𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 - 𝟏𝟐

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Minha mãe voltou das primeiras férias em um ano descansada, com as unhas feitas e rejuvenescida. O que teria sido ótimo, se sua energia recém-descoberta não tivesse sido direcionada para a coisa em que eu menos queria ter que pensar, mas não podia evitar: o desfile de outono da Lakeview Models.

— Você precisa ir à Kopf hoje provar as roupas e amanhã para o ensaio — ela me disse enquanto eu cutucava o café da manhã com o garfo. — O último ensaio é na sexta. Quinta tem cabeleireiro e sábado cedo, manicure. Tudo bem?

Depois de um fim de semana inteiro só para mim, sem contar os meses anteriores com poucos compromissos de trabalho, não estava tudo bem. Parecia péssimo. Mas eu não disse nada. Por mais que temesse a semana e o desfile, pelo menos tinha algo para esperar ansiosamente: ir à Bendo Jung-kook.

— Sabe, algo me ocorreu nesse fim de semana — minha mãe continuou. — O pessoal da Kopf deve estar para selecionar modelos para a campanha de primavera. Esse desfile é uma ótima oportunidade para que eles vejam você pessoalmente.

Ao ouvir isso, senti uma pontada de pavor, pois sabia que devia dizer a ela que não queria mais ser modelo. Então me lembrei de quando Owen e eu ensaiamos essa cena e de como, por mais que fosse só uma brincadeira, eu não tinha conseguido dizer nada. Minha mãe estava na minha frente, tomando café, e eu sabia que era o momento perfeito. Metaforicamente, ela tinha derrubado o casaco, e eu podia simplesmente pegá-lo. Mas, como Rolly, fiquei paralisada. E em silêncio. Depois eu digo, pensei. Depois do desfile.

Ao mesmo tempo que eu estaria atravessando uma passarela no shopping desfilando roupas de inverno, minha irmã Kirsten estaria diante de uma multidão por um motivo diferente. No dia anterior, ela finalmente tinha mandado o curta por e-mail, conforme prometera. Como eu estava acostumada com Kirsten explicando — em demasia — tudo o que fazia, a mensagem que enviou com o arquivo me pegou de surpresa.

Aqui está, Lalisa. Me diga o que achou. Beijos, K.

No início, fiquei procurando pelo restante em todo o corpo do e-mail — assim como por telefone, minha irmã também costumava ser verborrágica por e-mail. Mas era só aquilo.

Cliquei para baixar o arquivo e fiquei vendo os quadradinhos azuis preencherem a tela. Quando o download terminou, dei o play.

A primeira tomada era de grama. Grama bem verde e bonita, como a do campo de golfe do outro lado da rua, ou seja, cheia de produtos químicos, enchendo a tela. Então a câmera se afastou e se afastou, até mostrar o quintal em frente a uma casa branca com belos detalhes azuis. Duas figuras passaram de bicicleta, como um borrão.

Depois de um corte, duas garotinhas vinham na direção da câmera. A loira parecia ter uns treze anos; a morena, mais magra e mais nova, a seguia.

De repente, a loira olhou para trás e começou a pedalar mais rápido, se afastando ainda mais. A câmera cortava de uma imagem para outra: ela pedalando, seu cabelo voando ao vento, um cachorro dormindo na calçada, um homem pegando o jornal, o céu azul, um canteiro de flores. Conforme ela acelerava, as imagens passavam cada vez mais rápido, se repetindo, até que a câmera cortou para a estrada à frente, que terminava em um T. Ela freou até parar e virou para trás. À distância, só dava para ver uma bicicleta caída no meio da rua, com a roda ainda girando, a outra garota ao lado, segurando o braço.

A próxima cena era da loira parando ao lado dela.

— O que aconteceu? — ela perguntou.

A mais nova balançou a cabeça.

— Não sei — disse.

A loira empurrou a bicicleta para mais perto dela.

— Aqui — disse. — Suba.

𝐒𝐨́ 𝐄𝐬𝐜𝐮𝐭𝐞... • 𝐋𝐢𝐳𝐤𝐨𝐨𝐤Onde histórias criam vida. Descubra agora