𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 - 𝟎𝟗

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A Bela e a Fera. Shrek e Fiona. O moinho da fofoca estava à toda. Nas semanas que se seguiram, inventaram vários nomes para o que quer que eu e Jung-kook estivéssemos fazendo todos os dias no muro na hora do almoço. Para mim, era mais difícil definir. Não estávamos juntos, mas não éramos estranhos. Como quase tudo na vida, estávamos em algum lugar no meio do caminho.

De qualquer forma, algumas coisas agora estavam subentendidas. Primeiro, que sentaríamos juntos. Segundo, que eu sempre encheria o saco dele por não comer nada — ele confessou que sempre gastava o dinheiro do almoço com música — antes de dividir o que quer que eu tivesse trazido. Terceiro, que brigaríamos. Não, não brigaríamos exatamente. Discutiríamos.

No início, era só sobre música, o assunto preferido de Jung-kook  e o que ele levava mais a sério. Quando eu concordava com ele, Jung-kook  me considerava brilhante e iluminada. Quando discordava, tinha o pior gosto do mundo. Normalmente, as conversas mais agitadas aconteciam no início da semana, quando discutíamos o programa dele, que agora eu ouvia todos os domingos. Era difícil acreditar que um dia tivesse ficado tão nervosa de dizer o que tinha achado. Agora, saia naturalmente.

— Você só pode estar brincando! — ele disse uma segunda-feira, balançando a cabeça. — Não gostou do Baby Bejesuses?

— Aquela que era só um telefone discando?

— Não era só um telefone discando — ele respondeu, indignado. — Tinha outros sons também.

— Como o quê?

Jung-kook  ficou me encarando por um tempo, segurando metade do meu sanduíche de peru.

— Como... — Ele deu uma mordida, para enrolar. Depois de mastigar e engolir lentamente, disse: — Os caras inovaram o gênero.

— Pra isso eles teriam que compor uma música usando outras coisas além de um telefone.

— Isso — ele disse, apontando para mim com o sanduíche — é Ling-In. Cuidado.

Ling-In significava Linguagem Inflamatória. Como o R e R e as muletas, já fazia parte do meu vocabulário diário. Era só passar um tempo com Jung-kook  para ter um curso de gerenciamento de raiva grátis.

— Olha só, você sabe que não gosto de música eletrônica — eu disse. — Então, talvez devesse parar de pedir minha opinião sobre o assunto.

— Você está generalizando! — ele respondeu. — Como pode excluir um gênero musical inteiro? Está tirando conclusões precipitadas.

— Não, não estou — respondi.

— O que está fazendo, então?

— Sendo sincera.

Ele ficou me observando por um tempo. Então respirou fundo e deu mais uma mordida no sanduíche.

— Tá bom — disse, mastigando. — Vamos em frente. O que achou do thrash metal do Lipswitches?

— Muito barulhento.

— É pra ser barulhento! É thrash metal!

— Eu não ia me incomodar com o barulho se a música tivesse outras qualidades. Mas é só alguém gritando o máximo que pode.

Ele lançou o último pedaço de pão na boca.

— Então nada de música eletrônica e nada de thrash metal — Jung-kook  disse. — O que sobra?

— Todo o resto? — respondi.

— Todo o resto — ele repetiu devagar, ainda não convencido. — Tá bom. E a última música que eu toquei, a do metalofone?

𝐒𝐨́ 𝐄𝐬𝐜𝐮𝐭𝐞... • 𝐋𝐢𝐳𝐤𝐨𝐨𝐤Onde histórias criam vida. Descubra agora