𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 - 𝟏𝟑

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— Sophie!

Era a festa de fim do ano letivo, e eu estava atrasada. A voz de Momo, dizendo aquilo foi a primeira coisa que ouvi ao entrar.

Na hora, não consegui encontrá-la — a entrada estava cheia de gente, assim como a escada —, mas logo ela surgiu, com uma cerveja em cada mão. Ao me ver, sorriu.

— Ah, você está aí — disse. — Por que demorou tanto?

A imagem da minha mãe uma hora antes me veio à cabeça, seus olhos arregalados ao ver Whitney afastar a cadeira para depois lançá-la contra a mesa, fazendo todos os pratos pularem. Daquela vez, o problema fora o frango, especificamente a metade de peito que meu pai tinha colocado no prato dela. Depois de cortá-lo em quatro, então em oito, então em quase impossíveis dezesseis pedaços, ela empurrara tudo para o lado antes de começar a comer a salada, mastigando cada garfada de alface durante o que pareciam eras. Todos agimos como se não estivéssemos vendo aquilo, como se nem tivéssemos percebido, e continuamos conversando sobre o tempo. Alguns minutos depois, Whitney jogou o guardanapo sobre o prato, cobrindo o frango como se fosse um mágico e pudesse fazê-lo desaparecer. Não dera certo. Meu pai dissera a Whitney que terminasse de comer, e ela explodira.

Àquela altura, já deveríamos estar acostumados ao drama da hora do jantar — ela tinha saído do hospital havia alguns meses e aquilo havia virado rotina —, mas às vezes a intensidade e a violência dos seus ataques nos pegavam de surpresa. Principalmente minha mãe, que sempre parecia encarar cada sílaba mais alta, cada batida, estrondo ou suspiro sarcástico como ofensas pessoais. Então eu ficara em pé na cozinha depois do jantar enquanto ela lavava a louça. Dava para ver o rosto da minha mãe refletido na janela sobre a pia. Eu a vigiara com atenção, como sempre fazia quando minha mãe ficava chateada, preocupada com a possibilidade de surgir algo além de suas feições que poderia reconhecer.

— Acabei me enrolando em casa — respondi a Momo. — O que perdi?

— Nada de mais — ela disse. — Você viu Sophie?

Observei ao redor, para além do amontoado de gente ao nosso lado e para a sala, onde a encontrei sentada em um sofá perto da janela, parecendo entediada.

— Por aqui — eu disse a Momo, pegando uma das cervejas enquanto atravessávamos a multidão até o sofá. — Ei — gritei mais alto do que a TV que ficava ali perto. — O que aconteceu?

— Nada — Sophie respondeu com um tom de voz monótono. Então fez um gesto em direção à cerveja. — É pra mim?

— Talvez — respondi. Ela fez uma careta e eu entreguei a bebida, então sentei enquanto Sophie bebia um gole, manchando a borda do copo de batom.

— Amei sua blusa, Lisa — Momo disse. — É nova?

— É. — Levantei e passei a mão sobre a camurça rosa da blusa que minha mãe e eu tínhamos encontrado na Tosca no dia anterior. Tinha sido cara, mas valeria a pena, porque eu usaria durante todo o verão. — Comprei ontem.

Sophie bufou alto, balançando a cabeça.

— Esta é oficialmente a pior festa de fim das aulas do mundo — anunciou.

— São só oito e meia — eu disse, observando ao redor. Um casal estava se pegando em uma poltrona ali perto. Um grupo jogava cartas na mesa de jantar. A música vinha de algum outro lugar, provavelmente dos fundos, o baixo fazendo o chão tremer sob nossos pés. — As coisas podem melhorar.

Ela tomou outro gole de cerveja.

— Duvido. Se esta festa for um termômetro, este vai ser o pior verão de todos.

𝐒𝐨́ 𝐄𝐬𝐜𝐮𝐭𝐞... • 𝐋𝐢𝐳𝐤𝐨𝐨𝐤Onde histórias criam vida. Descubra agora