quando virei para a cabine principal, Jung-kook estava olhando diretamente para mim.

Ele estava sentado ao microfone, com vários CDs espalhados à sua frente. Pela cara que fez, não estava feliz em me ver. Foi pior do que aquele dia no estacionamento. O que tornava ainda mais crucial que eu abrisse a porta e entrasse. Então fiz aquilo.

— Oi — cumprimentei.

Ele me encarou por um instante.

— Oi — finalmente respondeu, com a voz murcha.

Ouvi um zumbido, então a voz de Rolly soou.

— Lalisa! — ele disse, o tom animado em contraste com a mera tolerância de Jung-kook. — E aí? Como vão as coisas?

Olhei para ele, levantando a mão e acenando. Rolly acenou de volta, assim como Sana. Ele estava se aproximando do microfone para dizer mais alguma coisa quando olhou para Jung-kook, que o encarava, e se afastou devagar, decidindo não fazê-lo. Ouvi um clique e o microfone desligou.

— O que você está fazendo aqui? — Jung-kook perguntou.

Claro que ele ia perguntar.

— Preciso conversar com você — respondi.

𝐒𝐨́ 𝐄𝐬𝐜𝐮𝐭𝐞... • 𝐋𝐢𝐳𝐤𝐨𝐨𝐤Onde histórias criam vida. Descubra agora