𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 - 𝟎𝟓

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Jeon Jung-kook parecia um gigante, com a mão enorme estendida na minha direção. De alguma forma, estendi a minha também, e de repente ele entrelaçou os dedos nos meus e me ajudou a ficar em pé. Me mantive firme por mais ou menos um segundo, até ficar tonta de novo e cambalear.

— Opa — ele disse, estendendo as mãos para me segurar. — Espera. É melhor você sentar.

Ele me fez dar dois passos para trás, então senti os tijolos gelados do prédio atrás de mim. Escorreguei pela parede devagar, até sentar na grama. Daquela posição, Jung-kook parecia ainda maior.

De repente, ele largou a mochila. Ela caiu no chão com um som surdo, então Jung-kook se abaixou e começou a procurar alguma coisa lá dentro. Ouvi objetos batendo uns nos outros enquanto eram remexidos e me ocorreu que talvez devesse ficar preocupada. Finalmente, ele parou de procurar. Observei apreensiva sua mão saindo da mochila, devagar, com... um pacote de lenços. Um pacote pequeno, dobrado e amassado, que ele pressionou contra o peito — o peito enorme, meu Deus —, desamassando antes de tirar um e me oferecer. Aceitei como tinha aceitado a mão estendida — com desconfiança e muito cuidado.

— Pode ficar com tudo se quiser — ele disse.

— Não precisa. — Minha voz saiu rouca. — Só um já está bom. — Pressionei o lenço contra a boca, respirando fundo através dele. Jung-kook deixou o pacote ao lado do meu pé mesmo assim. — Obrigada.

— De nada.

Ele sentou na grama ao lado da mochila. Como tinha ido à revisão para a prova na hora do almoço, não o havia visto o dia todo, mas Jung-kook parecia o mesmo de sempre: calça jeans, camiseta gasta na bainha, coturno preto de sola grossa, fones de ouvido. De perto — mais perto —, percebi que tinha algumas sardas no rosto e que seus olhos eram verdes, não castanhos. Então ouvi vozes vindas do pátio; pareciam flutuar sobre nossas cabeças.

— Então... é... você está bem? — ele perguntou.

Fiz que sim com a cabeça e dei uma resposta instantânea.

— Sim. Só fiquei enjoada de repente, não sei...

— Eu vi o que aconteceu — ele disse.

— Ah — comecei. Senti meu rosto ficar vermelho. Eu ia tentar esconder. — É. Aquilo foi... péssimo.

Ele deu de ombros.

— Poderia ter sido pior.

— Você acha?

— Claro. — A voz dele não era retumbante como eu imaginava, mas baixa e uniforme. Quase suave. — Você poderia ter dado um soco nela.

Assenti.

— É — respondi. — Acho que sim.

— Foi bom que não fez isso. Não teria valido a pena.

— Não? — perguntei. Para ser sincera, nem tinha considerado o soco.

— Não. Mesmo que a sensação fosse ser boa na hora — ele respondeu. — Confie em mim.

O mais estranho de tudo era que eu confiava. Olhei para o pacote de lenços que ele tinha me oferecido e peguei mais um. Então, ouvi um zumbido vindo da minha bolsa. Meu celular.

Peguei e vi quem estava ligando. Era minha mãe, e refleti por um segundo se devia atender. Já era bem estranho estar sentada ali com Jung-kook sem aquela ligação. Mas também não era como se eu tivesse algo a perder àquela altura, considerando que ele já tinha me visto vomitar — duas vezes, aliás — e perder o controle na frente de metade dos alunos do colégio. Estávamos além das formalidades. Então atendi.

𝐒𝐨́ 𝐄𝐬𝐜𝐮𝐭𝐞... • 𝐋𝐢𝐳𝐤𝐨𝐨𝐤Onde histórias criam vida. Descubra agora