𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 - 𝟎𝟖

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A primeira coisa que Jung-kook fez ao entrar no carro foi bater a cabeça no teto — que até aquele momento eu não tinha percebido que era tão baixo.

— Ai — ele disse, esfregando a testa enquanto batia o joelho no painel. — Cara, como esse carro é pequeno.

— É? — perguntei. — Nunca tinha reparado, e tenho um e setenta e dois de altura.

— Você acha muito?

— Achava — respondi, olhando para ele.

— Bom, tenho um e noventa e três — ele disse, tentando empurrar o banco, que já estava afastado ao máximo, para mais longe do painel. Então levantou o braço e tentou apoiá-lo na janela, mas não cabia. Ele ainda tentou cruzar os braços, antes de finalmente posicioná-los ao lado do corpo. — Acho que é relativo.

— Tudo bem aí? — perguntei.

— Tudo — ele disse, sem parecer se importar, como se aquele tipo de coisa acontecesse o tempo todo. — Obrigado pela carona.

— Sem problemas — respondi. — Para onde está indo?

— Para casa. — Ele mexeu o braço de novo, ainda tentando se ajeitar no banco. — É só seguir reto. Não vamos virar por um tempo.

Ficamos em silêncio por alguns minutos. Eu sabia que era hora de dizer o que estava pensando, de me explicar. Respirei fundo para me preparar.

— Como você aguenta? — ele perguntou.

Pisquei, sem entender.

— Oi?

Ele continuou.

— Esse silêncio. Esse vazio.

— Do que está falando?

— Disso — ele respondeu, gesticulando. — Dirigir sem música.

— Bom — respondi devagar —, para ser sincera, nem tinha percebido.

Ele se recostou, batendo a cabeça no banco.

— Para mim, esse silêncio é estrondoso.

Aquela frase era muito profunda ou muito contraditória, eu não tinha certeza.

— Bom — eu disse —, meus CDs estão aqui, se você...

Mas Jung-kook já estava abrindo o compartimento entre nós e tirando uma pilha deles. Quando começou a examinar as capas, olhei para ele. De repente fiquei nervosa.

— Não são meus preferidos — eu disse. — São os que eu tenho aqui agora.

— Hum — ele disse, sem levantar a cabeça. Voltei a olhar para a rua, ouvindo as caixas batendo enquanto ele escolhia um. — Drake Peyton, Drake Peyton... Então você gosta desse rock certinho meio hippie?

— Acho que sim — respondi. Aquilo não devia ser bom. — Vi ao vivo no penúltimo verão.

— Hum — ele disse de novo. — Mais Drake Peyton... e Alamance. É country alternativo, né?

— É.

— Interessante — ele disse. — Porque eu não imaginava que você... Tiny? É o álbum mais recente?

— Comprei nas férias — respondi, parando em um farol fechado.

— Então é. — Ele balançou a cabeça. — Quer saber? Preciso admitir que estou surpreso. Jamais teria imaginado que você era fã de Tiny. De rap em geral, para falar a verdade.

— Por que não?

Ele deu de ombros.

— Não sei. Acho que imaginei errado. Quem gravou isso aqui pra você?

𝐒𝐨́ 𝐄𝐬𝐜𝐮𝐭𝐞... • 𝐋𝐢𝐳𝐤𝐨𝐨𝐤Onde histórias criam vida. Descubra agora